CULTURA

O chacal de Porto Alegre

César Fraga / Publicado em 17 de março de 2004

A trajetória de Antonio Expedito Carvalho Perera, contada no livro-reportagem O homem que morreu três vezes (Record, 328 páginas), do jornalista fluminense Fernando Molica, não coube no formato de TV, veículo em que o autor é repórter. A história virou livro. De acordo com o próprio Molica, nem mesmo neste formato pretende ser a biografia definitiva de seu personagem principal, mas uma reportagem, sujeita a correções a partir de novas apurações que venham a ser feitas. De fato, parece inverossímil que um ardiloso jovem advogado gaúcho, de Porto Alegre, em uma década passe da condição de dedo-duro da ditadura militar – Antonio resolveu delatar seus desafetos como comunistas ao regime militar – à condição de um terrorista procurado internacionalmente, tendo ligações inclusive com Carlos, o Chacal. Depois de informante dos militares, em São Paulo, protagonizou um episódio em que ele próprio era acusado de subversivo e saiu tanto do pau-de-arara como da prisão sem acusar um único nome verdadeiro ou fictício aos seus torturadores. Então, como herói da contra-revolução foi para o Chile, França, Argélia, Beirute – até onde se sabe -, assumindo tanto a condição de playboy como a de terrorista internacional. Como em um romance de espionagem, ele viajava de primeira classe, comia em bons restaurantes, mas paralelamente fornecia armas para os atentados encabeçados por Chacal – um dos nomes mais procurados pelos serviços secretos de diversos países e pela Interpol nas décadas de 1970 e 1980. Eis que, de repente, reapareceu na Itália, ou melhor, desapareceu, só que desta vez utilizando um novo nome, Paulo Parra, como médico em uma pequena cidade italiana, na qual teria vivido como um pai de família até 1996. Aí seria o fim da linha, não fosse a série de fatos, documentos e depoimentos que reconstituem boa parte da vida desse curioso personagem, que mais parece ter saído da imaginação de um roteirista criativo do que de uma reportagem.

Fernando Molica tem 43 anos e, além de atuar como repórter especial do Fantástico desde 1996, é diretor da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo. Em 2002, lançou Notícias do Mirandão.

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