Não é novidade que tem muita gente desconfiada com a Internet, achando que ela não é segura. Livre e aberta, é o tipo de lugar onde pode-se encontrar todo tipo de informação. Inclusive errada, deturpada e até criminosa. “Sim, estamos sujeitos a encontrar desinformação na Internet, como em qualquer banca de revistas”, alerta Marília Levacov, professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) e doutora em mídia e tecnologia pela Boston University, nos Estados Unidos. “Algumas vezes é difícil separar o joio do trigo, principalmente para as pessoas que não têm algum conhecimento do mundo e dos suportes (jornal, TV, rádio, Internet). As crianças são especialmente vulneráveis, mas não é pela Internet. É pela informação e desinformação que existe em qualquer mídia”.
Isso quer dizer que a busca de conhecimento na Internet deve seguir a mesma lógica utilizada na escolha de bons livros, por exemplo. Ou seja, é importante que a pessoa desenvolva o senso crítico para poder diferenciar a informação da desinformação e também buscar fontes confiáveis, sites que se responsabilizam pelo conteúdo. “É preciso olhar com ceticismo qualquer informação que se recebe”, aconselha a professora, ressalvando que a Internet existe desde a década de 60 e que até 1994, enquanto era exclusivamente acadêmica, tinha um código de ética severo. “Depois, quando se abriu comercialmente a rede, aos poucos qualquer vestígio de ética que houvesse ruiu. Alguns países estão procurando proteger o usuário, mas o Brasil não fez nenhum movimento nesse sentido e não sei se vai fazer tão cedo, o que é uma vergonha, mas típico da falta de ética que existe no país de um modo geral”, sentencia. Outro diferencial deste suporte digital é o poder de atração, assim como a televisão. Marília entende, inclusive, que os programas exibidos na TV são apenas as iscas para que se fique lá enquanto está passando a propaganda, que é o que viabiliza esse meio de comunicação. “Os computadores desconectados e conectados são ferramentas maravilhosas, e as pessoas têm mais é que se apropriar e usá-las muito”, acredita, comentando que são as crianças que vão pensar novas maneiras de utilizá- las. “Nós, adultos, nem conseguimos imaginar porque estamos ainda apegados às maneiras tradicionais de lidar com a informação. Quando Gutenberg criou os tipos móveis, ele reproduziu com o chumbo exatamente o desenho da escrita cursiva dos escribas. Ele não conseguia pensar em outro tipo de letra, era aquela que conhecia.”
Além disso, vale lembrar que a introdução da imprensa na Europa, no século 14, não foi recebida de braços abertos. Os livros eram domínio de uma pequena elite e os monges escribas renascentistas preocupavam- se com o perigo de perder o controle sobre os documentos. Temiam que as obras impressas viessem cheias de erros tipográficos, que espalhassem sem censura idéias que deveriam ficar fora do conhecimento de pessoas inocentes e despreparadas, além de que a reprodução em massa fosse desvalorizar o trabalho intelectual e a fonte de sustento de tantos mosteiros. Para Marisa, como os adultos não estão mais no estado de permanente aprendizagem – diferentemente das crianças – é um pouco penoso para eles o processo de aprender coisas novas. “O adulto, às vezes, fica ansioso em passar por esse estado de ignorância transitória”.
Uma tendência avassaladora e que está acontecendo com tremenda velocidade é a rede disponibilizar obras literárias na íntegra. A princípio, isso é excelente. Mais um passo para a tão sonhada democratização da cultura. Bastam alguns cliques para se ter na tela do computador obras que consagraram autores de vários cantos do mundo. O mais interessante disso é que esse serviço, pelo menos por enquanto, é puro voluntariado. São pessoas que, por sua própria vontade, escaneiam livros inteiros, cujos direitos autorais já estejam vencidos, para colocar na Internet. Até existem grupos, por enquanto poucos, que se organizam para incentivar essa atitude, um deles, talvez o mais conhecido, é o Projeto Gutenberg. Marília acredita que o número de títulos vai aumentar, inevitavelmente. Para se ter uma idéia, o próprio Projeto Gutenberg pretende, até dezembro de 2001, colocar à disposição gratuita dos usuários da rede um trilhão de textos eletrônicos. “As transformações que tivemos anteriormente levaram várias gerações ou anos para se instalar. Esta já está se instalando e nos atropelando, quer queiramos, quer não. Podemos ser parceiros entusiasmados ou relutantes dessa história”, constata. “Outra força que impulsiona a transição da mídia impressa para a digital é a rápida degradação do livro, devido à mudança ocorrida no final do século 19, quando se fez a transição na tecnologia de produção do papel para a polpa acidificada, gerando um papel mais branco, legível e barato”, explica a doutora em mídia e tecnologia. A ressalva é que a mudança de suporte implica apenas a preservação da informação e não na do documento físico. Então, o suporte digital resolve uma parte do problema e cria novos: o da obsolescência das tecnologias de preservação, armazenamento e recuperação (hardware, software, etc) e, devido a facilidade de manipulação de dados pela mídia digital, o da autencidade. A verdade é que essa novela só está começando e nesse exato momento muitas soluções foram criadas, talvez até para uma das dificuldades aqui mencionadas. Enquanto isso, o bem-aventurado internauta deve, com o perdão do arcaismo, se antenar, procurar saber mais sobre como não cair em nenhum conto-do-vigário cibernético e, claro, pesquisar muito, só assim se aprende.
Dicas importantes sobre Internet
Existem duas maneiras de buscar informações na internet: pelos sites catalogadores (como o yahoo, cadê, aonde), que antes de colocar uma página nas suas listas visitam o site para verificar se está tudo bem, se não leva a outros lugares não desejados através das palavras chave inseridas no conteúdo oculto da página; e pelos sites chamados indexadores (como o altavista, todobr), feitos por programas, onde os endereços não são conferidos e as listas são criadas de acordo com alguns critérios: se a palavra está no nome do site, pelas palavras chave colocadas nos dados invisíveis, quantas vezes aquele termo aparece no texto da página visível, se sua ocorrência está no topo ou na metade superior. Para fazer uma busca mais certeira e econômica (pulso telefônico, provedor e o tempo do usuário), recomenda-se o uso dos operadores lógicos como e, ou, não, +, -, assim pode-se reduzir bastante o universo dos sites onde a palavra aparece. Exemplo: + cachorro ou cão – gato – animal.
É possível acessar o conteúdo invisível de cada site para conferir as palavras chave. É comum a pessoa buscar um assunto e aparecer na sua lista páginas que, se visitadas, não têm a informação procurada. É que a palavra usada pelo usuário como descritor foi colocada, com muita má-fé, nas palavras-chave daquele site. Em geral colocam-se palavras muito procuradas como sexo, pornografia, futebol, o que acabará jogando aquela página para o topo da lista. Para chegar ao conteúdo oculto no Netscape Comunicator, clique em View, no Menu, e depois em Page Source. No Explorer, em Português, vá em exibir e após código fonte.