AMBIENTE

Desigualdade social também afeta o meio ambiente

Segundo especialista, expansão das favelas teve agravamento com a volta da fome e isso se reflete no espaço urbano e nos biomas
Por Marcelo Menna Barreto / Publicado em 5 de novembro de 2021
Desde 1985 o Brasil perdeu o equivalente a 2,5 vezes a cidade de São Paulo em vegetação nativa, entre obras legais ou ilegais

Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

Desde 1985 o Brasil perdeu o equivalente a duas vezes e meia a cidade de São Paulo em vegetação nativa, entre obras legais ou ilegais

Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

O Mapeamento Anual de Cobertura e Uso da Terra do Brasil realizado pela rede colaborativa de especialistas em biomas MapBiomas aponta que nos últimos 36 anos a área ocupada por favelas dobrou no Brasil. Cresceu 947,2 milhões de metros quadrados. Equivalente a três vezes a capital baiana (Salvador), 11 lisboas (capital portuguesa) ou mais de 95 mil campos de futebol.  O relatório ainda aponta que o bioma mais afetado foi o amazônico, com um crescimento de 18%, com destaque nas cidades de Belém e Manaus. Segundo especialistas, a situação tende a se agravar no contexto de intensificação da desigualdade social.

Marcel Fantin, integrante da equipe de 22 técnicos de áreas urbanas do MapBiomas, responsável pelo mapeamento, afirma: “o contexto agravado pela volta da fome, da miséria, reflete no espaço”.

Fantin lembra que a população trabalhadora que vive com baixos salários ou na informalidade busca ocupar áreas que são rejeitadas pelo mercado imobiliário formal, seja por questões de atratividade, de legislação ambiental e, até mesmo, em regiões de risco. “Nessas áreas você entrelaça os problemas sociais e ambientais e cria uma dinâmica pontilhada de negatividades”, ressalta.

Para o especialista, a reversão desse cenário é estrutural. “Ter uma economia e um sistema econômico mais justo que permitam uma adequada distribuição de renda é a primeira questão”, diz.

Outro ponto é concentração fundiária. Mesmo lembrando a importância de programas habitacionais como o Minha Casa, Minha Vida, Fantin aponta um problema: em geral a alocação das populações de baixa renda nesses programas se dá em regiões distantes das áreas centrais, sem acesso a serviços e equipamentos públicos como escolas educação, além de difícil mobilidade urbana.

Se, de um lado, “resolve o problema da casa pra dentro, cria uma série de problemas da casa para fora”, explica.  Ele ainda lembra que um terço dos loteamentos Minha Casa Minha Vida (faixa 1), destinados às faixas de baixa renda, eles estão alocados de forma “desconectadas” das áreas já urbanizadas de uma cidade. “Não estão num contínuo urbano. Em geral estão em periferias distantes, longe da ‘mancha urbana do município’. Implanta-se uma zona quase que rural”. É, segundo ele, a descontinuidade do tecido social do loteamento com o primeiro ponto de ônibus para acessar as áreas centrais ou de serviços e trabalho, por exemplo.

O levantamento da MapBiomas deste ano ainda apontou um dado preocupante: desde 1985 o Brasil perdeu o equivalente a 2,5 vezes a cidade de São Paulo em vegetação nativa, entre obras legais ou ilegais.

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