Freqüentemente aparecem argumentos equivocados nos debates sobre o escasso interesse dos jovens pela leitura. Gente respeitada até mesmo pelo círculo acadêmico já foi capaz de atribuir o problema às bibliotecas – escolares ou não -, que seriam desatualizadas.
Convenhamos, é só uma falácia para explicar a minguada importância institucional que se dá à leitura e, por conseqüência, à manutenção de bibliotecas e atividades de incentivo à leitura. Ou será que a trajetória de Julien (“O vermelho e o negro”, Stendhal) ou os descaminhos de João Valjean (“Os miseráveis”, Victor Hugo) estão desatualizados?
O que deve ter uma boa biblioteca? Certamente não é tudo o que o mercado editorial publica, com tantas experimentações supostamente literárias que não têm a mínima chance de perenidade. Não é preconceito com o novo, mas bibliotecas públicas, por exemplo, devem dar prioridade à literatura socialmente consagrada à formação do leitor. Quer dizer: Machado de Assis, Mário de Andrade, Émile Zola, Eça de Queirós, Dyonélio Machado, Clarice Lispector, Gustave Flaubert, Erico Verissimo, Lygia Bojunga Nunes, Sérgio Caparelli…
Por isso mesmo merece destaque a Coleção Pocket da L&PM, que reedita as grandes obras nacionais e universais, como “Inocência”, de Visconde de Taunay, “Contos Fluminenses”, de Machado de Assis, “Édipo Rei”, de Sófocles. São apenas alguns de uma série que já se aproxima de 200 títulos. O mesmo se pode dizer da coleção Clássicos Mercado Aberto, que acaba de relançar nada menos do que “Viagens na minha terra” (281 pp, R$ 20,00), do grande romântico português Almeida Garrett.
REVERSO DO FACISMO
Lançamento da Artes e Ofícios, “O homem sem nome” (226 pp, R$ 13,65) é uma pretensão literária do autor, Edgar Welzel, gaúcho radicado na Alemanha, que estréia com este romance. Mas apesar da escritura com certas imagens óbvias – noite “com seu manto negro” – o discurso direto segura mais a leitura do que a narrativa, expondo um tema importante para o Rio Grande.Trata-se da perseguição aos imigrantes alemães durante a II Guerra Mundial. Através do protagonista, um humilde e ético professor da colônia, Welzel mostra o reverso do facismo no Estado Novo. Um assunto oportuno no momento em que o conflito étnico mais uma vez justifica a guerra nos Bálcãs. Por falar nisso, enquanto não sai no Brasil o novo livro do estrategista de Jimmy Carter, Zbigniew Brzezinski é bom reler esta lição sobre a estratégia geopolítica norte-americana “EUA X URSS – O grande desafio”(294 pp, edição esgotada), editado no Brasil em 1987 pela Nórdica.