Ouro e barro, uma fina mistura musical, é nome do álbum que representa um balanço geral da trajetória do cantor e compositor Raul Ellwanger. “São 40 anos de carreira, é uma coleção”, define. Como compositor, Raul já frequentou as vozes de dezenas de intérpretes, entre eles Mercedes Sosa e Elis Regina.
Na capa do CD consta: Raul Ellwanger Quinteto e Convidados. “Quero cantar e agradecer / A benção que toca / Ouro, barro / Algum quinhão me cabe/ Lodo, jade / Meu violão me vale”, diz a letra da canção que dá título ao disco. Esta faixa conta com a participação de Plauto Cruz no solo de flauta, um dos ilustres convidados. Além de Plauto, também participaram Renato Borghetti, a cantora Muni e o pianista Cristóvão Bastos. Esses todos já garantiriam a qualidade do trabalho, mas o tal quinteto elencado por Raul não deixa por menos, é ótimo: Luizinho Santos (saxofones), Alexandre Rosa (clarinete), Boquinha do Trombone (no próprio), Everson Vargas (contrabaixo) e Luis Jokka (na percussão). Cada faixa das que dá forma para este Ouro e barro tem sua história, mas todas têm algo em comum, uma paixão de seu criador e intérprete. “Adoro compor, estou sempre compondo”, assume. Ele mora atualmente na Praia do Rosa, e administra uma pousada, “alugo cabanas pra surfistas”, avisa o cantor e empresário. Foto: Divulgação
RITMOS E PARCERIAS – O disco também pode ser ouvido como uma síntese de gêneros e ritmos musicais. São composições que desfilam de uma marcha-rancho até um samba na levada de um partideiro. Também há referências à bossa-nova e até mesmo um toque lusitano, como é caso de Cantora D’Alfama.
Com sua consciência política, Raul não se recusou a se engajar na resistência cultural à ditadura militar implantada no Brasil desde 1964 até o arbítrio geral, em dezembro de 1968, com a decretação do AI-5. Foi neste mesmo ano que o então jovem compositor emplacava com O Gaúcho, uma das músicas finalistas do festival da TV Excelsior, no Rio de Janeiro.
Não demorou muito para que o artista seguisse o rumo de muitos brasileiros naqueles tempos difíceis, o exílio. Uma temporada no Chile à época do governo Allende, depois morando um pouco em Montevidéu e outro tempo em Buenos Aires. Durante esses tempos fora do Brasil, Raul conheceu pessoas que valeram algumas parcerias. Esse é o caso da canção Cantiga Para Não Morrer, de um poema de Ferreira Gullar.
Fazer música a partir de poemas também marcam o novo trabalho de Raul, é o caso de O Mapa, um dos mais conhecidos de Mario Quintana, “muitos já fizeram música para ele, eu também”, justifica-se. Há ainda uma outra homenagem a Quintana, em Passarim Lindo; “Certa gente impertinente / Todos eles felizmente / Passarão, passarão / E a gente / Passarim”, lembrando um popular poema do nosso Mario. Outra parceira bacana é a dobradinha com Nelson Coelho de Castro, em Nos Lábios do Mar.
E ainda há lugar para homenagear ao centenário arquiteto Oscar Niemeyer: “Duas cumbucas chãs / Palácio em velas vãs / Espelho d’água folia cidadã”, diz a canção que leva o nome do inventor de Brasília. Por falar em cidade, a capital gaúcha não poderia ser esquecida, ela está lá, na alma do artista através da canção Dorme Porto Alegre: “Um dia eu volto pra casa / Cantar no Parque da Redenção / Te beijar, novamente te amar / Docemente te amar”, um passeio pela saudade do artista.
O disco Ouro e barro abre com a canção Bonito, que tem um lindo arranjo vocal de Pablo Trindade. A elegância e leveza acompanham Raul Ellwanger ao longo das 20 composições. Até o final, com Amanheceu: “Esteira de ouro e prata no mar / Já posso despertar meu amor / Amanheceu, amanheceu…”, indicando uma disposição de recomeçar tudo.
No clima elegante e bem acabado de Ouro e barro, o disco de Raul começa pela foto da capa ao projeto de Claudete Sieber, que é quem faz a edição de arte do Extra Classe. Mais informações pela internet, no site www.raulellwanger.com.br .