O Teatro de Equipe está de volta. Não. O célebre grupo que marcou a vida cultural da capital gaúcha entre 1958 e 1962 não voltou a encenar, mas retorna em livro. Trem de Volta, de Mário de Almeida e Rafael Guimaraens (Libretos, 203 páginas), resgata a memória de um importante período da vida cultural e do teaatro gaúcho. O próprio Mário de Almeida, ao lado de Milton Mattos, Paulo José e Paulo César Peréio, foi um dos membros fundadores do Equipe. Em 1960 o grupo passaria a ter um espaço próprio para ensaios e apresentações, um local com 116 lugares, que serviu de abrigo para a intelectualidade porto-alegrense, motivando, inclusive, a proliferação de outros grupos e outros espaços. O fenômeno acabou chamando a atenção do crítico Sábato Magaldi, que desembarcou na cidade, vindo de São Paulo, em 1959, quando afirmaria no suplemento literário de O Estado de São Paulo: “Em Porto Alegre, há uma surpreendente avidez de teatro, por certo sem paralelo em outra cidade brasileira”.
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Porto Alegre vivia um momento ímpar. Ao mesmo tempo em que se comemorava o centenário do Teatro São Pedro, criava-se o Curso de Arte Dramática na Faculdade de Filosofia da Universidade do Rio Grande do Sul. Isso significava um passo importante para a profissionalização no teatro gaúcho. Para dirigir o curso, foi trazido o diretor e crítico literário Ruggero Jacobi, ex-parceiro de Lucchino Visconti na companhia oficial de teatro da Itália no pós-guerra, que já estava erradicado em São Paulo há alguns anos. O livro credita a indicação dele a nomes de peso na cultura local, entre eles, dois jovens estudantes influentes na intelectualidade gaúcha: Antônio Abujamra e Fernando Peixoto.
O Equipe existiu em um tempo de profundas transformações sociais, políticas e de comportamento, além de servir de ponto de partida para nomes como Ítala Nandi, Nilda Maria e Ivete Brandalise.
O livro obteve financiamento do Fumproarte/Prefeitura de Porto Alegre e teve sessão de autógrafos durante o Porto Alegre em Cena. Terá nova programação de lançamento prevista com atividades durante a Feira do Livro.
O lido e o escrito
Em Sobre a Literatura (Record, 304 páginas), Umberto Eco afirma que a leitura de obras literárias nos obriga a um exercício de fidelidade e respeito na liberdade de interpretação. Segundo ele, há uma perigosa heresia crítica, para a qual de uma obra literária pode-se fazer o que se queira, nela lendo aquilo que se bem entenda. “Não é verdade”, escreve, justificando que uma obra literária nos convida sim a uma liberdade de interpretação, pois propõe um discurso com muitos planos de leitura e coloca o leitor diante das ambigüidades da linguagem e da vida. A afirmação de Eco, estampada já no verso do livro é, se não um contraponto às afirmações de Roger Chartier (páginas 12 e 13 desta edição), mais um elemento para esse debate.