Artistas locais descobrem que público adolescente não é burro e apostam no mercado fonográfico como forma de expandir espetáculos musicais.
De escola em escola, o palco se arma para crianças e adolescentes para um aprendizado onde a música traz um pouco da realidade que nem sempre a sala de aula reflete. Não são shows televisivos, com musas sedutoras atraindo pais e filhos. São espetáculos com sofisticação de temas e ritmos. Enveredam pelo universo humanista dos direitos humanos ou do meio ambiente. Traçam o humor com personagens bizarros. Reinventam fábulas com toques de realidade. Ou simplesmente não tratam crianças e adolescentes como idiotas.
Beto Herrmann vem trilhando há anos este caminho. Em 1990, montou o show “Censura na MPB”, foi depois convidado a levar o espetáculo para alunos do primeiro e segundo grau das escolas de Porto Alegre. Com um trabalho mais recente, o grupo “Cuidado que Mancha” também enveredou pelo mesmo rumo, com “A Mulher Gigante”, o espetáculo que também virou CD. Assim como o CD “Histórias para Ouvir”, onde são narradas histórias infantis recriadas por vários autores e grupos.
O trabalho desses grupos, que pode parecer apenas localizado, vem se multiplicando de escola em escola. Contabilizam-se centenas de apresentações. Esgotam-se os CDs das prateleiras. E uma saudável semente de inteligência e sensibilidade chega a um público que a publicidade e as musas gostosonas insistem em tratar apenas como presa fácil de consumo. Ahistória contada através da música levou Beto Herrmann às escolas. Foi em 1990, com o show “Censura na MPB”, onde retratava épocas da história brasileira através de canções. Foi convidado para se apresentar nas escolas da periferia de Porto Alegre, no projeto de descentralização da Secretaria Municipal de Cultura. O público era, na maioria, de adolescentes que estavam entre a 6ª série e o segundo grau. “Foi impressionante a troca com esse público”, lembra Beto. Mas era apenas o começo.
Vieram depois espetáculos em série para crianças e adolescentes. Em 91, “A Arca de Noé”, de Vinícius de Morais e Toquinho, dirigido por Zé Adão Barbosa. Sucederam-se “A Cigarra e a Formiga”, “O Beabá Encantado” e “Oficininha”, que levou o compositor a dar aula na escola Curumin, numa disciplina chamada “Vivência Musical”. Essa produção fértil tem como pano de fundo uma temática toda voltada para os valores humanistas – dos direitos humanos ao meio ambiente.
Beto fala em “pedagogia artística total” onde, além da sonoridade, é possível usar outros recursos como luz, expressão facial e outros métodos pedagógicos. E vão se multiplicando os espetáculos. “O Beabá Encantado”, que trata das várias fases da vida de uma criança, já foi apresentado mais de 500 vezes. “Oficininha” teve mais de 100 apresentações. Há também os CDs, onde são sugeridas algumas atividades pedagógicas junto a cada canção. Beto monta, no momento, “Brasil de Duas Caras”, os 500 anos da república brasileira em ritmo pop, onde sobressaem canções dos Titãs, Skank, Paralamas e outras composições próprias. E, apesar de considerar- se “um guerrilheiro cultural”, Beto Herrmann conquista um grande público através das escolas. Confessa que descobriu o essencial: “Desfiz a idéia de que precisava das luzes da ribalta para montar um show”.