CULTURA

Passado, presente, mito e realidade

Publicado em 4 de maio de 2001

Mas quem eram estes cavaleiros? Existem várias concepções distintas sobre esta ordem militar. Uma delas tem origem nos romance de cavalaria de Sir Walter Scott. Em Ivanhoé, por exemplo, o personagem Brian de Bois-Guilbert é um anti-herói demoníaco, “valente como os mais intrépidos de sua ordem, mas com a mácula de seus costumeiros vícios, orgulho, arrogância, crueldade e luxúria: um homem insensível que não teme nem a terra nem o céu”, escreve Scott. Outros dois Grãos-mestres descritos em suas obras não são diferentes. É o caso de Lucas de Beaumanoir, também de Ivanhoé, descrito como um fanático e Giles de Amaury, um tipo traiçoeiro no Romance O Talismã. Em contraponto, na Ópera Persifal, de Wagner, cavaleiros similares aos templários aparecem, desta vez, como guardiães do Santo Graal, o cálice sagrado utilizado por Jesus na santa ceia. Embora, a semelhança seja apenas superficial, o libreto do século 19 se baseou em um poema de século 13, sendo o suficiente para atiçar a imaginação das gerações futuras em ver realidade onde só há ficção. No final do século XX os templários também mereceriam lugar de destaque no romance O Pêndulo de Foucault, de Umberto Eco. Neste livro, Eco ironiza justamente as teses conspiracionistas e o surgimento de mitos, como o dos templários, sua apropriação por seitas esotéricas e o fanatismo destes grupos. O tema das teses conspiracionistas seria abordado mais tarde em Caminhos pelos Bosques da Ficção, um conjunto de palestras em que o autor discorre sobre o perigo de a ficção se tornar uma realidade historicamente aceita ou popularmente reconhecida embora, muitas vezes, tenham origem em obras de ficção e teses forjadas, inconsistentes.
Embora a compilação de Read tenha mais virtudes do que equívocos, o escritor também resvala nessas teses conspiracionistas e insinua que a inspiração para a formação da SS de Himler, a polícia especial de Hitler, teria partido dos Cavaleiros Teutônicos, ordem semelhante à dos templários existente na Alemanha, no mesmo período das cruzadas, com objetivos similares de expansão da fé cristã, só que em direção à Europa oriental. Também tenta relacioná-los com os zelotes, que eram brigadas judias de cavaleiros efeminados, porém sanguinários e excelentes soldados protetores do Templo de Salomão durante a ocupação romana da Galiléia. Interpretações que a professora Cybele Almeida, da Ufrgs considera um pouco exageradas e difíceis de justificar. Mesmo assim ela considera o trabalho de Read indicado para iniciantes no tema e até como material de apoio em sala de aula. .
Mas Read não pára por aí. Para ele, existem extraordinários paralelos entre o passado e o presente na história dos templários. Ele vê no imperador germânico Frederico II de Hohenstaufen um governante cuja amoralidade idiossincrática remete a Nero, no passado remoto e a Hitler em tempos recentes. Também considera o conceito medieval de um Sacro Império Romano muito semelhantes às aspirações para a União Européia, para aqueles que a criaram. Os assassinos na Síria são descendentes dos sicários judeus e ancestrais dos homens-bombas do Hesbolah. A atitude de muitos muçulmanos do oriente Médio para com o moderno Estado de Israel é muito parecida com a de seus ancestrais para com o reino cruzado de Jerusalém. E o autor vai adiante e indaga ao leitor sobre quantos líderes árabes, de Abdul Naser a Sadan Hussein não gostariam de tornar-se um Saladino dos nossos tempos, derrotando os invasores infiéis. .

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