550 novos venenos no prato dos brasileiros
Foto: Valter Campanato/Agência Brasi
Na última sexta-feira, 31, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), comandado por Tereza Cristina Corrêa da Costa Dias, filiada ao Democratas, publicou o registro de 51 novos agrotóxicos, batendo novo recorde de liberações de agrotóxicos por ano.
Considerada por agroecologistas a “rainha do veneno”, a ministra, que é alinhada a Jair Bolsonaro e à Frente Parlamentar do Agronegócio, da qual foi líder e é base de apoio do presidente, encerrou o ano da sua pasta com nada menos do que 550 novas marcas de veneno a mais nas prateleiras das agropecuárias e à disposição dos produtores rurais. Ou seja, nos alimentos.
Somando os 550 agrotóxicos registrados em 2021 aos 493 liberados em 2020, já são 1043 em apenas dois anos. Muitos dos defensivos são genéricos e outros técnicos, de uso da indústria para formulações de outros agrotóxicos. Em 2019 foram liberados 473. Hoje, quase metade (43%) dos 3.550 produtos comercializados no país obtiveram registro durante o governo Bolsonaro (1.516).
Apenas 15 produtos de baixo impacto
Na lista divulgada agora pelo governo, apenas 15 produtos são considerados de baixo impacto, à base de base de agentes biológicos ou microbiológicos e extratos vegetais para o controle de pragas e doenças na agricultura.
O Ministério da Agricultura informa em nota que também registrou 25 produtos químicos considerados “clones”, produzidos com moléculas que foram autorizadas anteriormente e já estão em uso no campo hoje.
O Ministério alega que alguns dos produtos registrados na sexta contêm mais de um ingrediente ativo e a maioria já está registrada em países como Estados Unidos e Austrália, ou na Europa, segundo o Ministério.
Molécula inédita
Um dos defensivos é o herbicida à base de Oxatiapiprolina, única molécula inédita na lista. Ele é indicado para culturas como batata, tomate, alho, cebola, melancia, melão, pimentão e uva.
A coordenadora substituta de Agrotóxicos e Afins do ministério, Marina Dourado, disse que o registro “viza tranquilizar o setor produtivo” sobre uma possível falta de matéria-prima para a produção dos herbicidas, que serão utilizados na próxima safra.
“Nossa preocupação era que o produtor não ficasse desassistido e com o registro da Oxatiapiprolina, ampliamos o leque de produtos para várias culturas, até mesmo aquelas com suporte fitossanitário insuficiente, também chamadas de minor crops”, destacou.
Agroecologistas condenam medida
Foto: Joel Vargas/Agência AL-RS
Em nota no Twitter a Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), que reúne movimentos, redes e organizações brasileiras na agroecologia, comentou o episódio: “No apagar das luzes de 2021, bem no dia 31 de dezembro, o governo federal liberou mais 51 agrotóxicos. Isso mesmo… Eles não perdem tempo pra passar a boiada! No total, já foram liberados mais de 1500 novos produtos agrotóxicos sob a gestão de Bolsonaro. É surreal! Muitos desses agrotóxicos liberados no Brasil são proibidos em diversos países justamente pelos enormes malefícios comprovados para a saúde das pessoas e para o meio ambiente. Uma imensa irresponsabilidade!”.
O economista João Pedro Stédile, da coordenação nacional do Movimento Sem Terra (MST) e defensor da agroecologia também não poupou críticas. “É a farra total das transnacionais que despejam seus venenos, contaminando solo, água, meio ambiente e matando a biodiversidade. Os agrotóxicos destroem mais do que as queimadas! Tudo impunemente”.
Na mesma linha foi o ex-banqueiro Eduardo Moreira, responsável por levar o MST aos investidores da Bolsa de Valores. “O agronegócio dizer que se orgulha de ‘alimentar 1.5 bilhão de pessoas no mundo’ é uma mentira sem tamanho. Se fosse sua missão, começaria pelos mais de 110 milhões por aqui que vivem em insegurança alimentar. Lucrar, à custa do que for preciso, é a regra. Cuidar do planeta é a exceção”, cravou.