Um tratado sobre a Água
Foto: Érico Hiller
A água suja é causa de 80% de todas as enfermidades e doenças do mundo e que acabam levando à morte mais pessoas do que a soma das vítimas de todas as formas de violência e de doenças causadas por vírus.
Estas informações, divulgadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS), foram o ponto de partida para que o fotógrafo Érico Hiller fizesse a mala e fosse em busca de registros que colocassem a questão em perspectiva real.
A imersão durou dois anos: 2018 a 2020 e resultou no livro Água, lançado pela editora Vento Leste, em novembro do ano passado. “A tarefa de documentar o acesso desigual à água limpa me fez remontar a razão pela qual me tornei fotógrafo”, conta.
Érico testemunhou o caminho percorrido por famílias inteiras diariamente em busca de água, das crianças que têm a infância roubada, às mães que têm de escolher entre matar a própria sede ou alimentar seus filhos, passando por favelas, desertos, pequenas e grandes cidades nas regiões da Índia, Jordânia, Palestina, Etiópia, Bangladesh, Quênia, Bolívia, Chile e Brasil.
No livro, ele conta esta experiência de forma direta e em primeira pessoa, narrando encontros e situando o leitor a cada circunstância.
A presença das crianças nas fotografias não é rara. Em Abdullahpur, se enfileiram em um recinto de banho, que também serve para as necessidades e para beber água; em Kibera, maior favela do mundo, no Quênia, uma menina caminha descalça em uma das vielas com esgoto a céu aberto, e outras, brincam, felizes e barulhentas, ao lado de montanhas de lixo em meio a um pântano de chorume. Na Etiópia, nos mais de 4 mil quilômetros percorridos, os números se confirmam sob seus olhos: mais de 93 milhões de pessoas não têm acesso a um banheiro decente, e 8,5 mil crianças abaixo de 5 anos morrem todos os anos por causa de diarreias ligadas ao consumo de água suja.
Paradoxo
“O desperdício é a grande convulsão do nosso tempo. O paradoxo do excesso versus escassez deixa nossa reflexão turva. O progresso não é a resposta para todas as perguntas. O consumo não traz as coisas de que necessitamos. A humanidade pode ter chegado a um nível de evolução formidável, mas estamos crescendo impunemente, e nossos critérios de prosperidade estão alicerçados em ideias que apartam pessoas e destroem o planeta”, considera Hiller.
Água traz 170 fotografias, acompanhadas por textos informativos, compondo um livro-manifesto que deixa evidente uma realidade precária de desumanização pela falta da água, e propõe uma retomada urgente da discussão em busca de soluções.
“Neste projeto, o fotógrafo coloca seu talento a serviço de um propósito maior, ele vive aquela realidade na pele, como testemunha ocular, e deixa para cada leitor argumentos para se tornar agente transformador, a partir de pautas urgentes como saneamento e cuidado ambiental”, diz a editora Mônica Schalka.
O autor
Érico Hiller nasceu em Belo Horizonte no ano de 1976 e vive em São Paulo desde 1985. Como fotógrafo documental, busca, por meio de suas imagens, uma forma de despertar transformações, registrando e provocando emoções.
Documentou as tensões sociais na Argentina, Brasil, China, Índia, México e Rússia em 2008, em seu projeto Emergentes. Fotografou biomas e culturas ameaçadas pela tensão ambiental no Ártico, Tanzânia, Etiópia, Maldivas e Mata Atlântica entre 2011 e 2012, retratados em sua obra Ameaçados.
Em A Jornada do Rinoceronte apresenta uma narrativa visual sobre a insensatez humana em função da caça e do comércio ilegal da vida selvagem em países da África e da Ásia.
Em 2018 refez, a pé, o trajeto de 400 quilômetros percorrido por Gandhi em 1930, em protesto pacífico pelo fim da taxação do comércio do sal na Índia, que ficou eternizado como A Marcha do Sal.
Serviço
Água, Fotografias e Textos de Érico Hiller
Editora Vento Leste
Editora: Mônica Schalka
Coordenadora editorial: Heloisa Vasconcellos
Projeto Gráfico: Ciro Girard
Preparação e revisão: Laura Moreira
Impressão: Ipsis
312 páginas
Preço promocional: R$180
www.ventoleste.com
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