Covid-19: meio ambiente paga a conta da cultura do descarte
Foto: OceanAsia.org
A pandemia forçou um aumento brutal na produção de Equipamentos de Proteção Individuais (EPIs) para profissionais da saúde e população em geral. Se os apelos da Organização Mundial da Saúde (OMS) e governos forçaram a demanda para reduzir a disseminação da Covid-19, agora um efeito colateral passa a preocupar: o descarte do material pode causar um grande impacto ambiental.
Em entrevista para o Financial Times, Sian Sutherland, do A Plastic Planet, grupo sem fins lucrativos que busca conscientizar o mundo dos efeitos danosos do material ao meio ambiente, é categórico: “O EPI é a ponta de uma montanha de lixo plástico tóxico que estamos ignorando há anos”.
A preocupação de Sutherland faz sentido. Grande parte dos EPIs de saúde usada no mundo é descartável e contém uma gama de plásticos diferentes. Vão de polipropileno e polietileno em máscaras faciais e aventais a nitrilo, vinil e látex em luvas.
Foto: Operação Mar Limpo/ Reprodução
No caso das máscaras, relatório da World Wide Fund for Nature (WWF) aponta que se apenas 1% forem descartadas incorretamente, cerca de 10 milhões acabarão no ambiente natural por mês, poluindo rios e oceanos.
Estudo publicado na quinta-feira, 23, é ainda mais alarmante. Relatório do SystemIQ, fundo de investimentos inglês focado em sustentabilidade, prevê que o acúmulo de plásticos nos oceanos pode triplicar em aproximadamente 29 milhões de toneladas ao ano até 2040 caso medidas fortes deixem de ser implementadas por governos e indústrias.
Cultura do descarte
Até a década de 1980, quase todos os EPIs médicos eram reutilizáveis. Entre uma série de argumentos como praticidade e maior segurança para os profissionais da saúde, a indústria desses insumos encontrou um potencial para aumentar a sua lucratividade: produtos descartáveis, de uso único.
Se o chamado lixo hospitalar é incinerado, o mesmo não é garantido para os EPIs utilizados para a proteção de não profissionais. O que momentaneamente serve para evitar o contágio do novo coronavírus em um cidadão comum pode acabar descartado em lixeiras convencionais ou, pior, ao ar livre.