Curta Metragem com Versos de Drummond de Andrade
Uma abordagem engraçada sobre a superficialidade dos desencontros amorosos, nas últimas três décadas, é a linha condutora do curta metragem gaúcho “Quadrilha”. Dirigido por Mariangela Grando, esta comédia de costumes é ancorada em versos do poeta Carlos Drummond de Andrade. “João amava Teresa que amava Raimundo que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili que não amava ninguém…”.E foi gravada numa igreja de Picada Café, município próximo a Nova Petrópolis. Duas velhinhas maldosas e fofoqueiras, interpretadas pelas atrizes Olga Reverbel e Carmem Silva, costuram as seis esquetes da produção. A pré-estréia deve acontecer até 20 de dezembro.
“A idéia brotou do roteiro de Jorge Monclar, do Rio de Janeiro. Era uma proposta cara e complicada de filmar, como narrativa. Depois de muitas tentativas de adaptar, decidi absorver a idéia e partir para uma nova forma. Convidei o Pedro Zimerman para esta tarefa. Como roteirista, ele indicou que tudo se passasse numa igreja. Achei maravilhoso. Este tipo de templo tem tudo a ver com as relações afetivas”, conta Mariangela.
Começamos a trabalhar o roteiro em 96, a partir da antiga proposta e, em 97 já com a nova versão. Em meados de 98 estava finalizado. “Aí começaram as dificuldades para encontrar a locação. Precisávamos de uma igreja fechada, durante toda semana e do aval do padre, pois de certa forma a fita faz uma crítica à instituição. Tentamos 27 igrejas, até que o padre Irineu, de Picada Café aceitou”, relata a diretora.
Paralelo a isto, a diretora buscou recursos. Depois do incremento na produção de curta-metragens nos anos 80, se agregaram pelo menos 20 itens, encarecendo a elaboração. No início de 80, os filmes consumiam de US$ 25 mil a US$ 30 mil, hoje absorvem de US$ 80 mil a US$ 100 mil. O “Quadrilha” fechou em US$ 125 mil. Este montante é oriundo do governo estadual, como concurso e como renúncia fiscal, através da lei 10.846 de incentivo à cultura. A CEEE é a patrocinadora exclusiva. “Comecei a captar recursos em abril, amarrei em junho e concretizei em setembro”.
As filmagens consumiram nove dias. De 13 a 21 de setembro em Picada Café e mais um dia na TVE, em Porto Alegre. “Buscamos profissionais de fora. O Rio Grande do Sul oferece poucas opções, além de caras. Convidamos os argentinos Aníbal Bosco, diretor de fotografia e o câmera Hector Colliodoro. O som ficou por conta dos chilenos Ernesto de Trujillo e Maurício Molina, sob a direção de Marco Aguirre.
O mais impactante para Mariangela foi dirigir uma figuração de 120 pessoas. Contabilizando equipe, elenco, finalização, montadores, assistentes – supera 200 envolvidos. “Vinha de cenas com poucos atores. De repente passei a me preocupar com os rostos fora de foco, com o controle da cena, com as dificuldades de ecos dentro da igreja. Dirigir este grupo enorme realmente deu uma sensação de poder”.
Antes, porém, Mariangela Grando já havia dirigido os curtas “Hemisfério de Sombra”, em 1986 e “Jogos”, em 1995. Para ela, “Quadrilha” foi um desafio não só pelo volume de atores e alargamento das cenas, como também por se tratar de uma comédia. Até então estava acostumada a lidar com o drama e a tragédia. “Ensaiei meus atores diversas vezes antes de ir para o set. Cada um encontrou a personagem e sua estória pregressa. Assim consegui que os atores entrassem no clima do personagem e tivessem condições de passar isto num curto espaço de tempo.Cada uma das seis seqüências tem em média quatro minutos, num total de 20 minutos. Não é fácil passar a estória em parcos momentos”.
Mariangela enfrentou o desafio de dirigir diretores consagrados, como Júlio Conte, Dilmar Messias e Oscar Simch. Mas todos colaboraram e a equipe se divertiu bastante. “O humor emprestou personalidade ao filme. Ficamos oito dias em Picada Café. O clima rolava bem. Filmávamos das 10h às 18h. Raras vezes ultrapassamos às 22 horas. A fita é muito simples do ponto de vista da decupagem técnica. Decidi privilegiar a narrativa. Foi divertido para os atores “.
