Depois do novo Código Florestal, houve aceleração da perda de mata nativa
Foto: Operação Verde BrasilEBC/Agência Brasil
Estudo divulgado pelo MapBiomas mostra que, nos últimos 10 anos (2013 a 2022), a perda de vegetação nativa no Brasil foi acelerada. O período coincide com a vigência do novo Código Florestal, aprovado pelo Congresso Nacional em 2012.
A análise é inédita e foi feita a partir da mais recente coleção de dados de uso e cobertura da terra, cobrindo o período entre 1985 e 2022, que foi lançada no último dia de agosto.
A análise das imagens de satélite revela que, no período de 5 anos antes da aprovação do Código Florestal (2008-2012), houve uma perda de 5,8 milhões de hectares.
Nos cinco anos seguintes à aprovação do Código (2013-2018), a perda aumentou para 8 milhões de hectares.
Nos últimos 5 anos (2018-2022), alcançou 12,8 milhões de hectares, um aumento de 120% em relação a 2008-2012.
“Analisando a evolução anual da perda de cobertura de vegetação nativa agrupada em períodos de 5 anos desde 1992, quando foi realizada a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, no Rio de Janeiro, o período de maior perda foi aquele imediatamente antes da aprovação do Código Florestal em 2012, explica Tasso Azevedo, coordenador-geral do MapBiomas.
“Mas, desde então, a perda se acelerou ainda mais, com aumento do desmatamento. Estamos nos distanciando, em vez de nos aproximar do objetivo de proteger a vegetação nativa brasileira, previsto no Código Florestal, e do compromisso de zerar o desmatamento até o final desta década”.
Os dados desde 1985 até 2022 registram uma perda de 96 milhões de hectares de vegetação nativa – uma área equivalente a 2,5 vezes a Alemanha. A proporção de vegetação nativa no território caiu de 75% para 64% no período.
De acordo com o estudo, de tudo que foi antropizado em cinco séculos no país, 33% foram antropizados, ou seja, convertidos para algum uso humano, como cidades ou atividades agropecuárias, nos últimos 38 anos.
Esse processo se deu mais fortemente na Amazônia e no Cerrado, onde 52 milhões de hectares (equivalente à área da França) e 31,9 milhões de hectares foram antropizados, respectivamente, nesse intervalo.
Proporcionalmente à vegetação existente em 1985, os biomas que mais perderam vegetação nativa até 2022 foram o Cerrado (25%) e o Pampa (24%).
O agro avança
O avanço da agropecuária pode ser constatado em todos os biomas brasileiros entre 1985 e 2022.
A exceção fica por conta da Mata Atlântica, o bioma mais desmatado do país, onde os dois terços do território ocupados por essas atividades permaneceram estáveis nas últimas duas décadas.
Na Amazônia, a área ocupada pelo agro saltou de 3% para 16%; no Pantanal, de 5% para 15%; no Pampa, de 29% para 44%; na Caatinga, de 33% para 40%.
No Cerrado, as atividades agropecuárias agora ocupam metade do bioma (50%); em 1985, era um pouco mais de um terço (34%).
Em todo o Brasil, a área ocupada por atividades agropecuárias passou de cerca de um quinto (22%) para um terço (33%) do país.
As pastagens avançaram sobre 61,4 milhões de hectares entre 1985 e 2022; a agricultura, sobre 41,9 milhões de hectares.
“O Pantanal e o Pampa são exemplos de biomas naturalmente aptos para a pecuária, pois seus campos são como pastagens naturais. Nos dois casos, o avanço da soja representa uma degradação do bioma”, alerta Marcos Rosa, coordenador técnico do MapBiomas.
Estados e municípios
A perda de vegetação nativa aconteceu em 25 dos estados brasileiros entre 1985 e 2022.
Um único estado manteve estável a área de vegetação nativa: São Paulo.
Apenas o Rio de Janeiro teve um leve aumento de vegetação nativa (de 31% em 1985 para 32% em 2022).
Os estados com maior proporção de vegetação são Amapá e Amazonas, com 95%, e Roraima, com 93%.
Já os estados com menor proporção de vegetação nativa são Sergipe (16%), Alagoas (20%) e São Paulo (21%).
Os estados com maior proporção do território ocupado com agricultura são o Paraná, com 39%, e o Rio Grande do Sul, com 36%.
Já o Sergipe e Alagoas são os que têm maior proporção de pastagem no território, 62% e 52%, respectivamente.
Em 1985, 46% dos municípios brasileiros tinham como principal cobertura e uso da terra a vegetação nativa.
Em 2022, 602 deles saíram desta situação, e agora 36% dos municípios mantêm esta condição. Em 37% das cidades, hoje predomina como principal uso da terra a agropecuária.