O que fazer com o aluno com déficit de atenção
Foto: Glaci Borges
O transtorno de déficit de atenção (TDAH) que afeta crianças, adolescentes e adultos é sem dúvida uma patologia típica do mundo moderno, veloz e cheio de informações, por isso tem grande incidência (de 3% a 5% das crianças em idade escolar). É um transtorno do desenvolvimento do autocontrole, caracterizado por oscilação de atenção (da dispersão à superconcentração), impulsividade e hiperatividade. Em geral são crianças agitadas, com muita sensibilidade, que as leva a apresentar reações fortes e impulsivas, baixa tolerância à frustração e sentimentos de baixa autoestima e de inadequação. Em sala de aula, exige do professor um atendimento diferenciado. Precisam de maior flexibilidade, de estímulo constante para vencer dificuldades inerentes à aprendizagem, muita paciência e dedicação. Muitas vezes exercem sobre o grupo forte liderança nem sempre orientada para os objetivos de aprendizagem.
A solução do problema é bastante complexa, portanto não é responsabilidade do professor ou da escola. É a escola que frequentemente identifica o problema e solicita à família as avaliações e providências necessárias para a confirmação do diagnóstico e tratamento. TDAH necessita ser atendido por neurologista, psicólogo, psicopedagogo, fonoaudiólogo. Por vezes, é recomendado o uso de medicação. Os pais e a escola precisam trabalhar em conjunto para que o aluno TDAH possa superar suas dificuldades de aprendizagem.
No processo de aprendizagem é de fundamental importância o vínculo afetivo que se estabelece entre o aluno e o professor. Freud nos diz que aprendemos não por interesse em saber ou em sermos bem-sucedidos profissionalmente, mas por amor a nossos pais e professores, para que estes nos considerem dignos de estima. Assim, o amor é a ferramenta mais importante para o convívio com uma criança ou adolescente com TDAH. O professor precisa exercitar a paciência, a capacidade de compreensão, achar o equilíbrio entre flexibilidade e firmeza e não desistir de seu aluno TDAH.
Adaptações curriculares, atividades que sejam prazerosas e de curta duração, diminuição de estímulos simultâneos, jogos pedagógicos que auxiliem na compreensão de regras e que exercitem a aceitação de erros, estímulo à expressão artística (pintura, desenho, música) e à prática de esportes de grupo são estratégias valiosas para facilitar o convívio em sala de aula e o rendimento escolar destes alunos. Ver o aluno TDAH como uma criança com grande potencial auxilia o professor a valorizar seus aspectos positivos: a criatividade, o entusiasmo, a iniciativa.
Procurar conhecer o aluno e comunicar-se com ele, compreender as particularidades do transtorno, apoiar os pais para que enfrentem o problema e procurem ajuda profissional é indispensável. Evitar rótulos depreciativos, procurando orientar e estimular o aluno a superar suas limitações de organização e de autocontrole, auxiliando os demais alunos no convívio com o colega TDAH é o desafio que este aluno traz para o educador e para toda a escola, pois favorecer sua aprendizagem não é tarefa para ser executada pelo professor, de forma isolada, em sala de aula.
Com sua dificuldade em acomodar-se, o portador de TDAH nos convida a crescer, a criar, a sairmos de nossa zona de conforto, a aprimorar nossos conhecimentos pedagógicos, a ampliar nossas ferramentas pessoais de relacionamento, a desenvolver o respeito às diferenças e a confiança no potencial de cada ser humano em desenvolver suas potencialidades. E o enfrentamento e superação deste desafio podem ser extremamente gratificantes para o educador.
*Graduada em Psicologia, especialista em Psicologia Social. Psicoterapeuta de crianças, adolescentes, adultos, casais e família. Integra a equipe do programa Conversa de Professor da Fundação Ecarta. www.ecarta.org.br/conversa