CULTURA

Pessimismo com humor em frases curtas

“De qualquer forma a inocência jamais será perdoada”. dois Santos dos Santos
Por César Fraga / Publicado em 23 de outubro de 2008

Está sendo lançado neste início de outubro o mais recente livro de dois Santos dos Santos (escreve-se o dois com minúscula mesmo), Manual de anti-ajuda (Editora Nova Roma, 99 páginas).

O livro é uma coleção de 221 aforismos que navegam com humor entre a ironia e o pessimismo. O trabalho é definido pelo próprio autor como “um almanaque aleatório de humor”. Para quem não é do ramo, aforismos são aquelas sentenças que, com poucas palavras, sintetizam um princípio moral ou filosófico.

Embora Santos dos Santos recuse a definição de que os seus textos são “máximas” por entender que necessitariam possuir um lastro de ditado popular, de fato são.

Alguns exemplos: “Não existe nada pior do que a obrigação de ser feliz”; “Ah o amor, coitado! O amor é um lugar-comum, que em geral começa bem e acaba mal”.

Outra característica da abordagem de ‘dois’ é que, apesar da capacidade de síntese, nem sempre o resultado é politicamente correto ou concorda com o senso comum. O que é altamente recomendável em uma época de novidades editoriais em que os autores escrevem somente aquilo que se quer ler ou a partir de formulários de estilo e forma avalizados por ‘escolinhas de escritores’.

A propósito, o autor em questão é autodidata e profundo conhecedor de literatura e crítica literária, e o livro é daqueles que podem ser abertos em qualquer página, inclusive mais de uma vez para quem tiver dificuldade de entender de primeira.

Inicialmente, Manual de anti-ajuda contaria com desenhos de Fábio Zimbres, que por compromissos profissionais não pode participar do projeto como ilustrador. Assim, Santos resolveu ilustrar ele mesmo o trabalho.

“Não queria convidar outro artista, pois como o Zimbres participou desde início da concepção do trabalho não me senti à vontade para convidar outra pessoa. Além disso, ele e o Gelson Radaelli (artista plástico e consultor de arte do livro) participaram da seleção dos desenhos que compuseram o material que saiu editado. Eles me incentivaram muito”. (Nota do redator: Desenhos elogiados por Edgar Vasques em visita à redação do EC no momento em que este texto era redigido).

Natural de Lages, Santa Catarina, dois Santos dos Santos saiu de sua terra natal e foi morar ainda criança no interior de Estrela, no Rio Grande do Sul. Foi lá que teve seu primeiro contato com as letras nos anos 50, quando dividia sua atenção entre as histórias em quadrinhos e os clássicos da literatura da Coleção Catavento da Editora Globo.

“O pai de um colega de escola do meu irmão mais velho, que possuía uma biblioteca particular com muitos volumes, nos emprestava livros todas as semanas. Líamos e renovávamos o empréstimo sempre de dois em dois. Foi assim que conheci Dostoievski, por exemplo”.

Depois desse período o autor concluiu o Ensino Médio por meio de supletivos e cursou Direito, em que se formou, mas nunca exerceu.

As fontes de leitura também foram se diversificando e se transformaram em seus heróis da juventude: Rubem Braga, Paulo Mendes Campos, Fernando Sabino, Rachel de Queiroz, Austregésilo de Athayde, Henrique Plangette e David Nasser, então cronistas e jornalistas de estilo literário das principais revistas do país, Cruzeiro e Manchete.

“Mas foi Vidas Secas, de Graciliano Ramos, que mais me tocou”, declara.

Na década passada, dois Santos dos Santos publicou os livros de poemas: Sobre corpos e ganas, pela editora Mercado Aberto, em 1995 e Cidade Noturna, pela coleção petit poa, da SMC, em 1997.

Mais informações sobre Manual de anti-ajuda com a editora Nova Roma (51 3024 6042 / 3013 4535) ou livraria@gmail.com

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