Pulverização de agrotóxico atinge produções agroecológicas de Nova Santa Rita
Foto: Alexandre Adair/ MST
O Assentamento Santa Rita de Cássia II, do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), em Nova Santa Rita, na região Metropolitana de Porto Alegre, vem sofrendo prejuízos constantes em suas produções agroecológicas devido ao uso indiscriminado de agrotóxico nas lavouras de arroz convencional próximas. O assentamento faz divisa com a Granja Nenê, que de acordo com denúncia do movimento, utiliza a pulverização com agrotóxico em suas lavouras. Em 2010, a Justiça Federal impediu o Incra de promover a reforma agrária na Granja Nenê, que à época era uma área improdutiva e foi alvo de invasão do MST em 2008.
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De acordo com o MST, nos dias 11 e 12 de novembro, 20 das 100 famílias assentadas perderam seus alimentos orgânicos após um avião utilizado para fumigação de insumos químicos sobrevoar casas, hortas, aquíferos, pastagens, pomares de árvores frutíferas e vegetação nativa.
Segundo Graciela Almeida, assentada e produtora agroecológica, além disso, os próprios camponeses começaram a passar mal em decorrência dessa pulverização. “Estamos indignados com o acontecido, porque seja intencional ou não, o fato é que tivemos prejuízos na saúde, na produção, no ambiente, na vida dessas famílias”, destaca a sem-terra.
Os ataques aos assentamentos da reforma agrária são constantes. Em maio deste ano, os agricultores Adão do Prado, 59 anos, e Airton Luis Rodrigues da Silva, 56, foram assassinados por pistoleiros que invadiram o Assentamento Santa Rita de Cássia II.
Denúncia de crime ambiental
As famílias relatam que a pulverização de agrotóxicos já ocorreu em anos anteriores, os assentados denunciaram, mas nenhuma medida foi tomada por parte das autoridades. Logo após a contaminação, foi registrado Boletim de Ocorrência junto à Polícia Civil, Secretaria de Meio Ambiente, Agricultura, Saúde e Prefeitura Municipal, Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), Grupo Gestor das Hortas Micro Nova Santa Rita, Ministério da Agricultura,
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“Exigimos investigação, justiça, reparação de danos, e uma legislação ambiental que aborde as necessidades de um município que é conhecido por ser a Capital da Agricultura Orgânica”, enfatiza Graciela.
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No dia 26, os assentados se reunirão com a Prefeita Margarete Ferretti, com Marli Castro, Secretária da Agricultura, o Secretário do Meio Ambiente e técnicos da Emater, para exigir uma ação da administração municipal.
Já no dia 27, sexta-feira, Leonardo Melgarejo, engenheiro agrônomo e membro da Associação Brasileira de Agroecologia (Abrasco) fará uma denúncia na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul. E no dia 1º de dezembro, as famílias irão para a tribuna da Câmara de Vereadores do município de Nova Santa Rita. O objetivo é denunciar e cobrar atitudes dos vereadores em relação a contaminação no assentamento.
“O que nós queremos é o fim da pulverização aérea no município, política pública para os produtores orgânicos, punição aos culpados e ressarcimento dos danos causados. Precisamos também politizar esse debate com a sociedade, reforçar a importância da produção e da alimentação saudável, e pedir o fim do uso de venenos”, pontua José Carlos Almeida, assentado no Santa Rita de Cássia II.
Produção agroecológica e programas de alimentos
Esses camponeses vivem da produção agroecológica. Eles trabalham para a subsistência e participam de programas sociais como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e também comercializam seus alimentos nas feiras orgânicas de Porto Alegre e da região Metropolitana.
O assentamento integra o complexo produtor de arroz orgânico do MST, o maior da América Latina, que no estado abrange 14 assentamentos da Reforma Agrária situados em 11 municípios. Em abril, o movimento doou 12 toneladas de arroz orgânico para o combate à fome e manteve inalterados os preços do arroz orgânico vendido nas lojas da Reforma Agrária, enquanto o preço do produto convencional disparou no varejo em setembro.
“Apesar da estiagem, da pandemia, e de todas as dificuldades econômicas com as crises, continuamos resistindo e produzindo alimentos saudáveis para a mesa dos brasileiros. Nós acreditamos e praticamos agroecologia como modo de vida e não só de produção”, finaliza Graciela.
*Com reportagem de Maiara Rauber, do MST.