CULTURA

Ítalo Calvino: Um General Na Biblioteca

César Fraga / Publicado em 26 de setembro de 2001
Livro traz textos do escritor italiano criados entre os anos 40 e a metade dos 80

Divulgação

Livro traz textos do escritor italiano criados entre os anos 40 e a metade dos 80

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Desci da calçada, recuei uns passos, olhando para cima, e, chegando no meio da rua, levei as mãos à boca, como um megafone, e gritei para os últimos andares do prédio:
– Tereza!
A minha sombra se assustou com a lua e se agachou entre meus pés.

Este é o trecho inicial do novo livro de Ítalo Calvino: Um General Na Biblioteca (Editora Cia. das Letras, 250 páginas). Novo? Mas o cara morreu em 1985. Pois é. Esther Calvino, a esposa de Ítalo, resolveu tirar do baú, textos que o autor escreveu, ao longo dos anos, desde a década de 40, até o final da vida. São em sua grande maioria pequenos contos e apólogos. O trecho do texto em questão é de 1943, extraído do conto O Homem que Chamava Tereza. Se não chegam a genialidade de Cidades Invisíveis e O Visconde partido ao Meio, servem para mostrar os verdes anos do escritor, tido por muitos como fundamental para entender o que se espera da arte neste milênio (ver seis propostas para o novo milênio de sua autoria).

O livro está dividido em duas partes, a primeira compreende a fase que vai de 1943 a 1958. Nesta, estão textos como Consciência, O voluntário e Solidariedade, que já mostram um Calvino estranhado diante de um mundo, que precisava de mudanças. É justamente nesta época, lembremos, que a Itália estava no auge da segunda guerra, que o escritor passa a fazer parte do Partido Comunista italiano. Sua estréia na literatura virá só em 1947 com O atalho dos ninhos da aranha, sua primeira publicação. A estréia na ficção em 1949, foi com Por último vem o corvo.

O interesse do livro está menos na qualidade do texto e mais na trajetória do escritor. Cada conto ou apólogo representa um momento de sua vida e pela primeira vez pode ser vista em paralelo com sua obra conhecida. São tentativas, esboços, estudos, mas não menos importantes.

Menos ingênuos e mais interessantes, porém, são os escritos da fase compreendida entre 1958 e 1984, já escritor maduro. Mas Calvino é Calvino. Se ele próprio não quis publicar em vida este material, talvez por considerá-los menores, pouco importa. Em todos os textos é possível reconhecer a leveza com que escrevia e a estranheza que pretendia causar, muitas vezes, dizendo o óbvio.

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