Até este mês, a diretora esteve preocupada com os custos da música. Cada trecho de direitos autorais atinge o patamar de US$ 5 mil. “Teria que despender de US$ 25 a US$ 30 mil, só para montar uma pesquisa musical”. Mariangela finalizou o filme na Argentina. Lá a indústria é tradicional. Há trajetória. Aqui, as produções cinematográficas não são constantes. “Engana-se quem pensa que o filme fica pronto ao término da filmagem. Aí vem a primeira cópia. Nesta etapa começam os problemas de verdade. É preciso comercializá-lo, transformá-lo em produto. No caso do curta, nem esta perspectiva tem. Há apenas a expectativa de que o produto seja bom o suficiente para qualificar o diretor a alçar vôos mais pretensiosos. Tenho um projeto de dirigir um longa em 1999. É uma comédia. Uma estória de amor”.
O curta tem uma carreira limitada. “Como realizadora estou me despedindo dos curtas. O desgaste é grande e o resultado frustrante. Não existe mercado. Juntando televisão, fitas de vídeo e tvs internacionais não se arrecada 10% do custo empregado. A carreira deste curta será a de festivais. No ano que vem, vamos montar um programa de uma hora de curtas de comédia para itinerar pelo interior. O curta sempre é complemento de programação, a não ser o ‘Curta nas Telas’, da Prefeitura de Porto Alegre, que paga aluguel”, encerra.
Altos e baixos do cinema gaúcho
O Cinema gaúcho não tem uma trajetória linear. Depois de dez anos sem produções de longa-metragens, surgiram em 1997 “Lua de Outubro”, de Henrique Freitas Lima e “Anahí” de las Missiones, de Sérgio Silva. Ambos enfrentam dificuldades de se inserir no cenário nacional, embora tenham demonstrado fôlego no mercado de origem. Cerca de 200 mil espectadores prestigiaram as fitas. Mesmo assim é a metade do público no estado de “Quatrilho”, a superprodução da família Barreto que concorreu ao Oscar em 1996. “Isto demonstra que determinadas temáticas são complicadas de ultrapassar a fronteira, colocam o Rio Grande do Sul como um território cultural estrangeiro”, lamenta a diretora de “Quadrilha”, Mariangela Grando.
Em 1998 deveria ter sido filmado “Tolerância”, de Carlos Gerbase, da Casa de Cinema. Mas as dificuldades de negociar os papéis têm sido um entrave. “Espero que consigam captar recursos. Acredito que com a Fundação Cinema Gaúcho, entidade em fase de estruturação, a gente consiga uma política de atração de investimentos, capaz de permitir produções menos eventuais”, torce Mariangela
Neste ano, mais uma parada. Em contrapartida, o prêmio RGE governo do Estado abre a possibilidade para impulsionar mais três longa-metragens nos próximos dois anos. “Isso significa, pelo menos R$ 10 milhões de investimentos na economia do estado”. Comparado ao restante do país, o Rio Grande do Sul está em quinto lugar, atrás de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Ceará. “Na época dos curtas – lá por 1989/1990 – nosso estado atingiu o terceiro lugar. Chegamos em Gramado com 12 filmes, exceto os rejeitados. Neste hiato de dez anos, a produção esteve centrada nos curtas”.
Sinpro/RS levou 2.500 crianças à Feira
As atividades da parceria do Sinpro/RS com a Câmara Riograndense do Livro levaram 2.500 crianças a visitar a 44ª edição da Feira do Livro de Porto Alegre, que atraiu mais de um milhão de pessoas. Com a orientação de monitores e bonequeiros, o público infantil foi incentivado à leitura, através de uma programação lúdica e pedagógica.
Marcia Camarano
Fim de feira. A mágica de transformar a Praça da Alfândega em lugar de convivência com os livros, a cultura, o bate-papo com os amigos na praça da alimentação fica suspensa até o próximo ano, na 45ª edição da Feira do Livro, que já tem até tema escolhido: os 500 anos do descobrimento.
A Feira do Livro, tradição em Porto Alegre, mais uma vez, marcou pelas novidades, como a cobertura contra chuva e a instalação de 20 sanitários químicos, uma alegria para o pessoal da cerveja. Mais do que isso, a Câmara Rio-Grandense do Livro, organizadora da feira, apostou em parcerias para diversificar as atividades à disposição.
Uma dessas parcerias foi feita com o Sinpro/RS, a primeira entidade sindical a manter uma barraca e patrocinar atividades com estudantes. Além disso, organizou uma exposição fotográfica, no Clube do Comércio, com a participação de renomados fotógrafos, que apresentaram a sua visão particular da leitura.
