Um mosaico simultaneamente convergente e divergente como se revela o próprio caráter da América Latina, cheio de sinuosidades geográficas, humanas, políticas e ideológicas estará estetizado no território de Porto Alegre a partir de 2 de outubro.
Nesta data será inaugurada, oficialmente, a I Bienal de Artes Visuais do Mercosul, que se estenderá até dia 30 de novembro, com exposições, intervenções urbanas, seminários e atividades de arte-educação.
Antes disso, a partir de 4 de agosto, a Fundação Bienal do Mercosul exibirá, no prédio do antigo Banco Ioschpe, rua Sete de Setembro, 1123 – sede da instituição e um dos locais de exposição, – uma seleção de 29 das 310 propostas dos sete países que participaram do Concurso para o cartaz oficial da Bienal.
O publicitário Marcos Oliveira, 28 anos, que atua na Escala Propaganda, venceu a disputa com uma composição ao mesmo tempo surpreendente e simples: seu cartaz combina uma lata de sardinha e um abridor de latas.
Numa leitura imediata, está clara a referência à base comercial que anima o Tratado de Assunción e estabelece o Mercado Comum do Sul. Porém, como registra o curador da mostra, o crítico Frederico Morais, a imagem encerra ambiguidades.
Oliveira atribui ao abridor um símbolo de abertura de ideias, culturas, fronteiras. No plano da arte, propriamente dita, ele faz uma analogia entre a lata e o processo de criação artística que se abre quando é realizado na tela, na escultura.
“A criação é sempre um processo fechado”, diz o artista no material de divulgação da Bienal.
Em relação ao cartaz serão concedidas cinco menções honrosas a Maria Saraiva(MG), Maria Carolina Arnal e Waleska Belisario (Caracas/ Venezuela), Bernardo Erlich (Tucumán/Argentina), Ariel Mitnik (Santiago do Chile) e Gustavo Lomanno (Buenos Aires/Argentina).
A organização do evento tem a expectativa de que perto de um milhão de pessoas seja atingido pela arte produzida no Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai, Chile, Bolívia e Venezuela, que integra a exposição como país convidado.
Numa área de aproximadamente dez quilômetros, no centro da cidade, entre a Usina do Gasômetro e o antigo prédio da Mesbla, na Voluntários da Pátria, e mais adiante, no centro comercial DC Navegantes, a I Bienal do Mercosul vai expor a produção de mais de 200 artistas, reunindo a um só tempo artistas jovens e nomes que já ingressaram na História da Arte Latino-americana como o uruguaio Joaquin Torres-Garcia, os brasileiros Waldemar Cordeiro e Maria Leontina, para ficar em poucos exemplos.
Estruturada a partir de vertentes – política, cartográfica, por exemplo, as cerca de 800 obras serão expostas em diferentes locais: na sede da Aplub, na Casa de Cultura Mário Quintana, no DC Navegantes, na sede da Edel, na Usina do Gasômetro, no Instituto de Artes da Ufrgs, na Fundação Bienal do Mercosul, no Museu de Arte do Rio Grande do Sul, no Espaço Ulbra, no Museu de Comunicação Hipólito José da Costa, na Reitoria da Ufrgs e no Theatro São Pedro.
Nestes locais serão desenvolvidos os seminários e as atividades de arte-educação. As intervenções urbanas serão em praças e sítios públicos com arquitetura de importância histórica. A I Bienal do Mercosul presta tributo a duas personalidades da arte latino-americana: ao artista plástico argentino Xul Solar que, nos anos 20, fundou o grupo Martin Fierro, responsável pela inserção do modernismo na Argentina e que reunia nomes como Jorge Luiz Borges; e ao grande crítico brasileiro Mário Pedrosa, ensaísta, pesquisador e militante da esquerda trotskista no país que, mergulhando na produção brasileira orientou uma geração de artistas e críticos como Ferreira Gullar e o próprio curador da Bienal, Frederico Morais, numa perspectiva e numa leitura universal do fenômeno artístico.