Irmãos Karamázov – de Fiódor Dostoiévski – A obra publicada originalmente em 1880 é um clássico da literatura russa e mundial. O relançamento, depois de mais de uma década longe das prateleiras, permite aos novos leitores acesso a uma obra fundamental. Trata de relações de amor e ódio entre pai e filho, disputas por amor e dinheiro e assassinato em família. Em seu último texto (este foi o último romance escrito pelo autor antes de morrer), as características e as diferenças entre as personagens ficam evidentes à medida em que Dostoiévski (1821-1881) vai expondo com texto vigoroso as suas complexidades psicológicas. A introdução de Otto Maria Carpeaux revela o fascínio do jornalista e escritor russo pelo universo policial, citando obras como Crime e Castigo, O Idiota e Os Demônios, todos tendo o crime como elemento recorrente em sua narrativa. Ediouro – 746 páginas. R$ 39,00.
O Diabo e Outras Histórias – de Liev Tostói – Reúne cinco pequenas obras-primas. O conde russo que viveu entre 1828 e 1910 se transformou em autor de renomados e extensos romances como Guerra e Paz e Ana Karenina. Esta antologia inaugura a coleção Prosa do Mundo e explora temas como o amor, a natureza, a consciência moral a injustiça e a morte. Cosac & Naify Edições – 283 páginas – 35,00.
Cultura Brasileira ao Vivo, Cultura e Dicotomia – vários autores – Coletânea de depoimentos de artistas, escritores e jornalistas sobre a indústria cultural e os fenômenos instantâneos de mídia. Assinam os depoimentos personalidades como Gustavo Dahl, Stephan Nercessian, Otaviano Carlo d Fiore, Marisa Leão, Sérgio Brito, Arthur Dapieve e outros. Imago Editora – 209 páginas.
Canudos por óticas diversas
O dilema entre História e Literatura, entre o processo criativo do ficcionista e a necessidade de manutenção de um rigorismo científico por parte do pesquisador, formam o ponto central de Literatura e História em Diálogo: Um Olhar Sobre Canudos, de Ivânia Campigotto Aquino (UPF Editora, 98 páginas, R$ 15,00). A autora transformou em livro sua dissertação de mestrado feita para a PUC/RS em 1999. O episódio da revolta de Canudos, que teve na figura carismática de Antônio Conselheiro seu principal mentor e líder, é o fato histórico que serve de ponto de investigação para o trabalho de Ivânia Campigotto Aquino a partir da análise de duas obras que têm Canudos como inspiração: A Guerra do Fim do Mundo, do peruano Mario Vargas Llosa, publicada originalmente em 1981, e Canudos: O Povo da Terra, lançada pelo historiador brasileiro Marco Antonio Villa em 1997. São dois olhares bastante distintos sobre os acontecimentos que se desenrolaram no sertão baiano no final do século XIX, em 1897, numa reação à República instaurada quase dez anos antes. Tanto para Vargas Llosa quanto para Villa a obra referencial é Os Sertões, de Euclides da Cunha, considerado o registro mais rico em termos históricos, literários e científicos sobre Canudos. Ao tomar conhecimento da revolta na Bahia, Cunha, engenheiro e militar, somou uma nova atividade à sua vida, a de repórter, fazendo a cobertura da conflagração de Canudos para o jornal O Estado de São Paulo.
Ivânia situa Canudos como um episódio que desde sua ocorrência modificou significativamente as escrituras literárias e históricas que concedem um “sentido à política, à sociedade e à cultura brasileira”. A obra de Vargas Llosa é vista como representante do que Ivânia classifica de romance histórico, que se vale “especialmente de fatos e personagens reais, criando obras que são verdadeiras peças historiográficas”. O paralelismo entre as obras de Vargas Llosa e Villa é esmiuçado por Ivânia ao longo do livro, debruçando-se sobre a capacidade da história manter seu caráter científico em uma época de tantas dúvidas. Parte dessa investigação está centrada no fato de o próprio texto de A Guerra do Fim do Mundo fazer um desafio ao leitor em termos do que seja ficção ou fatos históricos confirmados. A pesquisa conduzida por Ivânia envolve diversos outros autores, além de Vargas Llosa e Villa, todos eles fascinados pelo episódio de Canudos ou mesmo relatos sobre a região geográfica do sertão baiano anteriores à revolta e aos textos preciosos de Euclides da Cunha. A conclusão da pesquisa de Ivânia é de que tanto Vargas Llosa quanto Villa criaram obras que aproximam “as áreas do conhecimento de que são representantes”, ou seja, estabeleceram uma nova e transcendente compreensão entre literatura e texto científico constituindo títulos que “contribuem na luta contra o esquecimento de Canudos”.