Em virtude de sua participação, o Sinpro/RS foi o responsável pelo aumento da quantidade de crianças a visitar a feira. O presidente da Câmara Rio-Grandense do Livro, Paulo Flávio Ledur, comentou que o público infantil foi o que mais cresceu neste ano. “Este é o nosso maior mérito, dobramos a presença de crianças, estamos preparando os leitores do futuro”, comemorou.
Meninos e meninas em idade escolar foram incentivadas por visitas organizadas e orientadas, com vistas a um objetivo muito claro, que é o incentivo à leitura. “A Câmara do livro e seus parceiros tiveram a intenção de despertar o estudante de primeiro grau para a leitura e, entre os parceiros, o Sinpro foi o que melhor funcionou, porque se empolgou com a idéia e funcionou mais”, elogiou Ledur.
Para o professor, este traço é marcante na 44ª edição da feira, pois as crianças não vieram simplesmente para dar um passeio, mas para participar de atividades pedagógicas e lúdicas. “Elas voltaram para a escola com algo muito concreto, uma mostra de que vamos ter cidadãos mais lúcidos e bons profissionais”.
Ledur também destacou a participação da Secretaria Estadual da Educação (SEC) e da Secretaria Municipal da Educação (SMED) na área infantil. Conforme ele, o Sesc também teve participação especial ao levar suas atividades recreativas e pedagógicas para a Feira, assim como as Irmãs Paulinas levaram sua colaboração. “Para mim, a área infantil foi de maior retorno”.
Soraya Franke, responsável pela barraca do Sinpro/RS na Feira, não esconde que as atividades desenvolvidas deram muito trabalho. Afinal, a primeira vez sempre é mais difícil. Ma gostou do resultado. “As visitas guiadas foram interessantes, a monitoria estava boa e o ‘se não’ foi a grande quantidade de crianças, o que tornava difícil a organização”, resumiu.
À disposição das visitas guiadas do Sinpro/RS estavam quatro monitores e as escolas precisavam se agendar antecipadamente. Participaram 2.500 alunos das escolas particulares que eram apresentadas à Feira; os monitores relataram como ela surgiu, como era antes e como está agora, o número de bancas, quem é o patrono, o fato de fazer parte da agenda cultural da cidade. Enfim, um banho de informações.
Depois disso, faziam uma visita à Mostra Fotográfica da Caldas Júnior sobre a história da Feira e, a seguir iam para a área infantil, onde participavam de várias atividades lúdica e pedagógicas, entre elas, a confecção de bonecos, orientadas por bonequeiros profissionais. O resultado disso tudo só poderia ser muita criança circulando na Feira.
ESTRANGEIROS – Outro destaque foi o setor internacional, a cada ano com mais participantes. O resultado é o nível de satisfação acentuado dos expositores. “Vendemos mais livros nos três primeiros dias do que em todas as feiras passadas”, disse Ledur. Ao todo, foram 14 barracas representando dez países: Cuba, Espanha, Portugal, Inglaterra, França, Argentina, Uruguai, países de cultura islâmica, Alemanha e Itália.
Os visitantes puderam conviver com escritores de língua portuguesa de Portugal, uma coincidência com o fato do escritor português José Saramago tenha levado o Prêmio Nobel de Literatura este ano. Participaram três escritores estrangeiros de língua portuguesa – Jorge Couto (presidente do Instituto Camões), Urbano Tavares Rodrigues (romancista, com 70 obras publicadas) e o açoriano João de Melo. Eles também vieram em função das atividades que assinalam os 250 anos da cultura açoriana no Estado.
Além deles estiveram na Feira os moçambicanos José Craveirinha e Calane da Silva e o angolano Pepepela. A intenção do presidente da Câmara Riograndense do Livro é multiplicar as caravanas estrangeiras para o próximo ano. Inclusive, trazer professores de História para contar fatos do descobrimento, preparando o espírito para as festividades dos 500 anos. E, outra novidade, pretendem aproveitar o momento para promover o Encontro das Comunidades de Língua Portuguesa.
FOTOGRAFIA – O Sinpro/RS foi o promotor de mais uma novidade na Feira, que foi a fotografia. A exposição de oito fotógrafos cada um com sua visão particular sobre a leitura no Clube do Comércio deu o que falar. Além desta, houve a exposição sobre a História da feira, organizada pela empresa de comunicação Caldas Júnior, a Cine y Libro, da Espanha, que contou a relação do cinema com o livro, a exposição sobre o escritor, dramaturgo e poeta García Lorca, também espanhola e a moda aérea da Varig.
Nas exposições, o público é bem menor e, como elas não estão nos locais de passagem, vai quem realmente está interessado. Mesmo assim, a freqüência foi muito boa, considerou o professor Ledur.
