Liberação agrotóxicos no RS cede a lobby de fabricantes
Foto: CUTRS/Divulgação
O projeto do Executivo foi encaminhado em regime de urgência e trancava a pauta de votações desde o dia 23 de junho. Com sua aprovação, fica suprimida a exigência, pelo Estado, de que produtos agrotóxicos provenientes de importação tenham seu uso autorizado no país de origem, mantendo-se a exigência do registro junto ao órgão federal competente bem com do cadastro nos órgãos competentes estaduais.
Houve 37 votos favoráveis e 15 contrários, frustrando ambientalistas, centrais sindicais e movimentos sociais. Só votaram contra as bancadas de oposição – PT (8) e Psol (1) – e deputados do PDT (2), MDB (1), DEM (1), PL (1) e PSD (1).
O projeto foi encaminhado em regime de urgência pelo governador, o que significa um prazo de apenas 30 dias para a sua tramitação na Assembleia, prejudicando o debate com a sociedade.
Motivos do governo
O deputado Luiz Fernando Mainardi (PT) questionou qual a razão que levou o governo a propor a mudança da legislação para permitir a utilização de venenos que comprometem a natureza e a vida das pessoas. “Se são proibidos nos países que os produzem, por que é que os legisladores brasileiros vão dizer que aqui pode?”, indagou, justificando que a bancada vota contra porque isso vai intoxicar os próprios produtores. O lucro acaba indo para os produtores dos insumos e não fica com quem produz.
A deputada Luciana Genro (PSOL) disse que não há argumentos que sustentem a possibilidade de liberação de agrotóxicos no Estado que não são autorizados em seu país de origem. “Vamos transformar o Rio Grande do Sul na lata de lixo dos produtos que são banidos na Europa e EUA, onde são produzidos”, alertou. Ela avaliou que a proposta é contrária à saúde pública e à agricultura.
O deputado Fernando Marroni (PT) lembrou que, “ao aprovar a lei em 1982, a Assembleia seguiu a tendência de mercados europeus, que estão cada vez mais controlados e a população mais desenvolvida não quer se envenenar”. Segundo ele, os países de origem observaram que esses produtos eram causadores de câncer e outros problemas de saúde.
Conforme Marroni, de 2008 a 2020, a Fepam indeferiu 38 pedidos de agrotóxicos. “Agora é muito temerário e estranho o que está acontecendo, que se queira aumentar substâncias tóxicas que possam prejudicar a saúde dos gaúchos e das gaúchas”.
Inventivo ao veneno foi de R$ 182 mi em isenções fiscais a fabricantes
A deputada Sofia Cavedon (PT) lembrou que, em audiência pública com universidades e institutos federais, muitos órgãos técnicos afirmaram que pelo princípio da precaução não deve ser liberada a utilização destes venenos. “Quero chamar a atenção de que a Agapan fala que o último estudo da Associação Brasileira de Saúde Coletiva verificou que, na pandemia, o volume de mortes teve influência dos agrotóxicos que fragilizam o sistema imunológico”.
De acordo com Sofia, os gaúchos receberam em 2020 uma carga 148.396 toneladas de agrotóxicos e as empresas fabricantes destes venenos tiveram R$ 182 milhões de isenção fiscal do governo.