Jean Baudrillard: a fantasia final da imortalidade humana
Controverso, provocativo, polêmico, impiedoso. Todos são adjetivos geralmente atribuídos ao sociólogo e pensador francês Jean Baudrillard. Incensado pelos “modernos” é igualmente um ensaísta que pensa criticamente esta mesma contemporaneidade que o festeja.
Nascido no ano 26 do século passado, o autor de América, As Estratégias Falsas, Simulacros e simulações, Cool Memories e The perfect Crime, chegou às livrarias brasileiras traduzido por Luciano Trigo, organizado por Julia Witwer e editado pela Civilização Brasileira (94 páginas), com seu mais recente livro de ensaios A Ilusão Vital.
Dividido em três capítulos, A solução final – a clonagem além do humano e do inumano; O milênio ou o suspense do ano 2000; e O assassinato real, o livro aborda a indigesta condição humana na chamada “pós-modernidade”.
Para Baudrillard a questão que envolve a clonagem é a questão da imortalidade: “Todos almejamos a imortalidade. É a nossa fantasia final, uma fantasia que também está em curso em todas as nossas ciências e tecnologias modernas – em curso, por exemplo, no congelamento profundo da suspensão criônica e na clonagem, em todas as suas manifestações”.
Baudrillard defende existir algo oculto em nós (humanos), que seria a própria morte. Porém existe muito mais, algo escondido nos esperando em cada uma de nossas células: o esquecimento e a negação da própria morte. Repousaria nessas células a nossa imortalidade latente à espera de nós mesmos. Um perigo inverso à luta da vida contra a morte. “Precisamos lutar contra a possibilidade de não morrermos”, escreve.
Segundo o sociólogo, impõe-se uma luta pela divisão, pelo sexo, pela alteridade e por fim pelo direito de morrer. Embora possa parecer um delírio pós-moderno suas preocupações chegam em um momento em que a humanidade se mostra fatigada pelo sexo, pelas diferenças, pela emancipação e pela própria cultura. Resta-nos, portanto, encarar ou desviar os olhos destas questões.