A 44ª Feira do Livro, realizada de 30 de outubro a 15 de novembro, registou novo recorde de vendas. Segundo a Comissão Organizadora, foram vendidos 416.598 livros nos 17 dias, o que equivale a 24.505 livros por dia. Foi um sucesso de público, com a circulação média de um milhão e 100 visitantes.
NOTAS
Exílio em Passo Fundo
O poeta cubano Ricardo Alberto Perez, 35 anos, é o primeiro intelectual a ser recebido em Passo Fundo, município pioneiro na América Latina a estabelecer ligação com a rede européia de cidades-refúgios. Perez chegou a Passo Fundo no dia 10 de novembro. Entre as atividades que o escritor desenvolverá na cidade gaúcha está um ensaio sobre o neobarroco na América Latina e uma antologia da poesia cubana. Perez está instalado no flat número 406 do Apart Hotel da Vinci, receberá da prefeitura um salário de R$ 1,5 mil e participará de atividades acadêmicas.
Prêmio de fotografia
Estão abertas até 29 de janeiro as inscrições para o Prêmio gaúcho de Fotografia, destinado ao desenvolvimento da pesquisa nesta área. O vencedor receberá uma bolsa no valor de R$ 12 mil, que será paga em três parcelas. As inscrições podem ser feitas no setor de Protocolo da Secretaria de Estado da Cultura (Andradas, 736, segundo andar). Outras informações pelo fone (051) 226-4578, ramal 30.
Trama de Fofoca e Picardia
Stella Maris Valenzuela
“Implodimos o poema. Fizemos uma leitura cinematográfica. Daqui a mil anos este poema pode estar rendendo outras interpretações. No ano passado, o ator carioca Carlos Gregório filmou ‘Amar’, partindo do mesmo poema. Parece ter sido a primeira versão”, revela a diretora de Quadrilha, Mariangela Grando. A segunda parte do poema – aquela que fulano morreu, o outro foi para os Estados Unidos, alguém virou freira, outra se tornou tia – não foi abordada neste filme.
A fita trata de traição. De homens eternamente infantis, insatisfeitos com suas mulheres. A traição aparece no velório do Joaquim, quando duas mulheres batem boca. A disputa é entre o sexo feminino. Elas excluem o homem da discussão. E brigam até pelo morto. “A traição é transferida para a outra, como se apenas esta outra tivesse tomado a iniciativa e feito tudo sozinha”, explica Mariangela.
As cenas evoluem ao passar de três décadas. Em 70 acontece o casamento de Teresa com Raimundo. O padre é um mau humorado. Ele quase se declara para Teresa e rivaliza com o noivo. Nos anos 80, duas mulheres brigam dentro da igreja. O esquema é o de ir à missa para paquerar o marido das outras. E, nos anos 90, o debate fica mais desaforado ainda. Uma diz – não se esqueça que ele vivia lá em casa, na cena do velório. É mais contemporâneo, na opinião da diretora.
O filme é intencionado no poema, mas desenvolvido pelos atores. Olga Reverbel e Carmem Silva entram no início de cada esquete fazendo comentários sobre os personagens. Num determinado momento, uma diz para a outra, que o Raimundo morreu fazendo ‘aquilo’. A outra rebate – que horror morrer em pecado. E a tréplica vem dura – pode ficar tranqüila de que daquilo você não morre. Elas misturam as estórias dos outros com as suas próprias. E vivem num ambiente com muitas fotos de família na parede.
A diretora do filme supõe que tenham algum parentesco. Porém não se preocupou em delinear o contexto civil das velhinhas. “A Olga está muito engraçada. Ela representa uma pessoa absolutamente repugnante. Toda a picardia e o sarcasmo constituem uma crítica à maneira pela qual as mulheres se retiram do mundo, num determinado momento, e passam a se espelhar na vida alheia. Acho que tem muito disso no contexto social feminino”, complementa.
Olga Reverbel lembra de um diálogo interessante travado com Carmem Silva. Uma delas questiona. “Mas quem apresentou eles? Foi a internet. Mas quem é esta internet? Ah, uma lambisgóia que mora na vizinhança. Aquela magra e alta? Aquela mesma. Aliás, não tem uma boa fama. É, mas não estou aqui para falar da vida alheia.” Se trata realmente de uma comédia de costumes. Agora é só esperar para rir rir e rir.
