reprodução/Divulgação Ed. Geração
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O caso é relatado e detalhado no livro-reportagem Holocausto brasileiro, de Daniela Arbex (Geração, 272 p.). A obra resgata do esquecimento um dos capítulos mais macabros da história brasileira e descreve a barbárie e a desumanidade praticadas, durante a maior parte do século 20, no maior hospício do Brasil. Ao fazê-lo, a autora traz à luz um genocídio cometido, sistematicamente, pelo Estado, com a conivência de médicos, funcionários e também da população, pois nenhuma violação dos direitos humanos mais básicos se sustenta por tanto tempo sem a omissão da sociedade. Em seu blog, o jornalista Alceu Castilho (entrevistado na edição de julho do Extra Classe) levanta uma hipótese ainda a ser investigada: “quantas pessoas indesejáveis ao regime foram enviadas a hospícios, e, ali, mortas”?
Conforme relatado no livro, no hospício, os pacientes perdiam seus nomes e suas roupas. Viviam nus, comiam ratos, bebiam água do esgoto, dormiam ao relento, eram espancados. Nas noites geladas, cobertos por trapos, morriam pelo frio, pela fome ou pela doença. Em alguns períodos, 16 pessoas morriam por dia nesse manicômio. Os cadáveres eram vendidos para faculdades de Medicina. Quando não havia comprador, os corpos eram banhados em ácido no pátio, diante dos internos.
Daniela Arbex é jornalista, atua como repórter especial da Tribuna de Minas, com atuação na área de direitos humanos. Tem mais de 20 prêmios nacionais e internacionais, entre eles o Prêmio Esso de Jornalismo.
Ouvindo conchas e desenhando com papéis e rasgos
Luciane Pires Ferreira/divulgação
Luciane Pires Ferreira/divulgação
Extra Classe − Como classificar Conchas no contexto da sua obra e no segmento infanto-juvenil? A que público se destina?
Hermes Bernardi Jr. − Prefiro não classificá-lo, mas posso assegurar que me debrucei sobre este trabalho num gesto que beira à artesania, tanto no ato criativo da palavra quanto das imagens. Como escritor, posso classificar o desejo. Lançar o olhar para personagens um tanto distantes da vida mecanicista e envolta em concreto a fim de provocar o encontro de culturas sem o ruído da fricção, através do comportamento inocente das crianças. Costumo dizer que escrevo para crianças que habitam corpos. A idade destes corpos não é uma prerrogativa quando escrevo.
EC − É possível fazer uma síntese de como se deu o processo criativo nesse trabalho?
Hermes − Um exercício da delicadeza, eu diria, visando tocar o leitor. Começou com uma frase solta a esmo em uma palestra proferida para professores. A frase ficou reverberando, buscando eco na vida cotidiana: por vezes, é preciso puxar as redes de pesca para ficar observando o mar. Dois anos depois, o medo de meu sobrinho mergulhar no mar rompeu a bolsa dessa história. Iniciou-se em março de 2012 o parto do que vinha sendo gestado lenta e delicadamente. O processo se deu no silêncio do atelier e nos percursos diários, com os materiais de trabalho esbarrando na escuta do mundo ao redor.
Hermes − Não sei se é um diferencial, mas é um exercício de deslocamento. Bem difícil, na verdade. Há que se ter uma generosa atitude ao se separar daquilo que é óbvio ao Hermes escritor, em termos de imagens da narrativa, para buscar a identidade do olhar do Hermes ilustrador. Ao me mover para este outro lugar, de onde também procuro falar, ressignifico a narrativa. Me distancio das palavras em busca de relevância à outra/às personagens. Em Conchas, a praia vira o grande personagem para o ilustrador, diferente do escritor que preferiu destacar o grupo de crianças e suas relações. O desafio é esperar que desse imbricamento nasça algo novo, uma terceira narrativa que convide o leitor a ser coautor. O ponto de partida, creio, é uma incógnita que só ganhará vida ao se confrontar com a experiência intangível do leitor.
Levitan e a vaca
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Cibercultura em debate
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