CULTURA

Uma realidade em nossa escola

Por Mariluce Campos de Oliveira * / Publicado em 10 de outubro de 2014

A saúde é um dos temas transversais abor­dados pelos Parâmetros Curriculares Na­cionais. Dentre os objetivos propostos está provocar no educando dos ensinos fun­damental e médio o conhecimento e o cuidado do próprio corpo e a valorização de hábitos saudáveis como um dos aspectos básicos da qualidade de vida, de forma que possa agir com responsabilidade e consciência em relação à sua saúde e à saúde coleti­va. Assim, justifica-se plenamente a implantação de um projeto no ambiente escolar que vise à conscien­tização de uma cultura doadora de órgãos e tecidos.

Escola Rainha do Brasil realiza projetos que abordam o tema doação de órgãos e tecidos

Foto: Igor Sperotto

Escola Rainha do Brasil realiza projetos que abordam o tema doação de órgãos e tecidos

Foto: Igor Sperotto

Os Projetos Doe sangue, Salve vidas e Doe Es­perança-Salve Vida, desenvolvidos pelos educandos e educadores da escola de educação básica Rainha do Brasil, de Porto Alegre, desde 2009, teve início no momento em que os estudantes mostraram in­teresse em entender os verdadeiros motivos que le­vam à falta de doadores de sangue e de medula óssea nos respectivos bancos. Essa atitude de querer sa­ber mais sobre o assunto partiu da leitura do artigo Cientistas criam sangue universal, de um jornal local.

Após a leitura e reflexão sobre o tema, vieram os questionamentos dos motivos que levam à “fa­bricação” de um tipo sanguíneo para solucionar a escassez de sangue para doação. Esse foi o ponto de partida para a elaboração dos projetos citados, pois perceberam que a necessidade de se “criar san­gue em laboratório” existe porque as pessoas não têm consciência da importância da doação, seja por falta de informação ou por questão logística. Per­cebendo o interesse sobre o assunto, instigamos os educandos a pesquisarem a realidade da captação de sangue e a demanda necessária para suprir os hospi­tais em nosso município. Logo vieram as primeiras impressões: faltava sangue por falta de doadores, de doadores de medula e por falta de informação sobre o assunto. A partir daí, buscamos estratégias para ajudar a mudar esse quadro, conscientizando que um simples gesto poderia salvar vidas. Desenvolve­mos diferentes atividades para que, além deles, mais pessoas elucidassem suas dúvidas a respeito deste assunto.

Nessa nova etapa, os educandos estruturaram uma campanha de conscientização com a criação da Press School, uma miniagência de publicidade e propaganda, responsável pela criação e impressão do material de circulação interna e externa, para divul­gação dos projetos, posteriormente distribuídos na comunidade escolar e no Parque Farroupilha.

Em 2011, ampliou-se o foco de atuação. Além de informar sobre a importância da doação de san­gue, os alunos da 7a série elaboraram campanha para cadastramento de doação de medula (projeto Doe Esperança − Doe Vida). Foi proporcionado aos educandos (da 7ª série ao ensino médio) palestra no auditório da escola sobre os mitos e verdades da do­ação e cadastramento de medula óssea, ministrado por professores da instituição e também por pro­fissionais do Hemocentro. Esclarecimentos como o voluntário para se cadastrar necessita doar apenas 5 mililitros de sangue, que a tipagem sanguínea pode revelar um HLA (antígeno) compatível e daí a sal­var uma vida, e o que para nós é um pequeno passo para alguém que necessita realizar um transplante de medula é o passo da vida foram relevantes para o processo de conscientização. E foi exatamente essa noção que passaram a disseminar junto aos seus fa­miliares e à comunidade.

Após a palestra, com a parceria firmada com o Hemocentro Porto Alegre, os fôlderes confecciona­dos pela Press School, e o dia marcado para a ação de cadastramento na escola, os educandos juntamente com educadores compareceram no Parque da Re­denção no Dia da Solidariedade (21/05) para divul­gar e conscientizar sobre a importância do cadas­tramento para doação de medula óssea.

No dia 17 de junho de 2011, tivemos a primeira ação concreta, onde educadores, funcionários, fami­liares e comunidade participaram do projeto Doe Esperança−Doe Vida com a finalidade de ampliar o cadastro de doadores de medula óssea. Nessa oca­sião, contamos com 205 voluntários que se cadas­traram. Nossos alunos tiveram participação efetiva através da recepção e preenchimento das fichas de cadastros dos doadores.

Em 2012, firmamos parceria com a Fundação Ecarta, no projeto de abrangência estadual deno­minado Cultura Doadora. Juntos procuramos con­tribuir para o despertar do exercício da cidadania, levando o exemplo do nosso trabalho e demostran­do que com ações concretas nos tornamos agentes transformadores de realidades. Hoje, essa cultura é uma realidade em nossa escola.

Em 2013, houve a doação de sangue (projeto Doe sangue, Salve vidas) em parceria com o Hemo­centro-Unidade Móvel. Nessa ação, nossos educan­dos (16 anos, acompanhados pelos responsáveis) passaram a protagonistas, tornando-se também do­adores de sangue.

Depoimento como o da aluna Betina D’Avila – “Na 7ª série percebi que seria uma doadora. Esperei quatro anos para isso” –, que doou sangue motivada pela responsabilidade e solidariedade, durante uma tarefa da Olimpíada RB-2014, é a comprovação de que é possível, sim, oportunizar momentos de ci­dadania e comprometimento, transformando nossos jovens em cidadãos conscientes e preocupados com o outro e com uma sociedade mais fraterna.

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