René Cabrales René Cabrales
Trata-se de uma raspadinha, que em breve deverá estar circulando e que ajudará a financiar a atividade da Secretaria. Com ações como essas, Jacoby promete uma passagem “marcante” pela cultura no Rio Grande do Sul, propiciando também uma maior presença dos artistas locais no cenário nacional e até internacional. Para a empreitada, o secretário diz estar empenhado dia e noite em reuniões e articulações. A seguir, trechos da entrevista, agrupada por temas, e as respostas do secretário as questões enviadas por artistas e membros da comunidade cultural gaúcha.
Ações em conjunto – “Queremos que as ações da Secretaria de Cultura sejam realizadas através de parcerias com prefeituras, com instituições, com universidades, com a sociedade em geral. Além disso, as próprias secretarias de Estado – afins à área da Cultura, como as secretarias da Educação, do Meio Ambiente, do Turismo – têm um papel maravilhoso a ser desenvolvido. Quer dizer: não há uma definição de limites, de espaço para a Cultura, pois ela interage com as outras. Basta pegar o exemplo da própria Secretaria do Meio Ambiente. Ela trata de um assunto que dá uma dimensão nova para o mundo e esta é também uma questão cultural”.
Interior e exterior – “Queremos que a cultura esteja, realmente, no interior do Estado, não só na capital. Além disso, nosso grande desafio, e o diferencial que poderá ser uma marca desta gestão, é fazer com que os nossos valores, que as nossas riquezas culturais sejam exportadas, que estejam lá fora, que elas tenham espaço, que sejam reconhecidas e que consigam ocupar mercados, sendo consumidas, ao mesmo tempo que são fortalecidas aqui”.
O que já está sendo feito – “Nossas primeiras ações já começaram, como, por exemplo, as escavações para ampliação do Theatro São Pedro. Em três anos, pretendemos entregar 13.600 metros quadrados de área construída, dando uma nova dimensão ao teatro, que hoje é uma referência nacional. Também estamos em negociação com o Shopping Total, onde pretendermos ter a área Espaço do Futuro, com uma biblioteca para as crianças e adolescentes. A intenção é que a criança e o jovem, ao chegarem a esta biblioteca, curtam o ambiente e o hábito da leitura. Afinal, esta é a maior obrigação que a gente tem dentro da nossa missão: fazer com que as pessoas amem, gostem de ler, porque é através da leitura que as pessoas têm como se modificar, têm como se qualificar. E, ao se qualificarem, elas irão melhorar a própria sociedade. Na área da música, temos a Ospa. Queremos não só qualificá-la, como também buscar um espaço que dê condições de ela fazer um trabalho de dimensão, inclusive em nível internacional. A gente quer buscar a construção de um espaço para a Ospa, mas isso não está claro, embora tenhamos essa intenção. Quanto ao Cais do Porto, temos lá hoje quatro barracões para a cultura, que serão aproveitados na Bienal do Mercosul. Mas, depois, o Cais do Porto sairá de onde está hoje, para funcionar perto do Navegantes, o que vai liberar toda aquela área fascinante. O que nós queremos é encontrar formas de devolver esses espaços ao cidadão. É um desafio que estou assumindo como secretário. Também temos o parque histórico Bento Gonçalves, lá em Camaquã, para o qual já foi formada uma comissão que lhe dará uma destinação muito mais ampla do que hoje. É o caso do Museu Arqueológico de Taquara. Queremos que as pessoas da região ocupem estes espaços para a cultura. Temos ainda o Museu Hipólito da Costa, a Biblioteca Pública Estadual, o Margs e Palácio Piratini, que estão no projeto Monumenta, mérito que não é nosso, mas do pessoal do governo anterior. Eles conseguiram incluir esses prédios no projeto Monumenta e serão restaurados este ano”.
