Um mergulho sem medo no cotidiano das universidades, com tramas de sexo, jogos de poder, traições, nem sempre nessa ordem, costuram a narrativa vigorosa de Professores (Record, 494 páginas), terceiro livro de ficção do cineasta de Verdes anos e Tolerância, professor universitário e escritor Carlos Gerbase – que ele próprio define nesta entrevista como “um romance à moda antiga”.
Extra Classe – Qual a sua motivação para escrever uma trama de sexo e poder envolvendo professores?
Carlos Gerbase – Acho que os ambientes em que os escritores vivem e trabalham são bons temas para romances, ou contos, por dois motivos básicos: (1) o escritor conhece intimamente fatos, pessoas ou conflitos que podem fazer parte da trama. Mesmo que a obra seja de ficção, a maneira com que ela retrata a realidade, em questões importantes como verossimilhança e profundidade, dependem muito desse conhecimento prévio do tema. Assim, é natural que, depois de quase 25 anos dando aula na universidade, eu conheça um pouco desse universo e possa falar dele com alguma segurança; (2) sempre usei a literatura como uma forma pessoal de refletir sobre o “meu” mundo (além de divertir o leitor, é claro, ou pelo menos não aborrecê-lo). A literatura (e as outras artes também) possui essa qualidade de botar ordem no caos, de organizar fatos e lembranças, de funcionar como uma espécie de memória seletiva da vida. Acho que isso ajuda tanto o escritor quanto o leitor. Definiria Professores como um romance à moda antiga, pelo seu volume, pela quantidade de personagens e por apresentar, misturada à trama ficcional, uma questão, digamos, “teórica”, que é a ética na vida cotidiana.
EC – Há traços autobiográficos?
Gerbase – Não há qualquer traço autobiográfico pessoal nos detalhes, ou seja, nada foi transportado diretamente da minha vida para as peripécias da trama, mas é claro que, nestes anos todos dando aula na PUCRS, na Ufrgs, em dois colégios e em dezenas de cursos e palestras eu vi ou vivi situações semelhantes, inclusive em relação à forma como os professores são tratados em seu cotidiano profissional. Pensei, sim, em atacar aquela visão romântica do professor, e de tabela aquela idealização do professor como um cara que não precisa ter um bom salário (“ensinar é a maior gratificação…”) e que não tem desejo sexual por ninguém dentro da universidade (professor é como um anjo: está castrado, mas nem liga para isso). Alguns leitores já me disseram que se identificaram com várias “figuras” do romance, principalmente as envolvidas nesses joguinhos de poder que acontecem todos os dias nos colégios e nas universidades. De certo modo, uma ficção é também uma biografia dos leitores.
EC – Você recorreu à linguagem cinematográfica em boa parte da narrativa. É o seu estilo?
Gerbase – Professores é o meu terceiro livro de ficção. Tenho dois de contos. Acho que o estilo desse romance está claramente dividido em duas metades, que se complementam, ou pelo menos essa foi a tentativa. Alguns capítulos são realmente cinematográficos, pois quando os escrevia tentava sempre ficar num registro visual e sonoro, mais “objetivo”, como se ação fosse vista (e ouvida) por uma câmera (e um microfone). E evitava sempre interpretar ou julgar o que estava acontecendo. Outros capítulos são completamente diferentes, pois a narrativa tenta reproduzir a consciência de um determinado personagem, num determinado tempo (eu imaginava o personagem pensando no que ele viveu naquele dia, ou lembrando de coisas do passado, mas motivado pelos acontecimentos do dia que está acabando). É o velho “monólogo interior”. Fui trocando de um estilo para o outro, de acordo com o plano inicial do romance, e tentando fazer essa transição acontecer suavemente.
EC – Você se diz afastado do seu universo quando não está fazendo cinema. Com a literatura também é assim?
Gerbase – Não. O cinema é um processo violento, concentrado e, na filmagem, muito rápido (são 5 ou 6 semanas), que exige concentração absoluta. Tua vida pára. Nada mais tem importância. O filme, no momento em que é filmado, realmente te afasta de todas as outras circunstâncias: afetivas, familiares, profissionais. Na literatura (pelo menos no meu processo criativo) isso não acontece. Escrevo nos intervalos das outras atividades, como se estivesse “roubando” o tempo para mim. Quase sempre (para mim) escrever é um prazer, e filmar é um trabalho duro que vai te proporcionar um grande prazer posterior, que é ver o filme pronto.
LIBERDADE x ESCRAVIDÃO
Um dos mais antigos dilemas da humanidade é o tema de As encruzilhadas do humanismo, de Castor Bartolomé Ruiz (editora Vozes, 240 páginas). A obra aponta o cerne do problema: saber e poder decidir entre a escravidão e a liberdade. Entre aceitar viver com uma subjetividade flexibilizada ou saber e poder auto-constituir-se num sujeito autônomo. Os novos tipos de escravidão sujeitam o indivíduo aos dispositivos de poder pela indução dos seus desejos. A busca de sua liberdade se encontra em saber e poder comandar sobre seus desejos. Castor M. M. Bartolomé Ruiz é doutor em Filosofia pela Universidade de Deusto, Espanha, e professor-pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Filosofia da Unisinos. Já publicou várias obras e artigos, entre os quais: Os labirintos do poder, O poder (do) simbólico e os modos de subjetivação.
METODOLOGIAS DE PESQUISA EM COMUNICAÇÃO
OLHARES, TRILHAS E PROCESSOS
Fruto do trabalho do grupo de pesquisa Processocom, a obra reúne uma coletânea de artigos produzidos com o intuito de refletir sobre a metodologia que se realiza a partir da prática investigativa de pesquisas em comunicação, incitando a formação de um pensamento crítico-construtivo. A diversidade de olhares, trilhas e processos é a marca principal desta obra, onde os autores compartilham suas experiências sobre os fazeres e os fundamentos que alicerçam as investigações em diferentes níveis de complexidade. A obra também caracteriza o desejo de solidificação de espaço conquistado pelo grupo e a busca constante de visibilidade de suas ações teórico-metodológicas.