Cuidados com a Produção
Toda direção requer uma produção. No caso de “Quadrilha, a diretora de produção foi Bea Rorato. Ela buscou a locação, reconstituiu o figurino dos anos 70, 80 e 90 e correu atrás de carros da época. Mas não é fácil conseguir automóveis antigos. Algumas vezes, percorria às ruas até encontrar o modelo desejado. Então, anotava a placa. Fazia uma pesquisa junto ao trânsito até conseguir o telefone do proprietário para formular uma proposta. O museu de carros fora de linha da Ulbra foi uma mão na roda. A produtora conseguiu emprestado Karmann Ghia, SP2, MP Lafer, DKW, Impala, Gordine, saboneteira (fusca de quatro portas). O carro dos noivos foi uma Landal branco.
A maior dificuldade de Bea foi conciliar a locação com o elenco. “Quando acertava o local, não conseguia agendar com os atores. Tivemos que desmarcar duas vezes a filmagem”, comenta. Também coube a ela apanhar os artistas, negociar os equipamentos, comprar negativos, orientar a alimentação da equipe, providenciar no transporte. “Adoro fazer produção. Desta vez tive bastante tempo, quando chegou na hora de filmar, não faltou nada”.
“QUADRILHA”
Direção – Mariangela Grando
Roteiro – Pedro Zimerman
Atores: Olga Reverbel, Carmem Silva, Júlio Conte, Giovana Figueiredo, Oscar Simch, Luciene Adami, Dilmar Messias, Pilly Calvin, Meri Mezzari, Zé Victor Castiel, José Barricello.
Argumento – João é um padre apaixonado por Teresa. Ele faz de tudo para ela não se casar. Não dá certo. Teresa acaba dizendo sim a Raimundo. Este é um homem brega, apaixonado por Maria. Ela tem o sonho de se casar. No entanto, acaba solteira porque ama Joaquim, que já é casado. Joaquim é um pequeno empresário apaixonado por Lili, que não amava ninguém, mas acaba casando com alguém, que conheceu num chat da internet. A história é lincada por duas velhinhas fofoqueiras.
Imagens do Passado
Barbosa Lessa
O que é? O que é?
Para um lado, os guris correndo carreiras de petiço ou soltando pandorga. Para o outro, as gurias com suas cantigas e brinquedos de roda. Mas algo despertava o interesse de ambos os grupos e os reunia. As adivinhações, mexendo com a cuca. Nesta faixa eu brilhava como um campeão, respeitado não só na vila de Piratini como também na cidade de Pelotas, onde moravam alguns primos de meus pais.
As adivinhações possuíam o mérito de nos fazer pensar. Descortinavam para nós, de maneira ingênua, os mistérios da natureza. A gente ia descobrindo no sol, na lua, nas árvores, na chuva, uma espécie de amigos fazendo traquinadas. Era lindo. Algumas delas, fáceis, iam ficando conhecidas de todos. “O que é? O que é? cai de pé e corre deitada”. É a chuva, claro. Mas uma simples alteraçãozinha já fazia embatucar: “E o que é que nasce de pé e corre deitada?” A gente levava um tempão até atinar que era a canoa feita de um tronco de árvore.
Quando as adivinhações eram rimadas, em quadrinhas, tornavam-se mais fáceis de memorizar e ainda adquiriam maior tom de mistério:
“Se não te chamo, tu vives,
e reinas ao não chamar-te.
Mas, se te chamo, te quebras,
aqui como em toda parte”.
Sacou esta? Não? Então aí vai a resposta: o silêncio…
Aos dez anos de idade eu já dominava um grande repertório de adivinhas. Por essa época vim por primeira vez a Porto Alegre, sob os cuidados de um primo de minha mãe, o advogado Djalma de Mattos. A gente embarcava no navio Cruzeiro e gastava toda uma noite cruzando a Lagoa dos Patos. Para passar o tempo, os adultos iam fazendo suas rodinhas de prosa, no convés. Tio Djalma levou-me consigo até uma dessas rodas, onde concentrava atenções o Doutor Juiz da Comarca, e hoje até acho que ele estava querendo “faturar” simpatia em cima do crânio do sobrinho sabichão.
Faz pra eles umas adivinhações, tchezinho.
Fiz a primeira. A segunda. Daí a pouco o torneio pegou fogo, envolvendo vários outros passageiros atraídos pela animação das vozes. Até que o Doutor Juiz me desafiou:
O que é o que é que tem boca e não tem dentes?
Minha franqueza de criança:
É claro que é a noite, Doutor, e eu até pensei em fazer esta ainda agora; mas achei tão infantil que não tive coragem de fazer…
O homem fechou a cara, houve algumas risadinhas contidas, e Tio Djalma olhava em volta procurando um buraco onde pudesse se enfiar, de vergonha. O tiro tinha lhe saído pela culatra.
* Luiz Carlos Barbosa Lessa é jornalista, historiador, folclorista e escritor.