CULTURA

Em paz com o uniforme

Luiz Carlos Barbosa / Publicado em 24 de setembro de 1999

Depois das passeatas pedindo o fim da obrigatoriedade, estudantes adotam a marca das escolas como roupa ideal para as aulas

A camisa branca com gravatinha, calças e saias azul-marinho chegaram a ser o martírio dos estudantes. Ícone de uma estética rebelde, quando o jeans chegou ao Brasil, no final dos anos 60, e levava simplesmente os nomes de Lee ou Lewis, embora fosse caro – aproximadamente US$ 100 – era uma indumentária proibida no colégio. Nos anos 70, a abolição do uniforme escolar chegou a ser bandeira de luta do movimento estudantil secundarista e motivo de abaixo-assinados e até greves. “Havia uma resistência bem forte. Tinha a ver com aquele momento cultural, onde o uniforme representava uma sociedade disciplinar, expressão de uma forma de homogeneização”, explica a psicóloga Simone Bertoni, especialista no trato com jovens.

No fim destes complexos anos 90, os jovens nem sabem desta história. Colocam questões com sentidos muito mais pragmáticos e a ideologia está longe da abordagem, apesar de se desnudar no próprio vocabulário empregado. “É tri bom, antes era uma concorrência daquelas, cada um queria vir para o colégio com a melhor roupa”, opina a estudante Ana Coutinho. Ela só reclama do preço: uma calça de cotton custa R$ 30 e um abrigo de moleton custa R$ 50. Aos 16 anos, Ana é aluna do 3º ano do nível médio do Colégio Nossa Senhora das Dores, no centro de Porto Alegre, onde o uniforme voltou a ser obrigatório desde 1997.

Ana acrescenta também que o uniforme representa segurança. “Assim a gente sabe quem é do colégio”, esclarece. O uniformecontribui, por exemplo, para evitar o ingresso de traficantes de drogas nas escolas. “As escolas trabalham bem estes sentidos, a vantagem de não desgastar as outras roupas e a identificação e segurança”, concorda Simone, assinalando que hoje os uniformes são confortáveis e seguem os mesmos padrões das roupas preferidas pelos jovens.

“A direção do colégio pediu a nossa opinião, a gente desenhou sugestões de roupas”, confirma a estudante Clara Corrêa, 16 anos, também do Colégio das Dores. Da mesma forma depõem outros alunos da escola: “é bom porque a gente economiza as nossas roupas”. “Mas devia ser só uma camiseta, porque a gente que está no 3º ano tem outras coisas para fazer à tarde e fica o dia inteiro com o uniforme das Dores”, pondera Leonel Chaves, de 17 anos, avaliando o custo-benefício. “No ano que vem a gente sai da escola. Ou dá o uniforme para alguém ou usa para dormir”.

“Tênis, moleton e jeans constituem o uniforme dos jovens, independente da escola”, diz a psicóloga. Simone analisa que, por esses motivos, a exigência do uniforme hoje não contraria os estudantes. Mais: revela que quem vigia esta regra não é a escola, mas os próprios colegas. “Tornou-se uma maneira de identificação, de enquadramento do grupo em um momento histórico em que os jovens, mais do que nunca, buscam essa identificação. Tanto é que o uniforme está sendo usado fora da escola”, aponta Simone.

O Colégio Sévigné, de Porto Alegre, uma das escolas mais progressistas, que adota uma proposta construtivista, aboliu o uniforme para o nível médio nos anos 60. Só foi mantido para a Educação Infantil e até a 4ª série e para as aulas de Educação Física. Porém, é possível encontrar vários adolescentes com a marca do Sévigné nos moletons na porta da escola. “Antes era um uniforme único, hoje há opções de cores, modelos e tecidos”, justifica a diretora pedagógica da escola, Irene Gil. Ela informa que o uso do uniforme s voltou a ser discutido, 30 anos depois.

As grifes universitárias

Com uma nova marca, lançada em julho passado, que assinala os 30 anos da Unisinos, o desenvolvimento de uma grife está nos planos da Diretoria de Comunicação e Marketing da Universidade, dentro das comemorações do aniversário que se estendem até julho do ano 2000. “Mas por enquanto ainda não temos nada tangível. Vamos esperar a formulação completa deste projeto. Ainda estamos na fase de pesquisa para definir uma linha de produtos. Claro que será de acordo com o perfil do público estudante, seja ele mais jovem ou adulto, mas com uma cabeça universitária”, resume a professora Sônia Haas, diretora de Comunicação e Marketing da Unisinos. Atualmente, além das pastas e produtos feitos pelos diretórios acadêmicos, a Unisinos terceiriza a marca para a Unishop, uma loja instalada no campus que vende alguns produtos como camisetas e moletons.

Quando o novo projeto de comunicação da Unisinos estiver concluído e a grife definida, deverão ser montadas duas boutiques, uma junto à Estação do Trensurb em São Leopoldo e outra no Espaço de Convivência da Biblioteca Central. “Não será simplesmente uma loja. Este espaço de convivência encerra o sentido do ambiente universitário da Unisinos, lugar de aprendizagem, de relações de unidade e respeito ao próximo. “A grife é um instrumento de comunicação, deve ter correspondência com estes concei tos, tem de ser uma coisa sólida, para valer, bem pensada. Usar uma marca no peito requer identidade com os valores da instituição”, defende Sônia Haas.

Há um ano, a Ulbra inaugurou uma loja no Shopping Iguatemi que oferece de camisetas a CDs. “Esta loja é um centro de informações e serviços da Ulbra e da rádio 107, em Porto Alegre, espaço para inscrição no vestibular, cursos de extensão e doutorado. É um canal de comunicação com o público em Porto Alegre”, revela o jornalista Luiz Figueiredo, do setor de Imprensa e Markenting da Ulbra.

A Fundação de Apoio da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Faufrgs) também montou uma loja no campus central da Ufrgs há um ano, com o objetivo de divulgar a marca da Universidade através de roupas e acessórios. Conforme a diretora administrativa Sylvia Hofmeister, o objetivo é a divulgação da marca da Ufrgs através de produtos de qualidade e com preços acessíveis aos alunos. Na loja ao lado do bar do Diretório de Ciências Humanas encontram- se, por exemplo, camisas pólo de manga longa pela metade do preço do mesmo produto em butiques de shopping. “Não temos finalidade comercial, o importante é a divulgação da marca da universidade”, diz Sylvia, antecipando que em novembro será inaugurada uma outra loja no campus do Vale.

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