Foto: reprodução capa
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Com parágrafos ácidos e bem-humorados em tom de farsa, Centeno retrata um país que tem um partido das mulheres sem mulheres, um deputado que discursa em defesa de um bombom, um senador que se presta a nomear uma melancia, um presidente que troca Paraguai por Portugal e confunde Noruega com Suécia.
Impossível não evocar a fala do senador Romero Jucá, líder do governo no Senado: “Se acabar o foro, é para todo mundo. Suruba é suruba. Aí é todo mundo na suruba, não uma suruba selecionada”. Embora a “suruba” de Jucá seja fato recente e integrante da coleção de grotescos políticos mencionados no livro, O País da Suruba, de Centeno, buscou como fonte de inspiração um outro pós-golpe, o de 1964, quando o jornalista Sérgio Porto, também conhecido pelo pseudônimo de Stanislaw Ponte Preta, publicou seus Febeapás, ou seja, o “Festival de Besteira que Assola o País”. Dizia Stanislaw no Febeapá 2, trecho que pode ser decalcado para os dias de hoje: “difícil ao historiador precisar o dia em que o Festival de Besteira começou a assolar o País. Pouco depois da ‘redentora’, cocorocas de diversas classes sociais e algumas autoridades que geralmente se dizem ‘otoridades’, sentindo a oportunidade de aparecer, já que a ‘redentora’, entre outras coisas, incentivou a política do dedurismo (corruptela de dedo-durismo, isto é, a arte de apontar com o dedo um colega, um vizinho, o próximo enfim, como corrupto ou subversivo — alguns apontavam dois dedos duros, para ambas as coisas), iniciaram essa feia prática, advindo da cada besteira que eu vou te contar”.
Entrevista | Ayrton Centeno
Extra Classe – Como te inspiraste para escrever sobre a suruba nacional?
Ayrton Centeno – Em primeiro lugar (risos) eu preciso destacar que essa suruba não é original. A inspiração é o Febeapá (Festival da Besteira que Assola o País 1, 2 e 3), do Sérgio Porto, que ele publicou como Stanislaw Ponte Preta entre 1964 e o AI-5, ocorrido em 1968. Isso eu cito logo no início do meu livro.
EC – Em se tratando de besteira, existem paralelos entre os pós-golpes de 1964 e de 2016?
Centeno – O que eu observo é que os golpes, sejam o de 1964 ou o de 2016, eles têm um condão de potencializar a produção da besteira. Essas figuras políticas apagadas e que vivem nas sombras, elas emergem para os cargos que lhes serão ofertados e é aí que acontecem essas cabeçadas que vemos nos noticiários. Coisas absurdas. Tem esteira de ministro, de deputado, de secretário, de senador, do presidente.
EC – E a democracia como fica?
Centeno – O mote do livro gira em torno dos ataques à democracia e a presença de um governo ilegítimo que produz mais besteira. Para o livro, colhi basicamente em 2016 e que considero bem mais farta do que a de 1964.