CULTURA

Roa Bastos vive!

César Fraga / Publicado em 7 de maio de 2005

 

Faleceu nRoao último dia 26 de abril o escritor paraguaio Augusto Roa Bastos, em Assunção, aos 87 anos. Ele estava internado depois de sofrer uma queda acidental em sua residência, causando-lhe u
m coágulo no cérebro. Essa lesão motivou a decisão dos médicos de submetê-lo a uma intervenção cirúrgica. Não resistiu.

Em 1989, recebeu o Prêmio Cervantes, um dos mais importantes prêmios literários do mundo. Mesmo assim, permanece um desconhecido do público brasileiro. “A arte sempre teve um centro de gravidade humanístico. Ainda que não esteja sustentada em uma visão ética nem docente, a arte sempre salva o que está condenado no homem; a guerra é um suicídio coletivo.” A declaração do escritor foi dada ao Extra Classe em junho de 2002, enfocando o lançamento de O livro guerra grande (Record) – a obra expõe óticas de quatro autores sobre a guerra do Paraguai – em co-autoria com Eric Nepomuceno, Alejandro Maciel e Omar Prego. Seus outros livros publicados no Brasil são Contravida (Ediouro), Eu, o supremo (Paz e Terra) e Vigília do almirante (Mirablia).

Roa Bastos sempre escreveu grosso contra os poderosos, a quem retratou de forma impiedosa em suas obras como Eu, o supremo, a mais conhecida. Teve sua vida marcada pela ditadura e pelo exílio que durou 50 anos. Viveu, por força das circunstâncias, em países como Argentina, França e Espanha durante a ditadura de Alfredo Stroessner. Nacionalizou-se espanhol em 1983. No mesmo ano que foi agraciado com o Prêmio Cervantes, 1989, houve a derrubada da ditadura em seu país. Ele inspirou-se para a trama de suas obras nos abusos de poder de Stroessner a quem chamava de “Tiranossauro”. O escritor descreveu o regime como “a mais longa e desonrosa ditadura que registra a cronologia dos regimes de força em solo sul-americano”.

“Comecei a escrever no exílio; a única maneira de manter o vínculo com meu país era a literatura. Não somente minha vida, mas minha obra, estão marcadas por essa impressão lastimável do exílio. Não me queixo, ao contrário. Ao exílio devo uma infinidade de revelações. Apesar das tristezas que me causou, sem o exílio eu nunca teria sido escritor”, declarou em 1995, em Madri.

Ele também costumava dizer que havia tomado consciência do mundo em seu lugar de infância, Iturbe. Ali compreendeu que sua condição de bilíngüe, guarani (idioma para a lírica e o canto) e castelhano, marcaria a essência e a forma de sua obra: “Desse equilíbrio da cultura hispânica e guarani é de onde há de surgir a literatura paraguaia do futuro”.
O texto cotidiano
A coletânea de ensaios Gêneros textuais, tipificação e interação (Cortez Editora, 165 págs.) do lingüista norte-americano Charles Bazerman chega para oxigenar os estudos brasileiros sobre gêneros textuais. A obra organizada por Ângela Paiva Dionísio e Judith Chambliss Hoffnagell introduz uma extensa série de autores citados e posições pouco conhecidas no Brasil. O livro aborda a formatação textual típica de cada atividade social sob um tratamento renovado no que se refere à teoria, temas e me-todologia. Um dos principais conceitos diretos do olhar defendido por Bazerman é justamente o de que não se ensina um gênero textual como tal, mas sim trabalha-se com a compreensão de seu funcionamento na sociedade e na sua relação com os indivíduos situados naquela cultura e em suas instituições. Ou seja, trata-se de um lingüista que se interessa também pelos aspectos sociopolíticos envolvidos nas formas textuais típicas que comandam nossas ações diárias.

Grilo na cuca
A editora Artes e Ofícios está lançando a Coleção Grilos composta por livros infanto-juvenis que abordam temas ligados aos questio-namentos e dificuldades da adolescência. Os dramas juvenis, num passado recente, eram chamados na gíria pelo nome do inseto que dá nome à coleção, lembram? Os primeiros títulos trazem os autores Celso Gut-freind, Grilos 112 págs.); Caio Riter, Debaixo de mau tempo 112 págs.); e Luis Dill, Letras finais (112 págs.). Informações através do site da editora www.arteseofícios.com.br.

Olhar privilegiado
Porto Alegre vista do céu (167 págs. em papel cuchê), do fotógrafo Henrique Amaral, é um livro de acabamento cuidadoso e mostra ângulos da capital gaúcha pouco vistos pelos mortais terrestres. Dá uma idéia concreta do conjunto da cidade e de suas partes. Porto Alegre e seus recortes na geografia observada do alto é a mesma cidade que pisamos no chão, mas parece outra realidade. Com o distanciamento, podemos vê-la como uma textura na paisagem, como um relevo artificial sobre o solo, ou como um mapa social, se quisermos notar as diferentes nuanças entre as regiões mais nobres e as mais humildes da cidade. O livro foi financiado pela Lei de Incentivo à Cultura/Ministério da Cultura, Aero Studio, Adubos Trevo e Tomo Editorial. www.tomoeditorial.com.br

Artigos diversos
Sociologia: textos e contextos, organizado por Ottmar Teske (Editora da Ulbra, 375 págs.) é relançado em segunda edição. O livro reúne artigos de diversos autores como resultado de pesquisas e reflexões na área de atuação desses docentes. Pretende abrir caminho para um debate acadêmico entre professores e alunos, para uma melhor compreensão do ser humano e, principalmente, da sociedade na qual está inserido. Confira no site da editora: www.editoradaulbra.com.br

 

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