CULTURA

A literatura conectada

Por Gilson Camargo / Publicado em 16 de agosto de 2007

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Foto: Tânia Meinerz

Foto: Tânia Meinerz

As conexões entre arte e literatura serão o centro dos debates da 12ª Jornada Nacional de Literatura de Passo Fundo, que acontece de 27 a 31 de agosto, no Circo da Cultura, campus da UPF. Nesta edição, além do I Encontro Estadual de Escritores, o evento ganhou um painel sobre o mercado cultural do livro. Na abertura da Jornada, dia 27, serão divulgados os vencedores do 5º Prêmio Passo Fundo de Literatura e da 10ª edição do Concurso Nacional de Contos Josué Guimarães, em homenagem ao jornalista e escritor sul-rio-grandense que estimulou a criação e expansão das Jornadas. A 4ª Jornadinha Nacional de Literatura, o 6oSeminário Internacional de Pesquisa em Leitura e Patrimônio, o 2º Encontro da Academia Brasileira de Letras – Revisitando os Clássicos II, além de vários cursos, completam a programação do evento.

No palco de debates, escritores brasileiros e estrangeiros analisam os desdobramentos do tema Leitura da Arte & Arte da leitura. No dia 28, José Castilho, Marcos Vilaça e o cubano Reinaldo Montero são os convidados para debater com o público Arte da leitura; Marina Colasanti, Nelson Motta e Ziraldo são alguns dos debatedores de Arte e entretenimento. No dia 29, Elisa Lucinda, André de Leones, Milton Hatoum e o polonês, inédito em língua portuguesa, Miroslaw Bujko debatem Arte e erotismo; e Affonso Romano de Sant’Anna, Lya Luft, Lúcia Bettencourt, Mariana Ianelli e Mario Sabino, Arte e transcendência. No dia 30, Arte, mídia e hipermídia será analisado pelo norte-americano Gerard Jones e os brasileiros Inimá Simões e Luiz Ruffato. A grande conferência Arte e Política será apresentada pelo italiano Carlo Ginzburg. Ferrez comparece no último dia de debates com Arte de rua, com a participação de grafiteiros sob a coordenação de Juliano Crivelo de Oliveira. Os debates têm a coordenação dos escritores Alcione Araújo, Ignácio de Loyola Brandão e Júlio Diniz.

O projeto inicial das Jornadas representou o surgimento de um movimento político-cultural de abrangência nacional. “Os tempos do arbítrio mostravam exaustão e a sociedade organizava-se na busca de uma nova alternativa de país, amparada na democracia e na justiça social”. A proposta era mudar essa realidade pela via da leitura e da formação de leitores, retirando o livro dos círculos restritos da intelectualidade e colocando-o nas mãos de milhares de leitores. Mais do que o encontro entre leitores e escritores, a Jornada é a celebração do livro, da leitura e da literatura. “Pelo diálogo entre escritores, artistas, críticos e leitores, a fruição artística será pauta para reflexões que garantam às circunstâncias de vida mais humanidade e, assim, mais justiça”, define o escritor.

Ampliando o número de leitores

Tânia Rösing, professora de Literatura da UPF, criadora e coordenadora da Jornada, ressalta a importância dos projetos envolvendo o livro e a literatura e explica a dinâmica das pré-jornadas, série de encontros que mobilizam educadores e alunos em todo o estado antes do início da Jornada.

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Foto: Tânia Meinerz

Foto: Tânia Meinerz

EC – Qual é o debate proposto pelo tema Leitura da Arte & Arte da leitura?
Desde 1981, temos como objetivo formar leitores proficientes, apreciadores de textos literários e entendedores das linguagens das diferentes manifestações culturais. Vivemos a era dos sistemas em rede e das áreas do conhecimento trabalhadas numa perspectiva interdisciplinar. Ao mesmo tempo, estamos em contato com as diferentes manifestações artísticas, o que pressupõe a formação de intérpretes dessas linguagens que, depois, se transformam em platéias qualificadas.