Raspadinha da cultura – “Conversando com o chefe da Casa Civil, Alberto Oliveira, nós tivemos a sinalização, não só da Casa Civil como do próprio governador, de que é possível criarmos no Rio Grande do Sul uma loteria cultural. Pretendemos que ela seja uma captadora de recursos para a cultura. Vai ser formada uma comissão com diversas secretarias para tratar do assunto. Queremos que essa raspadinha, com temas e elementos culturais, dê como prêmios CDs, livros, ingressos e outros, ou até mesmo carros. O Rio Grande do Sul vai ser vanguarda nisso. São Paulo está implantando algo assim, mas não tem este perfil. A gente quer, urgentemente, ir ao encontro de um mercado que está aí disponível. Não dá para ter idéia do que se pode arrecadar com isso, mas imagino que, dentro de dois meses, a gente tenha isso bem formatado. Será uma grande alavanca para acionar a cultura em todos os municípios do Rio Grande do Sul”.
Casa das Sete Mulheres – “Eu vejo a Casa das Sete Mulheres como uma dádiva divina, vejo como algo que não estava programado, que vem dar uma dimensão totalmente nova à auto-estima do povo gaúcho dentro do cenário brasileiro e mundial. Hoje o Rio Grande do Sul está sendo visto e ouvido não só por brasileiros como por muitos outros países que estão vendo a nossa história, que estão conhecendo paisagens fantásticas e que dão ao Rio Grande do Sul a imagem de um país totalmente distinto. Então, este momento é extremamente rico e ocorre exatamente quando estamos iniciando uma gestão em que queremos que os valores culturais, as riquezas dos nossos autores, nossos artistas, nossos cineastas ocupem espaço fora do Rio Grande do Sul. Além disso, essa oportunidade vai gerar muito retorno tanto em turismo como em negócios. O índice de audiência no Brasil e no exterior está dando uma dimensão totalmente nova ao Rio Grande do Sul, que está sendo projetado lá fora. Nós, gaúchos, estamos sendo reconhecidos como um povo civilizado, como um povo que está a fim de curtir a vida e uma civilização mais adulta, uma civilização mais criativa”.
Os problemas – “Quando chegamos, encontramos uma secretaria com um compromisso financeiro não atendido de R$ 1,258 milhão, o que compromete muito nossa capacidade. Isso porque o orçamento não ultrapassa três milhões. Com os cortes que foram determinados, então, é muito difícil. Mas, em contrapartida, o que eu pude constatar é que existe na sociedade uma necessidade incrível de coparticipação, de cogestão. Por exemplo, as pessoas e instituições que estão com projetos aprovados pelo sistema LIC ou pelo Conselho Estadual de Cultura estão vindo ao nosso encontro para conversar sobre esses projetos, o que dá uma capacidade de realização maior. Então estamos interagindo com isso, e vejo que há um campo muito fértil para essas parcerias, tanto com prefeituras quanto secretarias etc”.
Diferenças com o último governo – “Queremos que, efetivamente, haja participação de todos. Queremos que haja debate plural, total, queremos que isso seja uma regra. Não vamos admitir que exista só uma linha de pensamento, pois, do contrário, a sociedade fica atrofiada. Então, nós pretendemos incrementar os debates em todas as esferas para que o pensamento no Rio Grande do Sul seja altaneiro, livre, e que a sociedade saiba avaliar, de maneira totalmente livre, o que realmente pretende”.
Área do livro – “O setor editorial tem passado por momentos difíceis porque na última administração não houve, por parte do governo, compra para atualização dos acervos, das bibliotecas, nem públicas nem escolares. Não são necessários muito recursos para isso, mas é preciso que eles existam. Aí eu sou obrigado a assumir uma posição na qual o governador Germano Rigotto tem insistido: não se pode prometer absolutamente nada, exceto quando existam os recursos previamente definidos. Mas há um programa do Banco Mundial, a fundo perdido, que já foi utilizado tanto em Goiás quanto em Minas Gerais. É o Cantinho da Leitura, um programa que exige interesse por parte do Estado e que, após o primeiro ano, deve ter a contrapartida do governo, garantindo a qualificação de professores e aquisição de acervos para as bibliotecas escolares. Aqui no Rio Grande do Sul são mais de 3.600 escolas estaduais que necessitam ter acervos atualizados nas suas bibliotecas e que não os têm há muito tempo. O governador Britto fez a estante do Rio Grande, mas foi um projeto que não teve continuidade, por outras razões. Mas vamos encaminhar junto ao Banco Mundial este nosso interesse.
