CULTURA

O vaga-lume e a metáfora da luz

Ana Esteves / Publicado em 12 de julho de 2002

A alegria de um menino que vê, pela primeira vez, o brilho dos vaga-lumes no pátio de casa em contraponto com a luz esmaecida dos olhos dos pais, que discutem o futuro da relação. Essa é a primeira das metáforas sugeridas pelo curta-metragem Vaga-lume, realização da Plongèe Cinema, dirigido pelo cineasta gaúcho Gilson Vargas, que tem pré-estréia agendada para este mês em Porto Alegre. O filme resgata as lembranças da infância de um iluminador de teatro, que recorda a primeira vez que viu um vagalume. “O menino descobre essa luz especial da natureza, enquanto os pais têm a luz dos olhos, do amor, morrendo aos poucos.”, conta Vargas.

O jogo com as representações da luz também aparece no momento em que o menino aprisiona e sufoca os vaga-lumes, passando a idéia da luz/amor aprisionada que se apaga. “Aqui está representada a questão da liberdade, com duas leituras distintas: uma sugerindo a libertação dos vaga-lumes e outra ressaltando a liberdade individual. Nesse momento o filme remete para a crise do casal, também sufocado pela relação”, explica o diretor. Conforme Vargas, apesar da aura infantil que aparenta predominar, trata-se de uma produção com “densidade dramática acentuada”. Sobre o processo de produção, ele destaca alguns pontos curiosos: “Tivemos uma parte de produção de campo para a coleta de vaga-lumes, que foram isolados numa estufa a 21 graus. Eles eram alimentados diariamente e monitorados por um pesquisador da UFRGS. Outra parte dos insetos foi produzida virtualmente”, contou. Segundo ele, entre o processo de pré-produção, filmagem e finalização, o filme, cujo elenco é formado por Sérgio Etchychuri, Nelson Diniz, Vanise Carneiro e Rafael Serres, levou nove meses para ser finalizado.

vagalume

O curta-metragem terá sua estréia no 30º Festival de Gramado Cinema Brasileiro e Latino

Fotos Divulgação

A estréia oficial ocorrerá durante o 30º Festival de Gramado Cinema Brasileiro e Latino, em que o filme concorre na categoria de melhor curta 35mm. O projeto, cujo roteiro foi escrito há dois anos, foi selecionado pelo Fundo Municipal de Apoio à Produção Artística e Cultural (Fumproarte) no primeiro semestre de 2001. “Ficamos entre os primeiros colocados de todas as áreas culturais premiadas pelo Fundo”, orgulha-se Vargas. Além do apoio financeiro do Fumproarte, o filme contou com apoiadores como o Sinpro/RS, Sindicato dos Trabalhadores da Saúde, Trabalho e Previdência (Sindisprev/RS) e o Sindicato dos Trabalhadores do Judiciário Federal no Estado (Sintrajufe). “Os apoiadores são fundamentais, pois é indispensável somar esforços para realizar cultura, que é o alimento para a alma”, declarou o diretor.

Sobre a situação dos curtas no meio cinematográfico, Vargas é bem otimista. “Os curtas têm tido cada vez mais espaço, em emissoras de TV e através de projetos como o Curta nas Telas, além do que, os filmes gaúchos têm ótima aceitação em festivais pelo país e também na Europa e nos Estados Unidos. Hoje, em muitas situações, os curtas têm mais procura do que muitos longas gaúchos, sem falar que o mercado de longas é muito competitivo e o curta chega ao público mais facilmente. Ainda temos dificuldades, mas o espaço está um pouco maior. As pessoas vivem num corre-corre e por isso o formato diferenciado do curta tem conquistado cada vez mais seu espaço”, avalia.

Após a estréia em Gramado, Vaga-lume pega a estrada para participar de diversos festivais pelo Brasil e exterior. “O terceiro passo será a exibição em projetos como o Curta Petrobrás e o Curta nas Telas e a última etapa será a exibição na TV”, destacou o diretor. A direção de fotografia é de Sadil Breda, direção de arte, Iara Noemi e Gilson Vargas. A trilha sonora é de Fernando Basso e a música tema Pois é, de Chico Buarque de Holanda e Tom Jobim.

Quem é Gilson Vargas

O cineasta Gilson Vargas começou a carreira há 10 anos, quando o cinema gaúcho ainda era incipiente e a produção de filmes nacional foi travada com a extinção da Embrafilme. “Produzir cinema na época era um ato heróico e, em função disso, produzi muito material em vídeo, comerciais para a TV, documentários, vídeoclipes”. A produção em película recomeçou para valer em meados de 97, com o processo de retomada do cinema brasileiro, marcado pela produção do longa Carlota Joaquina, de Carla Camurati. Foi nesse período que Gilson estreou com o média metragem “Até”, vencedor do Prêmio Assembléia Legislativa de melhor filme, no 27º Festival de Gramado Cinema Brasileiro e Latino. Depois disso, ele filmou o curta 35mm “Quem”, que recebeu o Tatu de Prata de melhor direção na 26ª Jornada de Cinema da Bahia. A película também rendeu prêmios de melhor ator para Júlio Andrade, melhor atriz para Araci Esteves e melhor fotografia no 1º Prêmio APTC de Cinema Gaúcho, realizado em 2000. “Quem” também foi escolhido melhor filme pelo Júri de Internet do Cine 8, prêmio paralelo ao APTC.

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