CULTURA

Porto Alegre encena sua maturidade nos palcos e ruas

Publicado em 24 de setembro de 1999

Depois de cinco edições bem sucedidas, festival de teatro da capital se consolida com programação de luxo. 36 peças estarão em cartaz.

O sempre entusiasmado di-retor de teatro Luciano Alabar-se tem motivos de sobra para festejar o 6º Porto Alegre Em Cena esbanjando adjetivos. “É um festival que demonstra com-petência, ousadia e, sem exagero, dialoga com o mundo, reunindo linguagens, criadores e produções artesanais. É um festival que afirma uma política cultural corajosa”, diz ele.

Coordenador desde a primeira edição do festival, em 1993, Alabarse revela que mais de 200 pessoas – entre técnicos, atores e diretores – estão envolvidas nesta celebração, que ocorre de 8 a 26 setembro em Porto Alegre. O seminário “Teatro Brasileiro: o que fazer amanhã?” abre com debates a agenda que se estende por 14 dias de encenações.

Toda essa mobilização, alavancada pelo investimento da Prefeitura de Porto Alegre e pelo patrocínio da Telefonica e da Nokia, se justifica diante do padrão da programação. Ela inclui peças do estado, do país, dos vizinhos do Cone Sul e da Europa, em uma pintura plural do teatro contemporâneo que, dificilmente, a indústria cultural teria fôlego e interesse para realizar, pelo menos ao preço de R$ 5. “Isso é a democratização da cultura, que aumenta as expectativas culturais e faz a cidadania gostar mais de teatro”, assinala Alabarse.

Por esse ingresso – quase simbólico – será possível assistir à música estelar do consagrado conjunto vocal Madredeus, de Portugal, no confortável Teatro do Sesi. Ou então, no recém reinaugurado Teatro de Câmara Túlio Piva, desfrutar de “Shakespeare’s Villains”, uma adaptação de textos do dramaturgo elisabetano que revisita criaturas tão universais quanto Hamlet, Ricardo III, Macbeth e Overon. Roteiro, direção e atuação de ninguém menos do que Steven Berkoff, o diretor e ator inglês que o cinema de Stanley Kubrick imortalizou no profético “Laranja Mecânica”.

Quem ousar achar William Shakespeare pouco eloqüente, porém, tem a opção do arrojado grupo francês Metalovoice. Com seu estrondoso “Espèce H”, reinventa o tempo linear da humanidade – passado, presente e futuro – em plena via pública, no caso, o estacionamento do DC Navegantes. E este é apenas um pedaço do 1º Rua em Cena que, no dia 13, vai transformar a Andradas em um território dramático, reunindo o indispensável Ói Noiz Aqui Traveiz, os grupos Falos & Stercus, Povo da Rua, Bumba Meu Bobo, Usina do Trabalho do Ator e Enganadores da Morte, além do brasiliense Cia Carroça de Mamulengos.

As apresentações de rua ocorrerão também no Largo Glênio Peres, na Usina do Gasômetro, no Brique da Redenção, na vila Restinga e no Morro da Cruz. Em convênio com a Secretaria da Cultura do Estado, o roteiro abarcará Caxias do Sul, Palmeira das Missões, Viamão e Santa Maria. Será a primeira interiorização do Em Cena.

Igualmente estimulante será “Desobediência civil” na performance que a atriz Denise Stóklos traz ao palco do Theatro São Pedro. Apeça é baseada em textos do norte-americano Henry David Thoreau, cujas idéias influenciaram personalidades como Gandhi e Martin Luther King.

E não poderia faltar a produção de Buenos Aires e Montevidéu que, inclusive, já abriram as cortinas de seus palcos para o Porto Alegre Em Cena. Entre as quatro montagens uruguaias está “La senhorita Klein”, peça do inglês Nicholas Wright com direção de Jorge Denevi, que dramatiza as angústias e dilemas da protagonista, rivalizando as contradições pessoais a psicanálise. Do Uruguai também vem uma adaptação de “Gota D’Água”, de Paulo Pontes e Chico Buarque, com direção de Maria Azambuya.

Ao lado de outras montagens intenacionais, como alemãs e italianas, o mestre Zé Celso Martinez Corrêa, do Grupo Oficina, traz “Cacilda!”, sobre a vida da grande atriza Cacilda Becker. São Paulo estará representado por “Nijinski”, com interpretação do ator Luís Melo e direção de Rossela Terranova Cláudia Schapira. Rio de Janeiro participa, entre outras, com original de Federico Garcia Lorca, “Dona Rosita, a Solteira”, com um grande elenco que inclui Leonardo Vieira. O Rio Grande do Sul estará com cinco espetáculos: “O gozo das feiticeiras”, “Noite Brecht”, “A vida muda”, “Gueto bufo” e “Boca Ouro”.

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