O atentado a tiros contra o papa João Paulo II, ocorrido no dia 13 de maio de 1981, em meio a uma multidão de 20 mil fiéis em plena Praça de São Pedro, no Vaticano, é investigado nas 512 páginas de Bala santa, o mais recente romance do escritor português Luís Miguel Rocha. O livro foi lançado em Portugal, no dia 10 de setembro, pela Paralelo 40º, novo selo da editoraCavalo de Ferro, que no ano passado já havia emplacado outro bestseller de Rocha, O último papa. Editada em mais de 20 países, a investigação do suposto assassinato por envenenamento de Albino Luciani, o papa João Paulo I, vai virar filme em 2009. Bala santa segue na linha de thrillerreligioso ficcional. E dispara torpedos contra as estruturas da Igreja. “É uma obra de ficção… ou não”, avisa o autor já nas primeiras páginas do romance.
Uma jornalista internacional, um exmilitar português, um muçulmano que vê a Virgem Maria, um padre nada ortodoxo que trabalha sob as ordens do sumo pontífice, agentes dos serviços secretos mais influentes do mundo (KGB, Mossad, CIA, MI6) e uma infinidade de personagens obscuros protagonizam a busca de uma verdade inútil, ou que de nada serviu ao polonês Carol Wojtyla, o papa mais político da história do Vaticano. “A Igreja Católica não mudou, não vai mudar, nem pode mudar. No dia em que a Igreja se abrir para os fiéis e deixar cair velhos dogmas, alguns deles sexuais, deixa de ter razão de existir e perderá todo o seu poder”, provoca o autor em entrevista por e-mail ao Extra Classe. Rocha diz que o romance traz revelações sobre os bastidores da luta pelo poder e que a religiosidade é uma questão em segundo plano nos salões do Vaticano. “É contra isso [a perda de poder] que a Igreja luta há 2 mil anos. Eles não podiam querer saber menos de Jesus Cristo ou do que Ele defendia. Bento XVI e os papas em geral têm muito menos poder do que se pensa”, dispara.
O título do livro refere-se a um dos três projéteis de revólver que atingiram Carol Wojtyla, numa seqüência de seis disparos feitos em meio à multidão pelo turco Ali Agca. A “bala santa” é aquela que entrou pelo abdômen e circulou pelo corpo do papa, “evitando órgãos vitais, como se fosse guiada por alguém”. A carta que Irmã Lúcia escreveu a João Paulo II um mês antes, advertindo-o sobre o atentado, ganha contornos de premonição: “Nenhuma bala pode matar se essa não for a Sua vontade”, diz um trecho do texto manuscrito pela religiosa.