AMBIENTE

Covid-19: meio ambiente paga a conta da cultura do descarte

Equipamentos de Proteção Individual descartados incorretamente podem triplicar o acúmulo de plásticos nos oceanos em até 29 milhões de toneladas até o ano 2040
Por Marcelo Menna Barreto / Publicado em 24 de julho de 2020
Expedição da ONG Ocean Asia nas ilhas Soko, na costa de Hong Kong, recolheu milhares de máscaras do mar

Expedição da ONG Ocean Asia nas ilhas Soko, na costa de Hong Kong, recolheu milhares de máscaras do mar

Foto: OceanAsia.org

A pandemia forçou um aumento brutal na produção de Equipamentos de Proteção Individuais (EPIs) para profissionais da saúde e população em geral. Se os apelos da Organização Mundial da Saúde (OMS) e governos forçaram a demanda para reduzir a disseminação da Covid-19, agora um efeito colateral passa a preocupar: o descarte do material pode causar um grande impacto ambiental.

Em entrevista para o Financial Times, Sian Sutherland, do A Plastic Planet, grupo sem fins lucrativos que busca conscientizar o mundo dos efeitos danosos do material ao meio ambiente, é categórico: “O EPI é a ponta de uma montanha de lixo plástico tóxico que estamos ignorando há anos”.

A preocupação de Sutherland faz sentido. Grande parte dos EPIs de saúde usada no mundo é descartável e contém uma gama de plásticos diferentes. Vão de polipropileno e polietileno em máscaras faciais e aventais a nitrilo, vinil e látex em luvas.

Mergulhador da ONG francesa Operação Mar Limpo, que identificou o fenômeno como "nova poluição"

Mergulhador da ONG francesa Operação Mar Limpo, que identificou o fenômeno como “nova poluição”

Foto: Operação Mar Limpo/ Reprodução

No caso das máscaras, relatório da World Wide Fund for Nature (WWF) aponta que se apenas 1% forem descartadas incorretamente, cerca de 10 milhões acabarão no ambiente natural por mês, poluindo rios e oceanos.

Estudo publicado na quinta-feira, 23, é ainda mais alarmante. Relatório do SystemIQ, fundo de investimentos inglês focado em sustentabilidade, prevê que o acúmulo de plásticos nos oceanos pode triplicar em aproximadamente 29 milhões de toneladas ao ano até 2040 caso medidas fortes deixem de ser implementadas por governos e indústrias.

Cultura do descarte

Até a década de 1980, quase todos os EPIs médicos eram reutilizáveis. Entre uma série de argumentos como praticidade e maior segurança para os profissionais da saúde, a indústria desses insumos encontrou um potencial para aumentar a sua lucratividade: produtos descartáveis, ​​de uso único.

Se o chamado lixo hospitalar é incinerado, o mesmo não é garantido para os EPIs utilizados para a proteção de não profissionais. O que momentaneamente serve para evitar o contágio do novo coronavírus em um cidadão comum pode acabar descartado em lixeiras convencionais ou, pior, ao ar livre.

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