AMBIENTE

Papa Francisco pede comprometimento dos católicos com a Amazônia

Pontífice defendeu direitos dos pobres, preservação ambiental e cultural e comprometimento “generoso” da igreja com a região ao apresentar seu texto final sobre o Sínodo
Por Marcelo Menna Barreto / Publicado em 12 de fevereiro de 2020
Sem citar Bolsonaro, o papa qualificou o desmonte da agenda ambiental, a exploração mineral de terras indígenas e a legalização do garimpo como "injustiça e crime"

Foto: Vatican News/ Divulgação

Sem citar Bolsonaro, o papa qualificou o desmonte da agenda ambiental, a exploração mineral de terras indígenas e a legalização do garimpo como “injustiça e crime”

Foto: Vatican News/ Divulgação

Que a Amazônia lute pelo direito dos pobres, preserve suas riquezas culturais e naturais e que a igreja seja capaz de ter um comprometimento generoso e forte ao atuar na região. O Papa Francisco praticamente resumiu assim, com seus quatro “sonhos”, sua nova Exortação Apostólica divulgada na manhã deste 12 de fevereiro, no Vaticano. A possibilidade de ordenação de homens casados para atuar na região, uma das propostas do relatório final do Sínodo, foi rejeitada pelo papa.

Batizada de “Querida Amazônia”, a exortação desta quarta-feira reflete a posição oficial da Igreja Católica após a Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a Região Amazônica, realizada entre os dias 6 e 27 de outubro passado no Vaticano. Como costuma fazer, Francisco aproveitou uma data importante para enfatizar sua manifestação: tornou púbica sua reflexão no dia que marca os 15 anos do assassinato da irmã Dorothy Stang.

No dia da publicação da Exortação pós-sinodal sobre a Amazônia, o jornal L'Osservatore Romano recordou na edição desta quarta-feira a irmã Dorothy Mae Stang, assassinada em 2005 por pistoleiros

Foto: Reprodução

No dia da publicação da Exortação pós-sinodal sobre a Amazônia, o jornal L’Osservatore Romano recordou na edição desta quarta-feira a irmã Dorothy Mae Stang, assassinada em 2005 por pistoleiros

Foto: Reprodução

No final do sínodo, em outubro, um documento de 33 páginas foi elaborado para ser submetido ao pontífice, com propostas como a possibilidade de ordenação de homens casados para atuar na Amazônia, proposta que foi rejeitada pelo Papa, e ainda o estabelecimento do “pecado ecológico”, a criação de um “observatório pastoral socioambiental” e o destaque para a importância do respeito à religiosidade não cristã indígena. Por falta de consenso, a possibilidade de ordenação de mulheres para o diaconato acabou não entrando no relatório e o tema continuará em discutição na igreja por uma comissão específica.

O diaconato é o primeiro grau do sacramento da Ordem na Igreja Católica Apostólica Romana. Ele permite ao seu detentor, não sacerdote, a realização de celebrações da Palavra, homilias e pregações, batismos e casamentos.

A ordenação dos chamados Viri Probati, homens casados, de fé comprovada, recomendado no documento final do Sínodo da Amazônia, gerou uma grande reação dos conservadores que viam risco para a tradição do celibato dos padres. Temendo que a proposta para a Amazônia estimulasse outras regiões do mundo com falta de padres pleiteassem o mesmo direito, os conservadores chegaram usar termos como heresia para a proposição que foi uma demanda dos próprios fiéis que vivem na região amazônica.

A expectativa dos participantes do Sínodo era com a medida aumentar a presença da igreja em áreas remotas, onde sacerdotes só conseguem visitar poucas se fazer presentes poucas vezes por ano. Também seria uma forma de confrontar a crescente presença de igrejas pentecostais na região.

Diante da oposição Francisco optou em não o considerar a possibilidade de ordenação de homens casados no momento. O Papa defende em sua exortação que novos caminhos sejam encontrados para estimular padres a trabalhar em regiões remotas e permitiu que os diáconos possam assumir mais funções como o comando de paróquias.

De fato, na época, o tema Viri Probati foi o mais controvertido e teve o mais baixo número de votos dos 120 parágrafos, aprovados individualmente.

Em Coletiva de imprensa realizada no final dessa manhã na Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), o Cardeal Claudio Hummes que foi o relator do sínodo e é o presidente da Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM) disse que a discussão sobre ordenação de homens casados certamente será retomada por Francisco, “junto a suas instâncias no Vaticano”.

Para o presidente da CNBB, dom Walmor Oliveira de Azevedo, a notícia hoje da não possibilidade de ordenação de homens como sacerdotes e até mesmo a polêmica da criação de diaconisas esconde o fato de que o Papa “determinou um estudo para a elaboração de um documento sobre os ministérios ordenados”. Dom Walmor ressalta, ao lembrar que o atual regramento tem mais de 50 anos: “não se trata apenas de mudar uma coisa ou outra, mas o conjunto”.

Na opinião do cardeal Dom Cláudio Hummes, Francisco que no processo de preparação do Sínodo da Amazônia sempre disse que é importante ouvir quem vive na região, está muito atento. O importante, diz o cardeal, “É não deixar o processo parar, dizer que o processo terminou”, enfatiza ao lembrar que o Papa deixou claro que “vamos continuar a caminhada”.

INJUSTIÇA E CRIME – A exortação apostólica pós-sinodal, Querida Amazônia, destaca que a região “apresenta-se aos olhos do mundo com todo o seu esplendor, o seu drama e o seu mistério”. Sem citar as políticas de Bolsonaro nem fazer referência ao presidente, ao apresentar o documento, Francisco classificou como “injustiça e crime” o desmonte da agenda ambiental, como a exploração mineral de terras indígenas e a legalização do garimpo – uma das obsessões de Bolsonaro.

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