A começar pelo título deste livro Mídias sem limite: como a torrente de sons e imagens domina nossas vidas, (Todd Gitlin, civilização Brasileira, 349 páginas), já esbarramos com uma das grandes questões da vida contemporânea. Em nenhum outro momento da história, as mídias exerceram tamanho impacto cultural, como vêm desde o início do século passado e culminando em nosso tempo. Sobre Gitlin, cabe transcrever o comentário da jovem jornalista Naomi Klein, autora de No Logo, conhecido em português por Sem Logo: “Mídia não é só aquilo que vemos na TV, é a estrutura em que vivemos nossas vidas, não apenas o conteúdo, mas também o meio. Gitlin é nosso guia por esta vastidão moderna, um lugar no qual os rios correm com imagens projetadas, florestas são bosques de som, e o céu está coberto de anúncios”. Para Gitlin, porém, a mídia é ainda mais do que isso, tornou-se o centro da nossa civilização.
Antes de se pensar tratar-se de mais uma obra apocalíptica, melhor esquecer. O estilo do autor é fluido e, de certa forma, bem-humorado, para não dizer irônico. Para ele, todo livro começa com uma insatisfação, uma esperança e uma aposta. A primeira insatisfação diz respeito às coisas que o autor “pensava que sabia” sobre o tema. “Quanto mais árvores identificava menos floresta eu via”, metaforiza já na introdução. Escreve que aludimos à maior verdade sobre as mídias a partir de um erro gramatical, de forma oblíqua e não intencional. Costumamos nos referir a ela no singular: a mídia. Falamos da mídia, porém, como falamos do céu como se fossem um(a) só. Gitlin diz que algo em nosso inconsciente coletivo nos induz a esse erro. A experiência humana nos faz querer tratar as mídias no singular para não nos sentirmos confusos entre o são e o é, entre a tecnologia e o(s) significado(s) que ela transporta em seus códigos. Mesmo assim, com toda a confusão sentimos uma unidade em funcionamento. A “torrente” não tem emendas: é uma colagem de histórias lado a lado, piadinhas de programas de entrevista, fragmentos de anúncios, trilhas sonoras de trechos musicais, pedaços de notícias aos quais chamamos pomposamente de informação. Mesmo durante as edições provocadas pelo ‘zapear’ dos controles remotos, há algo que causa uniformidade: o ritmo incansável, um padrão de interrupções, uma pressão a favor da falta de seriedade sobre qualquer coisa. A textura da tela é difícil de descrever, pois nos remete ao real e ao irreal, presente e ausente, descartável e essencial, emocional e anestesiante.
Na orelha do livro, o professor e pesquisador Dênis de Moraes da UFRJ aponta a urgência da reflexão sobre o assunto, ao que chama de conseqüências socioculturais dessa enxurrada de emoções e sentimentos descartáveis, que transforma os desavisados em reféns dos encantamentos disseminados em série por telas e monitores.
Todd Gitlin é professor de cultura, jornalismo e sociologia da Universidade de Nova York, Autor de outros oito livros, ele é colaborador de algumas das principais publicações americanas, além de ser um dos editores do site www.openDemocracy.net.