Mauá, o novo filme de Sérgio Rezende, retoma veia histórica do cinema
A proximidade dos 500 anos do Brasil parece estar servindo de tônico para o cinema nacional. Esse reboliço, inclusive, já rendeu indicações para o Oscar. O exemplo mais recente de que os brasileiros estão desenterrando (e querendo ver) sua história é o filme Mauá, o Imperador e o Rei, do diretor Sergio Rezende, o mesmo de Canudos (1997) e Lamarca (1994). A saga de Irineu Evangelista de Souza, gaúcho nascido na cidade de Arroio Grande, em 1813, que por seus feitos – a construção da primeira ferrovia brasileira, a fundação do Banco do Brasil e a extensão de cabos submarinos de telégrafo até a Europa, por exemplo -recebeu os títulos de Barão e Visconde de Mauá, estréia no dia 15 de outubro em todo o país. No elenco, Paulo Betti (Mauá), Malu Mader e Othon Bastos.
Sergio Rezende não esconde que foi difícil chegar na versão final do filme, pois precisava “sintetizar em duas horas a vida de um grande homem, sem a ilusão de desvendar a verdade”. Sem dúvida, a figura de Irineu Evangelista de Souza é polêmica. No livro Mauá, empresário do Império (1995), o jornalista e escritor Jorge Caldeira conta que quase tudo que Mauá queria fazer “contrariava as boas idéias correntes. Desde o começo, a maioria ao redor duvidava, desaconselhava, caçoava”. Segundo o autor, “enquanto os brasileiros lamentavam a falta de escravos, Mauá implementava administrações participativas e distribuição de lucros para os empregados”.
Apesar de Sergio Rezende afirmar que “um filme é um filme, não substitui livros, não ocupa o espaço da escola, não pretende dar aulas a ninguém”, é inegável o poder do cinema em“atiçar” os ânimos e uma sadia curiosidade do público. Por isso mesmo a produção cinematográfica não chega sozinha, vem acompanhada do Projeto Escola. O projeto pretende mobilizar o maior número possível de estudantes para ir ao cinema.
A iniciativa oferece uma assessoria exclusiva para professores e escolas, um extenso material didático sobre temas do filme relacionados ao currículo escolar, além de sugestões para atividades em sala de aula. Segundo Heloísa Rezende, coordenadora do projeto, neste final de século é possível constatar que nada mudou tanto quanto a escola, que hoje é ativa e participante. “Uma nova maneira de educar está no ar. Aarte vem sendo a grande parceria, e o cinema é, a partir de sua linguagem mágica, o veículo ideal para aproximar o lúdico do educativo”, aposta Heloísa.
Mauá nos Bastidores
Foram mais de cem cenários revelando o Brasil do século 19. Móveis autênticos, tapetes luxuosos, objetos obtidos em antiquários e com colecionadores, lençóis e toalhas da época resgatados junto a famílias tradicionais, que mostram a riqueza e as extravagâncias das elites do Império.
No outro extremo, a reconstituição precisou de porões escuros e casebres miseráveis para revelar o submundo em que viviam os escravos e pobres.
Filmar em Liverpool (sul da Inglaterra) foi fichinha perto dos problemas enfrentados no Brasil. Lá, a produção pôde contar com ambientes preservados historicamente. Em algumas ruas, por exemplo, o calçamento e as fachadas das casas eram originais. Aqui foi preciso fugir do barulho, do asfalto, dos postes de luz, fios, outdoors. Serviram de locações no Rio o palacete da Marquesa de Santos, em São Cristóvão, onde Mauá viveu por muitos anos e hoje é a sede do Museu do Primeiro Reinado, e o consulado de Portugal.
Para as filmagens no Paço Imperial, em função do calçamento moderno, foram necessários 20 caminhões de terra para cobrir toda a extensa área da Praça XV, no centro do Rio, com mais de cinco mil metros quadrados.
O Estaleiro Ponte de Areia foi erguido em Magé, também no Rio, justamente no mesmo ponto em que surgiu a primeira estação de ferro do Brasil, concebida por Mauá.