Robô Gigante, aparentemente seria mais uma banda gaúcha de rock e mais um disquinho independente. Não é. Primeiro, porque se trata de uma espécie de trabalho autoral do vocalista e compositor Marcelo Guimarães, letrista acima da média pampeana, que só peca (se é que isso pode ser considerado um pecado) pela proximidade perigosa com a sonoridade do talentoso recifense Fred Zero Quatro, do Mundo Livre S/A. Além disso, as canções, disfarçadas de rock, são sambinhas malandros que retratam a boemia etílica e juvenil, suas dores-de-cotovelo e fazem uma oportuna crônica de costumes da vida jovem-adulta da capital gaúcha. Tudo muito bem armado e arranjado, na maioria das vezes, com soluções bem mais interessantes do que as conseguidas pelo pessoal do “movimento manguebeat”, quando buscou as mesmas misturas. Uma explicação está na qualidade dos músicos gaúchos que integram o grupo: Marcelo Truda, na guitarra – uma verdadeira lenda do rock sulista, desde o Taranatiriça, nos anos 80; Flu – ex-De Falla e com sólida carreira solo – no baixo e programações; e Rick de La Torre na bateria e percussão.
O EP lançado em 2007 e que vem sendo promovido nos shows do grupo é um trabalho, antes de mais nada, bem acabado com registros em estúdios cariocas e comercializado por, no máximo, R$ 5,00. São cinco faixas mais uma escondida de bônus (esta sim um rock nãocreditado na capa). O formato é o SMD, totalmente compatível com aparelhos de CD, invenção do Ralf (o músico sertanejo) que já foi assunto no Extra Classe.
Não se deixe enganar pelas aparências nem pela capa do álbum, que pode remeter ao cenário dos roquinhos adolescentes e tolos. A arte remete ao universo pop dos quadrinhos e, apesar de bem desenhada, tem um quê de descompasso com o conteúdo. Embora seja uma boa estratégia de músicos tarimbados para atrair audiências mais jovens, pode também espantar a audiência mais madura. Mas tudo isso fica para o campo duvidoso dos conceitos e preconceitos. No mais, era isso.