AMBIENTE

Bairros de Porto Alegre voltam a inundar nesta quinta-feira, 23

Precipitações intensas, com o equivalente ao volume de chuva de um mês, e rede de drenagem assoreada provocaram novamente alagamentos em diversas regiões da capital gaúcha
Por Sílvia Marcuzzo / Publicado em 23 de maio de 2024
Bairros alagados nesta quinta-feira, 23

Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

O excesso de chuva, aliado à rede de drenagem assoreada por lama da enchente que atinge Porto Alegre há três semanas, gerou alagamentos em diferentes bairros

Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

Mesmo depois das águas terem deixado parte do Centro Histórico, Menino Deus, Cidade Baixa, Praia de Belas, São Geraldo, Floresta e Navegantes dias atrás, nessa terça elas voltaram com tudo pelos bueiros e pela tubulação da rede de esgotos pluvial.

Devido à intensa precipitação, em apenas 15 horas, o volume de chuva foi equivalente à média de todo o mês, com mais de 129 mm (129 litros de água por metro quadrado), de acordo com a Metsul, e com a inoperância das bombas 12, 13 e 16 e ao nível alto do Guaíba, a drenagem da cidade foi impactada, gerando alagamentos em diferentes bairros.

Diversas partes da cidade ficaram debaixo d’água, incluindo regiões muito movimentadas, como na esquina das avenidas Protásio Alves com Silva Só, e outras que não tinham sido inundadas pelas enchentes.

Alunos do Colégio Maria Imaculada, na avenida Padre Cacique foram resgatados por uma frota de caminhões do Exército, ainda pela manhã.

Equipes do Exército ajudaram crianças, idosos e adultos a saírem de suas casas devido aos alagamentos nos bairros Praia de Belas e Menino Deus.

Várias partes da zona Sul ficaram alagadas, da Tristeza até Restinga, Belém Novo, também foram duramente atingidas. Especialmente nas áreas próximas a cursos d’água, como o arroio Cavalhada, que assim como outros, se encontram cheios de resíduos e assoreados.

As águas cor de barro denotam o quanto a precipitação leva camadas do solo junto. Algo bem perceptível no a Arroio Dilúvio, na avenida Ipiranga.

Previsão é de mais chuvas nesta sexta-feira, 24.

Em coletiva de imprensa às 14h, o prefeito Sebastião Melo determinou a suspensão das aulas na rede de ensino municipal e particular na sexta-feira, 24. O decreto foi publicado no Diário Oficial de Porto Alegre.

Sem escoamento

Foto: Reprodução Redes Sociais

Foto: Reprodução Redes Sociais

O alagamento da capital, explica o professor de Arquitetura da PUCRS, Flávio Kiefer, se deu porque as águas não conseguiram escoar pelo sistema de drenagem, que já se encontra com problemas de manutenção e repleto de resíduos, além do Guaíba já estar cheio.

“As águas do Menino Deus, por exemplo, elas só correm por gravidade para o Guaíba, se estiverem em um nível abaixo dos pavimentos do bairro. Precisam estar bem abaixo para escoar. Sem bombeamento não tem como expulsar essa água da cidade,” explica o professor.

Com a intensa chuva, prevista pelos meteorologistas, os entulhos, restos de móveis, entre outros dejetos que tinham sido deixados na calçada por recomendação da própria prefeitura agravaram ainda mais o cenário.

O contexto ficou mais complicado porque pegou boa parte das pessoas desprevenida. Pois não foi dado um alerta sobre os riscos da chuva.

Próximo do meio dia, no Instagram do Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae), representantes da prefeitura e da Defesa Civil municipal gravaram um vídeo dizendo que as equipes do Departamento estavam trabalhando para as bombas voltarem operar “a pleno” e que era para as comunidades do Menino Deus e Cidade Baixa monitorarem a subida das águas e que se subissem, era para procurarem um abrigo.

O desespero, a indignação misturada com impotência tomou conta de muita gente.

“O descaso dos pretensos administradores públicos parece ter transformado Porto Alegre em uma espécie de banheira, cujo ralo entupiu por falta de limpeza e manutenção, fazendo com que a água ao invés de escoar, transborda por todos os lados e alaga tudo,” conclui o pesquisador de sociologia digital Cláudio Freitas.

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