CULTURA

Outra vez na praça

Stella Máris Valenzuela / Publicado em 30 de agosto de 1998

A 44ª Feira do Livro de Porto Alegre, de 30 de outubro a 15 de novembro, vai valorizar as obras técnico-científicas e buscará a inserção do evento no circuito internacional, trazendo 15 autores estrangeiros.

O recanto atrai ambos os sexos, pessoas de todas as idades, cor e classe social. Há quase meio século ininterrupto, as mais diversas tribos convivem neste espaço democrático. Adivinhou o que é? A Feira do Livro de Porto Alegre -, é claro. De 30 de outubro a 15 de novembro, a Praça da Alfândega vai vibrar com a 44? edição deste evento. Um livro aqui, uma cervejinha acolá e muito bate-papo. Encontros e reencontros de amigos. Algumas inovações foram pensadas, pelos organizadores, para seduzir os visitantes.

Publicações técnico-científicas terão espaço garantido, ao lado dos tradicionais livros de auto-ajuda, literatura infantil e ficção. As 150 barracas serão cobertas, possibilitando, assim, maior conforto. A falta de banheiro será resolvida com a instalação de 20 unidades de sanitários químicos, espalhados embaixo dos jacarandás. A gurizada terá um espaço próprio para receber os autógrafos favoritos. Além de 40 autores brasileiros e de personalidades dos quatro países do Mercosul, prestigiam a feira dois escritores russos, três portugueses, dois franceses, um americano e um espanhol. A idéia é ampliar a participação estrangeira, num total de 15 convidados. No ano passado foram oito. Atividade como a do Autor do Dia (sessões com os inéditos), será preservada.

“O Mundo na Praça” – lema desta 44? edição – ultrapassa os limites geográficos. “A intenção é colocar a feira no circuito internacional. E, ao mesmo tempo, direcionar o conhecimento global para dentro da Praça”, adianta Paulo Ledur, presidente da Câmara Rio-grandense do Livro.

O Bar Opinião e a Praça de Alimentação, mais do que atrativos, propiciam descontraído ponto de convergência para os cativos. A Feira do Livro tem um perfil singular. E é a maior do gênero na América Latina. Bienais como a de São Paulo, Rio de Janeiro, Buenos Aires e Frankfurt são fechadas e o público paga para entrar. “A nossa, por ser na Praça – local de efervescência dos sentimentos humanos -, tem um caráter diferenciado.

Seu jeito ensimesmado é coisa do passado”, diz Ledur, explicando que agora a idéia é mostrar esta promoção cultural para o mundo. “No ano passado, tivemos a cobertura da Folha de São Paulo. A previsão é de que cresça o interesse da imprensa, tanto do centro do país, como a estrangeira. Estamos ganhando mais espaço. Trata-se de um processo conquistado paulatinamente”.

Esta edição criou a figura do padrinho. Escritores gaúchos terão afilhados de outras nacionalidades. “A idéia é aconchegar e possibilitar maior intercâmbio cultural entre os autores”, diz Ledur, para quem a Feira, também é um acontecimento de cunho social, por abrigar a todos, indistintamente.

Ele estima congregar 1 milhão e 500 mil pessoas, como no ano passado. Este cálculo é efetuado pela Brigada Militar, avaliando a quantidade de pessoas por metro quadrado. O montante se eqüivale ao público das grandes feiras do mundo. Essa gente vai gerar uma economia em torno de R$ 3 milhões e 300 mil, supondo a venda de 330 mil livros, a um custo médio unitário de R$ 10,00.

Pela primeira vez Paulo Ledur coordena a promoção. Empossado na Câmara Rio-grandense do Livro em 2 de janeiro, considera esta incumbência ao mesmo tempo estressante e prazerosa. “As negociações com os escritores e participantes são complexas. Não devemos esquecer que Porto Alegre não tem a mesma capacidade de buscar escritores como Nova Iorque e Paris. Entretanto, o carinho especial a nós dedicado, indica o respeito de outros centros, por nossa Feira”.

Além de organizador, Ledur também vai lançar seu décimo livro. Será uma agenda gramatical. Para cada dia, uma dica de português. Ao término do ano, as aulas estarão completas. Além da série “Pecados da Língua”, ele editou livros sobre o cinqüentenário do Senai, os cinqüenta anos do Sesc e o ABC da pequena indústria gráfica.

Quando o xerife Júlio La Porta atravessar a Praça, tilintando o sino, estará aberta oficialmente a 44? Feira do Livro de Porto Alegre. Durante 15 dias, crianças, adolescentes, adultos e idosos poderão passear e se encontrar com os livros na praça.

