Nove meses de queimadas sem precedentes
Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/ Agência Brasil
Uma área comparável ao estado de Roraima foi queimada no Brasil entre janeiro e setembro. Foram 22,38 milhões de hectares –13,4 milhões a mais que em 2023, de acordo com o levantamento de outubro do Monitor do Fogo do MapBiomas, que apontou um aumento de 150% na comparação com o mesmo período de 2023. Mais da metade, ou 11,3 milhões de hectares, da área queimada fica na Amazônia. Predomina a destruição da vegetação nativa (73%), principalmente formações florestais (21%). O agronegócio queimou 4,6 milhões de hectares para renovar o pasto para o gado.
Mais da metade da área queimada no país (56%) fica em apenas três estados: Mato Grosso, Pará e Tocantins. O Mato Grosso responde por 25% do total, com 5,5 milhões de hectares de fogo. Pará e Tocantins ficaram em segundo e terceiro lugares, com 4,6 milhões e 2,6 milhões de hectares, respectivamente. As maiores áreas queimadas estão em São Félix do Xingu (PA) e Corumbá (MS), com 1 milhão de hectares e 741 mil hectares.
O Cerrado foi o segundo bioma mais afetado pelo fogo em setembro, com 4,3 milhões de hectares queimados. No Pantanal, a área queimada aumentou 2.306% (1.479.475 hectares a mais), em comparação à média dos cinco anos anteriores. Na Mata Atlântica, o fogo consumiu 896 mil hectares de janeiro a setembro, sendo que 71% da área afetada estava em áreas agropecuárias. Houve redução de queimadas no Pampa, para 3,1 mil hectares, devido às chuvas acima da média, e na Caatinga, a qual teve 151 mil hectares atingidos pelas queimadas, queda de 18% em relação ao mesmo período de 2023.
Em chamas I
No início de setembro, em 48 horas, todas as unidades da federação registraram focos de queimadas. Mato Grosso e Pará, de acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), lideraram os incêndios, com mais de 2,3 mil em cada um. Foram 148 mil queimadas até o dia 5, 100% de aumento em relação à primeira semana de setembro de 2023. As queimadas de toda ordem, inclusive criminosas, vêm crescendo desde 2010 na Amazônia, no Cerrado e no Pantanal – e já chegaram ao Xingu, às áreas metropolitanas e ao interior do Distrito Federal e de São Paulo. A fumaça que começou sufocando moradores de Porto Velho e Manaus se espalhou para o Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília e Rio Grande do Sul, que viveram dias de uma primavera sem sol e encoberta pela fuligem.
Em chamas II
O país vive a pior seca desde 1950, porém as causas de tantas queimadas estão longe de ser um fenômeno puramente da natureza. Em menos de 30 dias, a Polícia Federal abriu 101 inquéritos para investigar incêndios criminosos país afora. Um crime praticamente tolerado, já que as punições são risíveis. A Lei de Crimes Ambientais (Lei 9.605/1998) estabelece em quatro anos de reclusão e multa para incendiários, mas só quando comprovado o dolo. Se a queimada for culposa, a pena cai para seis meses a um ano. Propostas de aumento da punição para esse tipo de crime e até a sua classificação como hediondo estão emperradas no Congresso Nacional. A proposição mais severa é o PL 3.304, de 2024, o qual aumenta a punição para seis a dez anos de prisão.