Luciano Alabarse está mais do que contente com a realização da sétima edição do Porto Alegre Em Cena entre os dias 16 e 30 de setembro: está exultante. O motivo principal de tanta alegria é a confirmação da vinda de Peter Brook, conhecido no Brasil por filmes como O Mahabaratha, de 1989.
“É o diretor teatral mais importante do século XX que vai estar no Brasil pela primeira vez”, festeja Alabarse.
Para o diretor da Usina do Gasômetro e coordenador do festival internacional de teatro, a vinda de Brook com sua nova peça, Le Costume, é o “ponto alto de toda a história do Em Cena”.
Foto: Guilherme Mohallem
O festival que já encantou e estarreceu platéias com grupos como o espanhol La Fura Dels Baus ou o alemão Volksbimes e peças como a provocativa Needles and Opium, também serve como espelho para a produção teatral porto-alegrense e gaúcha. “É uma amostragem do que temos de melhor, sem paternalismo”. A seleção dos espetáculos é feita por uma comissão integrada por representantes de entidades como DAD (Departamento de Arte Dramática da Ufrgs) e Sated (sindicato que representa a classe teatral). “É claro que todo mundo quer entrar”, admite Alabarse, “por isso, a seleção”. Este ano a parte da programação marca o retorno de Maria Helena Lopes à direção com o espetáculo Solos Em Cena.
Mas o Em Cena sempre quis ser bem mais do que um invento criado para atrair a atenção da mídia. Alabarse acredita que o festival, surgido como uma forma de intercâmbio cultural, tem servido ainda para conferir à capital gaúcha um status de maioridade cultural. Com isso, as programações têm presenteado o público com obras “plenas de visceralidade, sem concessões”. O coordenador do Em Cena lembra que a peça Decadência, do inglês Steven Berkoff, encenada em Porto Alegre em agosto último por Beth Goulart e Guilherme Prado, teve sua estréia nacional no Em Cena há três anos através de uma montagem argentina. Mesmo admitindo ter em mãos um festival amadurecido pela consagração de público e crítica, Alabarse diz que todo o ano é a mesma luta em busca de apoios e patrocínios. “Fora a parte da prefeitura de Porto Alegre, que sempre cumpre seu papel, a cada edição é preciso todo uma batalha para convencer novos patrocinadores e apoiadores.” Essa tarefa é facilitada justamente pela crescente aceitação do festival como evento consolidado no calendário cultural não só de Porto Alegre como do Mercosul.
“Já há a preocupação de festivais similares como na Argentina, em evitar a coincidência de datas até para que possamos agir em conjunto, aproveitando as mesmas atrações”, explica. O pique de trabalho é intenso e ocupa o ano todo para Alabarse e para a equipe de produção. “Há um momento de pico, quando as atrações começam a chegar e está na hora de começar mesmo, mas o trabalho não pára no resto do ano.” Enquanto entrava na reta final de preparação para o 7o Porto Alegre Em Cena, por exemplo, a equipe já tinha acertada uma primeira atração para a oitava edição, em 2001, o maestro e compositor Goran Bregovic. A música também teve sua parcela este ano, reservada para o espetáculo de pré-lançamento do festival, no dia 4 de setembro com apresentação da cantora italiana Milva, de muito sucesso nos anos 60, interpretando composições de Astor Piazzolla.
Assim como transcende o plano do teatro com o show de Milva, o 7o Porto Alegre Em Cena dá continuidade à diversificação com outros eventos paralelos como o ciclo de filmes Buenas Noches, Buenos Aires que reunirá produções argentinas em curta e longa metragem na Sala P.F. Gastal. Antecipando o clima do festival, entre os dias 13 e 15, acontece o seminário Para Onde os Ventos Sopram, reunindo o diretor baiano Márcio Meirelles, o crítico teatral Alberto Guzik e o dramaturgo cubano Reinaldo Montero. “A idéia do Porto Alegre Em Cena é estabelecer um diálogo com o resto do mundo e nisso ele difere, fundamentalmente, de outros festivais.”