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Expectativa dos livreiros

Stella Máris Valenzuela

Os editores decidem o que o país vai ler. Trata-se de um poder muito grande, avalia Airton Ortiz, proprietário das editoras Tchê e Ortiz. Um de seus maiores prazeres é calçar um tênis, vestir bermuda e camiseta e ir para dentro de sua barraca na Feira do Livro de Porto Alegre. Desta forma descontraída, desde 1982, quando se tornou livreiro, espera os leitores e reencontra os amigos.

Para Ortiz, a Feira teve dois marcos – a instalação do bar e a cobertura. “O primeiro deu um toque social, acabou com a aridez. E a cobertura, driblou o fantasma da chuva – propício nesta época”.

É a ocasião de expor todo o catálogo comercial. E a grande oportunidade dos editores se capitalizarem, para enfrentar os três meses do verão, quando grande parte da economia da capital desemboca no litoral. Pela primeira vez Ortiz não dará expediente na feira. E justifica sua ausência – estarei realizando mais um sonho – percorrer as trilhas da Cordilheira do Himalaia, na Ásia.

A Editora Sulina participa da Feira do Livro há 44 anos. “É a forma mais democrática de apresentar as publicações”, avalia o editor Luís Gomes, não escondendo o orgulho de integrar esta confraternização da cultura. “A tradição se mantém. A cada ano, as pessoas têm encontro marcado na feira. Uns vão só para bebericar, pois compram livros o ano inteiro, outros, querem aproveitar as ofertas dos balaios e o desconto de 20%”.

Gomes adora um sábado de sol, quando todo mundo se acotovela para conseguir um espacinho. “Algumas famílias, comprando desde literatura infantil para os filhos pequenos até obras técnicas, passando pelas de lazer. No último dia, quando a escola de samba desfila é mais um momento de alegria”.

Como a Editora da Casa não terá barraca própria, vai distribuir seus exemplares entre os expositores, especialmente junto à Livraria Palmarinca. Ronaldo Bordin, da direção editorial está preparando folders para entregar aos visitantes. E calcula oito sessões de autógrafos, nas áreas de Serviço Social, saúde e educação. Cinco já confirmadas. Para os livreiros, o melhor mesmo é ver a Praça cheia de gente. E, é claro – comprando muitos e muitos livros, até para compensar a queda nas vendas no primeiro semestre, estimada em 25%.

Notas 

Estímulo aos ilustradores
Até 15 de novembro estão abertas as inscrições para a edição deste ano do Concurso Norma, que busca estimular a produção dos ilustradores. Os valores dos prêmios vão de US$ 300 a US$ 3 mil. Documento e peças devem ser enviadas para Norma Concours Secretariat (Asia/Pacific Cultural Center for Unesco), 6, Fukuromachi, Hinjuku-ku, Tóquio 162-8484, Japão. Informações pelo e-mail book@accu.or.jp.

vinho do porto
Já estão à venda os ingressos para as apresentações do Vinho do Porto Concert em Porto Alegre, evento que vai integrar personalidades da música popular brasileira e portuguesa no Theatro São Pedro, em setembro. Esta é a programação: 18 (sexta) – Ed Motta e Né Ladeiras, 19 (sábado) – João Bosco e Filipa Paes e 20 (domingo) – Maria Betânia e Mísia.

Brasil em Veneza
Dois longas-metragens de jovens cineastas brasileiros estão entre os selecionados para o ciclo paralelo Prospettive, da 55? Mostra Internacional de Cinema de Veneza, de 3 a 13 de setembro. Kenoma, longa de estréia de Eliane Café, e Ação Entre Amigos, o segundo de Beto Brant (Matadores).

Queda nas vendas
Os números não são oficiais, mas editores já se preparam para enfrentar uma retração do mercado editorial. A expectativa do setor é de que, em média, haja uma queda de 25% no volume de vendas, comparando-se o primeiro semestre de 98 com o mesmo período de 97.

Imposto pesado
Já o excesso de impostos pode diminuir os shows estrangeiros no país. É o que asseguram boa parte dos promotores de shows. A insatisfação dos promotores refere-se à alta tributação, 50% de descontos para estudantes, porcentagens da bilheteria a serem pagas para o Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad), para os sindicatos dos músicos e dos técnicos e para a Ordem dos Músicos. Stephen Altit, da produtora Top Cat, é um dos que reclama. “No Brasil, querem cobrar impostos em cima do prejuízo dos promotores”, desabafa.

Teatro
O Relatório Azul, documento parlamentar anual sobre violações aos direitos humanos no Rio Grande do Sul, é argumento de uma peça de teatro de bonecos do grupo gaúcho Julieta e os Metabonecos. Sob o título Rapsódia Azul, a montagem estréia em dezembro e será levada a teatros, escolas, fábricas e bairros. A encenação trata de infância, saúde, trabalho, velhice, cidadania, discriminação e encarcerados.

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