Eles foram a glória nos anos 30 e, depois da decadência dos anos 80, os 89 cinemas que restaram no Rio Grande do Sul seguem seu destino para dentro de centros comerciais e melhoram a qualidade dos serviços. Tudo de olho num consumidor cada vez mais exigente e com muitas ofertas de lazer. Dois grupos brigam pela liderança do mercado
Os musicais da década de 30 encantavam Maria Alice Medaglia. Conduzida pelos avós às matinês, a então menina de oito anos esperava ansiosa pela passagem do baleiro. As guloseimas eram vendidas nas sessões do Cine Apólo, ali no início da Independência, quase em frente ao Hospital São Francisco, em Porto Alegre. Os filmes do Carlitos e os faroestes também permanecem guardados na memória desta professora aposentada de 76 anos. “Hoje tudo está diferente”, comenta, com a propriedade de quem tem acompanhado a evolução das últimas seis décadas de cinema no Rio Grande do Sul.
Foi no final dos anos 80. As grandes salas cinematográficas começaram a declinar para dar lugar ao modelo norte-americano, de concentrar espaços médios ou pequenos num mesmo local. Surgiam, assim, os empreendimentos de shopping centers. Dos estabelecimentos antigos da capital – alguns suntuosos e que marcaram época na história da cidade – restam apenas o cines Guarany, Imperial e Baltimore (sem contar as quatro casas que exibem fitas pornográficas no centro de Porto Alegre). O requintado Avenida, de 1931, virou bingo. Às novas gerações sobraram só as fachadas de alguns dos cines-ópera do estado.
O interior acompanhou apenas em parte esta mudança. Os cinemas migraram para os espaços fechados mas, enquanto Porto Alegre contabiliza 51 salas, as outras 427 cidades reúnem apenas 38. É pouco, mas é verdade. “O empresariado se adequou às exigências do mercado”, constata o presidente do Sindicato das Empresas Exibidoras Cinematográficas de Porto Alegre, Ricardo Difini Leite. Isso significou fechar impiedosamente as salas que perderam em conforto e atração para a casa dos consumidores, dotadas de vídeo, tela grande, TV a cabo e programação variada.
Leite atribui a tendência aos novos tempos. Nos anos 70, diz ele, o ar condicionado era um diferencial significativo – talvez o principal – para atrair gente aos cinemas. Hoje, estacionamento, restaurantes, som digital, poltronas cômodas, enfim, segurança e conforto, são indispensáveis. E a tendência é de ampliar ainda mais esse mix ao consumidor moderno, incluindo cafeteria, comércio de revistas, de CDs e de pôsteres para aumentar o faturamento das salas. Ele acha que só os grandes grupos conseguirão transpor o milênio. “Mas o cinema não vai morrer, ao contrário: continuará aguçando as emoções”, tranqüiliza.
É justamente nesse conceito que se baseia a rede americana Cinemark. O grupo abriu suas portas, no Bourbon Shopping Ipiranga (em Porto Alegre), no dia 15 de janeiro. Segundo o diretor de marketing do empreendimento no Rio Grande do Sul, Edinardo Correia Lima, as oito salas agrupadas receberam … mil pessoas até … de março. Os representantes do mega empreendimento não escondem seu objetivo. “O que conta para nós é a liderança do mercado”, diz Lima. A empresa está programando para julho a abertura de mais 11 salas, desta vez no Shopping de Canoas.
Mesmo com um desempenho de luxo, o grupo Cinemark se manteve na liderança do segmento apenas nas primeiras semanas de operação. Já no final de março a rede Severiano Ribeiro, que administra os nove cines do Shopping Iguatemi, retomou a liderança com uma fatia de 31,2% dos consumidores. Logo atrás vem a Cinemark, com 26,7% dos cinemaníacos de Porto Alegre. “Essa competição é saudável”, defende o gerente de marketing da Severiano Ribeiro, Arturo Netto.
As maiores cidades, como Caxias do Sul, Santa Maria, Pelotas, Novo Hamburgo e São Leopoldo, estão fora – por enquanto – dessa guerra pelos consumidores. Poucas cidades contam com três ou quatro salas, a maioria confinada em shoppings, e nos demais municípios os cinemas não passam de um ou dois.