Editoras gaúchas – “Na área da literatura temos ainda a nossa Lei do Livro, que foi a primeira implantada no Brasil por um Estado e que requer regulamentação. Estamos encaminhando-a junto ao setor jurídico para que a lei possa ser implantada urgentemente. É uma riqueza essa diferença que o Rio Grande do Sul já conseguiu conquistar dentro do setor do livro. E está servindo de exemplo para alguns Estados. Afinal é uma possibilidade maravilhosa que nós temos não só para fortalecer o mercado editorial gaúcho, como para possibilitar às crianças e aos cidadãos, o acesso ao livro de uma maneira muito democrática”.
Perguntas da comunidade cultural
Luciano Wieser, ator – Sabemos das dificuldades das cidades do Interior, mas sempre esquecemos as cidades que vivem à margem de Porto Alegre, na região metropolitana, que ou são consumidas por Porto Alegre ou vão buscar nela qualquer forma de cultura ou entretenimento. Existe alguma proposta para estas cidades?
Roque Jacoby – “Não só no entorno, como para todas as cidades do Rio Grande do Sul. Queremos fortalecer os projetos itinerantes e as parcerias.”
Flávio Adonis, músico e professor – Está nos planos da Sedac a implementação do Fundo de Cultura (projeto do governo anterior)? Há interesse em dar continuidade ao projeto Roda Som? No caso de não ter continuidade, que alternativas serão propostas para o setor?
Jacoby – “O Fac é um instrumento que já foi criado e regulamentado, mas necessita de alterações. Não existem recursos orçamentários ainda. Foram previstos R$ 300 mil, mas o governo não dispõe dessa quantia. Nós queremos e vamos implementá-lo, nesse primeiro semestre. Mas também temos alternativas.”
Paulo Amaral, diretor do Margs – Há mais ou menos dois anos, a Sedac, por seu então titular, encaminou ao Ministério da Cultura solicitação para que o prédio da Aduana, vizinho ao Margs, fosse a este cedido com a finalidade de tornar-se o anexo de nossa Instituição. Este pedido não obteve ainda resposta. O senhor poderá empenhar-se neste esforço de conseguirmos o tão necessário anexo ao Museu de Arte do Estado?
Jacoby – Essa é uma idéia maravilhosa. Nós temos que, de maneira elegante, e de modo a não ferir suscetibilidades, buscar este espaço para a cultura. Não sei ainda quais os mecanismos mais eloqüentes que teríamos para que aquele espaço venha a ser destinado para a cultura. Vejo grandes possibilidades, só que ainda não tive oportunidade de também me engajar. O projeto requer uma série de articulações, que demandam tempo, disponibilidade e muita conversa. Estamos realmente muito empenhados em que aquele espaço, que é um espaço interessante, venha a se integrar ao mundo do Margs.
Vitor Ramil, músico – Roque, o senhor gosta de “roque”?
Jacoby – Olha, eu pessoalmente não curto, até porque não é a minha praia. Eu respeito, gosto muito de todos os gêneros musicais, clássica, tradicionalista… Respeito muito a sensibilidade das pessoas, então, o rock, até pela minha própria idade, não me fascina, mas respeito muito, admiro e vejo os jovens que se integram a este gênero como pessoas maravilhosas, porque elas se alegram. São pessoas que se identificam, e isso é cultura, isso é vida. A cultura e a vida são valores que fazem com que as pessoas se tornem felizes. É a forma como eu vejo e isso me dá força e sentido: trabalhar em prol de algo que eu considero fundamental para uma sociedade: as pessoas terem afinidades com os seus valores, com a sua história, com as suas origens e ao mesmo tempo serem diferentes, amarem a arte e a vida.
“É possível criarmos uma loteria cultural. Pretendemos que ela seja uma captadora de recursos para a cultura”.