O jovem escritor e jornalista Jéferson Assumção, de 28 anos, pretende provocar polêmica com seu próximo livro de ficção, A Máquina de destruir leitores. Trata-se de sua décima sexta obra, que o autor espera seja lançada ainda este ano, uma vez que duas editoras já se manifestaram interessadas no projeto. “O livro é uma metáfora do papel da escola no ensino da literatura, que acaba afastando os jovens da leitura ao invés de aproximá-los”, explica o autor. A narrativa é quase autobiográfica e sintetiza as vivências de Jéferson e suas desventuras com o ensino da literatura nas escolas públicas por onde passou e vivenciou práticas pouco recomendadas, segundo ele, para o estímulo ao gosto pela leitura. “Tenho notado que estes métodos ainda são utilizados na grande maioria das escolas por onde tenho passado e representam um verdadeiro perigo à formação de novos leitores”, afirma Assumção, baseado em suas visitas constantes às escolas da rede pública e privada.
No livro, o personagem principal é um estudante que se chama Ítalo (uma referência explícita ao escritor Ítalo Calvino – autor de Seis Propostas para o Próximo Milênio), que se vê diante da tal máquina tendo de enfrentá-la. No livro, a máquina é uma grande caixa de metal com correias, engrenagens, tubos retorcidos, fios e correntes. O leitor fica sentado dentro dela, acoplado a um capacete dividido em duas partes envolvendo a cabeça. Óculos ligados a ele transmitem imagens de televisão. Um sistema de som utiliza fones de ouvidos para transmitir os discursos dos professores. Enquanto isso, Jeremias, o auxiliar do professor, pedala a máquina para que ela movimente suas engrenagens e as quatro rodas que deslocarão o leitor pelos labirintos da máquina. “Me utilizei de uma narrativa kafkiana propositalmente. Acho que é a melhor maneira de descrever a agonia do leitor”, diz Assumção.
A argumentação do escritor é que a escola acaba reproduzindo o discurso pragmático e utilitarista da leitura, além uma série de preconceitos ligados à literatura. “A arte não é respeitada e invariavelmente os professores não conseguem entender o seu verdadeiro papel, que é de humanizar o leitor. Então, a mesma escola que deveria fazer resistência a este pragmatismo acaba criando novos utilitaristas e leitores profissionais”, constata. Mas o que seria esta leitura utilitarista? Na sua opinião, o ato de ler para passar de ano ou para fazer determinado trabalho escolar, alcançar a média etc., uma leitura feita mais por obrigação do que por prazer, estabelecendo uma relação ruim com o livro, algumas vezes traumática. “As pessoas deveriam ler por prazer, por que é bom para a alma. Tem um conceito que desenvolvi que é o da voluptuosidade, que abrange os benefícios não materiais e que são muito difíceis de mensurar”, completa Jéferson. Para ele, o que deveria ser feito no ambiente escolar é justamente o oposto, uma espécie de “marketing” do quanto é prazeroso o ato de ler, o quanto é ativa a vida do leitor. Tem-se uma idéia errada de que o leitor tem uma vida passiva, enquanto o mundo se move.
“É o trabalho do leitor que faz com que o texto exista realmente, ao contrário do telespectador. Este, sim, tem uma relação passiva com a obra. Um leitor só pode ser formado por um outro leitor e isso implica que sem essa idéia de prazer a educação é inútil”, define.
Jéferson Assumção escreve para o caderno Lazer e Cultura do Jornal ABC Domingo; é autor de 15 livros infanto-juvenis e faz palestras sobre literatura em escolas da região metropolitana.