AMBIENTE

Estudo da Ufrgs aponta megadesastre por deslizamentos durante as cheias

O mapeamento pode ser utilizado como referência para medidas de prevenção e adaptação na Serra Gaúcha, no Vale do Taquari, no Vale do Rio Pardo e na Quarta Colônia
Da Redação / Publicado em 4 de novembro de 2024
Estudo da Ufrgs aponta megadesastre por deslizamentos durante as cheias

Foto: Clódis Andrades-Filho/Ufrgs/Divulgação

Foto: Clódis Andrades-Filho/Ufrgs/Divulgação

Estudo do  Instituto de Geociências da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) aponta um megadesastre por deslizamentos durante as cheias ocorridas este ano. De 4 de maio até 21 de agosto de 2024, uma equipe de 50 membros, entre professores, estudantes, técnicos e colaboradores externos da mapearam cerca de 18 mil quilômetros quadrados, a partir de imagens de satélite de alta resolução, e identificou 16.862 movimentos de massa em decorrência do acúmulo de chuva ocorrido no final de abril e maio de 2024 no Rio Grande do Sul.
Caxias do Sul é a cidade com a maior quantidade de cicatrizes de movimentos de massa mapeados, totalizando 656, seguida de Veranópolis, com 636 cicatrizes.

Os dados do estudo foram divulgados em Nota Técnica Conjunta 06, emitida no dia 29 de outubro, pelo Instituto de Geociências (IGeo/Ufrgs), Laboratório de Sensoriamento Remoto Geológico, Geomorfológico e Dinâmicas de Paisagem (Latitude/Ufrgs) e pelo Centro Estadual de Pesquisas em Sensoriamento Remoto e Meteorologia (CEPSRM).

A área de análise envolveu, predominantemente, as bacias hidrográficas Taquari-Antas, Caí, Sinos, Pardo, Alto e Baixo Jacuí e Vacacaí-Mirim e cobre 150 municípios mais atingidos por movimentos de massa na Região Hidrográfica do Guaíba.

De acordo com o estudo, as cicatrizes e os pontos de ruptura de movimentos de massa mapeados representam 100% da área total atingida na escarpa sul do Planalto Meridional-RS em 2024, e o mapeamento concluído pode ser acessado no mapa digital Webmapa de movimentos de massa para equipes de apoio na situação de calamidade/2024.

Os dados abertos estão disponíveis para download. O mapeamento foi coordenado pelo professor do IGeo Clódis Andrades-Filho e pelo mestrando do Programa de Pós-Graduação em Sensoriamento Remoto (PPGSR/Ufrgs) Lorenzo Mexias. O Webmapa faz parte do Repositório de informações geográficas para suporte à decisão – Rio Grande do Sul 2024 da Ufrgs.

Andrades-Filho explica que a maior concentração de chuva naquele período ocorreu no nordeste do Estado, região de relevo majoritariamente acidentado onde está localizada a Serra Gaúcha, o Vale do Taquari, o Vale do Rio Pardo e a Quarta Colônia.

“Por conta dos efeitos desse evento extremo, a movimentação de massa mais expressiva aconteceu nas encostas dos vales em 30 de abril e 1º e 2 de maio, predominando os movimentos dos tipos: deslizamentos, fluxos de detritos, queda de blocos e rastejo do solo”, explica ele.

Ainda em maio de 2024, nasceu no Instituto de Geociências o mapeamento de deslizamentos, com a primeira divulgação técnica em 21 de junho identificando 5 mil cicatrizes com a análise de 40% da área, como forma de atender as comunidades afetadas e prestar suporte às equipes de apoio.

Agora, com o mapeamento 100% concluído, é possível ter noção do volume real da destruição por deslizamentos.

Ao final, foram registradas 15.376 cicatrizes de movimentos de massa e 16.862 pontos de ruptura, sendo que cicatrizes de movimentos de massa são marcas da movimentação de solo e/ou rochas visíveis no terreno, e os pontos de ruptura demarcam os pontos iniciais do movimento de massa, que registram o início do rompimento do terreno ao longo de encostas.

“Em número de movimentos de massa, este evento é o maior já registrado no Brasil, uma vez que o último de grandes proporções ocorreu no Rio de Janeiro em 2011 e teve 4.300 cicatrizes de movimentos de massa”, explica Andrades-Filho.

O mapeamento aponta 150 municípios gaúchos atingidos por deslizamentos este ano, com um montante de mais de 10 mil propriedades atingidas diretamente, além de muitos acessos por estradas comprometidos.

Segundo o professor, os produtos do mapeamento serviram naquele momento e estão servindo, ainda, de suporte à decisão da gestão pública.

“Os efeitos dos movimentos de massa nas encostas do RS exigem, além da resposta emergencial, o estabelecimento de medidas de prevenção e adaptação do modo de vida e convivência nessas áreas que seguirão sendo consideradas de risco. Assim, medidas que permitam a adaptação a eventos extremos da vida nas áreas rurais, para minimizar riscos, são fundamentais”, salienta ele.

Entre essas medidas de adaptação, o estudo destaca:

  • medidas de contenção e drenagem em lavouras de modo a reduzir a movimentação do solo e o acúmulo de água em áreas frágeis do terreno;
  • zoneamento das áreas de maior risco e estabelecimento de medidas de uso restrito do solo e proteção ambiental;
  • formação dos profissionais locais gestores, técnicos, dos agricultores e professores sobre risco geológico e adaptação;
  • aperfeiçoamento de sistemas de alertas, que considerem o risco geológico nas encostas a partir de dados técnico-científicos precisos e adequados à realidade socioambiental local e regional, etc.

O estudo desenvolvido pela Ufrgs forneceu subsídios para que diferentes órgãos e profissionais atuassem durante o período de emergência no desastre de 2024 e, para que, após o período de emergência, pudesse ser utilizado para a construção de medidas de recuperação, a partir da estimativa de danos, e para a prevenção de novos eventos a partir da elaboração de planejamentos municipais que reconheçam as áreas de risco geológico.

“O desafio maior está agora na transformação do conhecimento obtido em ações que permitam o estabelecimento de sistemas de alerta localmente precisos. Alertas são fundamentais para que a comunidade aja de maneira mais segura em novos eventos extremos”, frisa Andrades-Filho.

Método do mapeamento

Para realizar o mapeamento de cicatrizes de movimentos de massa, os pesquisadores fizeram delimitações a partir de imagens de satélite de alta resolução espacial. As bases usadas foram as seguintes: a) imagens dos satélites World View concedidas para uso emergencial pela National Geospatial-Intelligence Agency(NGA/Diretoria de Serviço Geográfico/DSG, Fonte das Imagens Maxar Technologies 2024); b) imagens concedidas pela Força Aérea do Chile e Força Aérea Brasileira para uso emergencial advindos dos sistemas EROS C e BlackSky; c) imagens do satélite sino-brasileiro CBERS 4, sensor WPM, com processamento pansharpening, oriundas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Brasil; d) imagens do mosaico PlanetScope para verificação de áreas. Ainda, foram realizadas atividades de campo para dar suporte à validação e à revisão do mapeamento feito por satélite.

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