EC – Como se dá a relação entre arte e literatura?
As ilustrações dos livros infantis e juvenis, por exemplo, se constituem em complementos das narrativas. O que está disponível no mercado editorial são livros-arte. A publicidade usa em seus produtos uma mescla de diferentes artes, inclusive textos literários. A moda está empregando fragmentos de textos literários em peças do vestuário. Para os turistas, camisetas com reproduções de pinturas, letras de poemas, de canções, de instrumentos musicais, de fotografias, de maravilhas arquitetônicas. Esse complexo deve ser compreendido e interpretado pelo leitor crítico que é, também, em vista desses aspectos, um leitor eclético.

EC – Que atividades relativas ao livro e à literatura são proporcionadas pela Jornada?
A Jornada tem 26 anos de ações ininterruptas. Nosso envolvimento é constante com alunos, professores, bibliotecários, agentes culturais. A partir do Centro de Referência de Literatura e Multimeios – Mundo da Leitura –, desenvolvemos práticas leitoras multimidiais, atendemos alunos de diferentes faixas etárias, professores de escolas públicas e privadas, alunos do Ensino Superior, promovendo vivências de leitura mul-timidiais. Emprestamos 60 sacolas com 35 títulos em cada uma a professores para usarem esse material em suas salas de aula. Desenvolvemos vários projetos: Mundo da Leitura na Escola (acompanhamento de alunos que visitam o Mundo da Leitura e, posteriormente, vamos observar e propor ações que realizam no contexto de suas escolas). Produzimos um programa para a televisão – Mundo da Leitura na TV – cujo âncora é o Gato Gali-Leu, que é apresentado quatro vezes por semana, no Canal Futura. Produzimos também um quadro para o Jornal do Canal Futura das sextas-feiras, o Boa Leitura. É uma dica de um livro novo colocado à disposição do público no mercado editorial. Temos um grupo de contadores de histórias que atua nas práticas leitoras multimidiais, em escolas e eventos para os quais são convidados. Desenvolvemos oficinas em feiras do livro, em seminários em diferentes cidades da região e no oeste catarinense.

EC – Que aspectos diferenciam a Jornada de eventos como a Flip, por exemplo?
A Festa Literária Internacional de Parati é um evento anual sem envolvimento com escolas, alunos, professores de forma sistematizada. Tem apenas cinco anos. Destina-se a leitores já experientes. É uma grande festa direcionada a um público predominantemente de classes abastadas. A sua organização – venda de ingressos para as conferências – não garante a quem se desloca a essa bela cidade a participação em uma conferência específica. Há interesse especial por autores internacionais. É um evento sem o envolvimento permanente com escolas. Parati, por ser uma cidade diferente, de uma beleza ímpar, atrai mais turistas que desejam curtir a cidade, e não tantos leitores.

EC – Como se desenvolvem as pré-jornadas?
Nossa metodologia é a mesma desde 1981. Uma equipe de professores visita escolas em diferentes cidades e estados no semestre anterior à realização da Jornada, com o objetivo de divulgar as obras dos autores convidados que virão, propondo ações e práticas leitoras. Este ano, a preparação dos leitores teve mais uma modalidade: foi criado um Fórum on-line. Os livros estão expostos na tela e os participantes, após realizarem suas leituras, postam mensagens revelando seus posicionamentos críticos sobre as mesmas. Há um professor mediador das mensagens de cada livro em análise. Quanto ao trabalho dos professores, os seminários foram substituídos pela realização de práticas leitoras com os livros selecionados, aplicando-as não apenas em escolas, mas também em bibliotecas, salões paroquiais, centros culturais, centros comunitários.

EC – De que forma a Jornada vai debater o mercado cultural do livro?
É necessário preparar os profissionais envolvidos com a cadeia produtiva do livro com reflexões sobre as formas inovadoras de vendas no varejo, no atacado, o que tem modificado o comércio. Essas inovações precisam ser assimiladas, inclusive, pelas livrarias, que não devem vender apenas livros, mas materiais multimidiais de leitura que complementem o ato de ler. Acreditamos na continuidade do livro mesmo diante de tanta tecnologia. O que precisa ser feito é agregar valor ao processo de leitura e, conseqüentemente, ao livro. O lucro deve se concentrar na venda em quantidade, diminuindo o preço para que mais pessoas tenham acesso ao livro e a seus complementos.

 

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