Os brasileiros Muniz Sodré, Carolina de Jesus, Nei Lopes, Oliveira Silveira e Sueli Carneiro, o franco-africano Frantz Omar Fanon, a nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie são alguns dos autores negros mais representativos da biblioteca temática Pedro Cunha que o Ponto de Cultura Espaço Escola de Capoeira Africanamente inaugura no dia 8 de março, em Porto Alegre (Cristóvão Colombo, 761).
O acervo inicial, de 300 títulos, reúne escritores de diversas nacionalidades identificados com a cultura negra e o antirracismo, com acesso livre para os frequentadores – foram 6 mil pessoas em 2015. O nome da biblioteca é uma referência ao ativista cultural, carnavalesco e militante negro Pedro Cunha, falecido em 2015.
FORMAÇÃO – “O racismo ainda persiste e, hoje, muito mascarado nas apropriações culturais que potencializam esses saberes nas academias ou para os possuidores de capital. Queremos que os jovens tenham acesso ao referencial positivo sobre a sua história. E referências positivas são o que a comunidade negra mais necessita. O efeito do racismo em nossa subjetividade ainda vai perdurar na autoestima do povo negro, que precisa se ver, se enxergar, se referenciar em seus iguais para estimular a produção crítica, para incentivar a leitura de material que o faça se compreender como sujeito de história, de cultura, de civilização, de contribuinte na estrutura cultural do Brasil, das Américas. Da cultura contemporânea mundial”, avalia Nina Fola, presidente do Ponto de Cultura. Ela explica que a biblioteca abre as portas para uma “fortuna crítica” que poderá ajudar em pesquisas e na formação daqueles que não tinham acesso à bibliografia especializada e técnica sobre o assunto, atender ao aluno cotista, que quer escrever sobre seu povo e não tem como adquirir livros, além de potencializar o trabalho de educadores. “Também queremos desconstruir o falso argumento de que não existiria bibliografia para introdução da Lei 10.639/2003 que torna obrigatório o ensino de História e Cultura Africana e Afro-Brasileira nas escolas de ensino fundamental e médio”, revela.
“É preciso se ver, se enxergar, se referenciar em seus iguais, se compreender como sujeito, de história, de cultura, de civilização”.
TERRITÓRIOS – “Através dos livros posso conhecer a história de meus ancestrais, ajudando assim a buscar minha identidade de mulher negra”, comemora Mariana Fagundes, 32 anos. Para o professor de capoeira Guto Obafemi, a biblioteca especializada simboliza “um ato de subversão à lógica eurocentrada que é ensinada nas escolas”. Débora Santos, 30 anos, afirma que o acesso à obra referencial de autores negros permite “preservar a memória documental da cultura e história afro-brasileira no que diz respeito a expressões culturais, religiosas e artísticas negras”.