Escritores buscam profissionalização no cooperativismo
Fotos:René Cabrales
Uma cooperativa. Como os produtores de leite se unem para tentar produzir mais e ter mais competitividade, dividindo os lucros, comprando mais barato. Como os agricultores fazem e os criadores de gado. Isso mesmo. Os “profissionais da pena”, também, os fabricantes de obras de ficção literária estão participando de reuniões para tentar formar a sua própria cooperativa. Claro que não é tão fácil como juntar uma dezena de produtores de arroz. Geralmente profissionais que têm outras atividades principais para poderem se manter, os escritores lutam contra a falta de tempo, em sua maioria dedicado a desentortar versos, criar personagens, garimpar palavras para montar frases.
Mesmo assim, há alguns meses eles vêm se reunindo. A mais recente dessas reuniões ocorreu dia 18 de julho, na residência do escritor Walmor Santos, presidente da Associação Gaúcha de Escritores (AGE) e proprietário da WS Editor. Em uma oportunidade anterior, eles assistiram a uma palestra sobre o funcionamento de uma cooperativa, na sede da cooperativa de médicos. Na ocasião eles foram informados sobre as características principais de uma cooperativa, como funciona o sistema de sócios que também trabalham para a empresa, com divisão de lucros e débitos.
Estiveram presentes Julio Conte, José Eduardo Degrazzia, Fernando Neubarth, Amilcar Bettega, Luís Dill, Jaime Cimenti, Orual Sória Machado, Maria de Lurdes Machado, entre outros.
Para esses escritores, uma cooperativa pode significar exatamente a independência, e quem sabe a profissionalização, de quem quer passar a vida escrevendo e pretende ser um pouquinho melhor pago por isso. A realidade do mercado sempre foi dura para os ficcionistas, principalmente os que estão chegando agora (há dez, 20, até 30 anos) e não contam com os carinhos sempre tão escassos da seletiva imprensa local. “A idéia é que os escritores gaúchos tomem conta de sua produção e lucrem com ela. Em todo o final do ano eles dividem o que há de lucro, e também os possíveis prejuízos”, explica Walmor Santos.
Assim que entrar em funcionamento, cada autor associado terá uma cota e lucros proporcionais ao seu trabalho para a cooperativa. “Poderá ter departamentos como uma assessoria de imprensa e outros, desde que os escritores resolvam criá-los e mantê-los”, lembra. Esta seria uma forma alternativa de se tentar divulgar melhor a produção literária do Estado, restrita hoje a uma revista literária e espaços reduzidos em jornais tomados de lançamentos de editoras do centro do País.
Os integrantes da cooperativa poderão trabalhar com qualquer editora e até mesmo editar seus próprios livros, negociando, eles mesmos, uma forma de aumentar seus lucros, para bem mais do que os 10% dos direitos autorais. “Vão poder vender os textos e negociar outras publicações”, afirma Santos, que pretende, assim que a cooperativa estiver funcionando, passar para responsabilidade dos escritores seu projeto Autor na Sala de Aula, um programa de palestras da WS Editor que tem levado escritores a muitas escolas de todo o Rio Grande do Sul.
Segundo Walmor, uma cooperativa, “apesar de não ser uma solução definitiva” na profissionalização dos escritores, é pelo menos uma forma de os autores aprenderem a gerir seus próprios negócios. “Tem músicos que são empresários, por que os escritores não podem?”, pergunta. Ele admite que, num primeiro momento, a união da “classe” dos escritores poderia incomodar algumas editoras, mas garante que a tendência é de que cooperativados e empresários da publicação possam ser bons parceiros.
Apesar de não estar ligada à Associação que preside, a cooperativa é um passo rumo a uma das metas de Walmor na direção da entidade, que é a formação de um sindicato dos escritores.