CULTURA

Música, transformação e liberdade

O professor e músico explica que não vê diferenças entre lecionar música ou outras disciplinas, apesar dos níveis de dedicação e exigência envolvidos
Por Gilson Camargo / Publicado em 14 de novembro de 2017
O professor e regente de canto coral André Nascimento: "a música é a minha essência"

Foto: Igor Sperotto

O professor e regente de canto coral André Nascimento: “a música é a minha essência”

Foto: Igor Sperotto

André Rogel Nascimento da Silva encontrou nas palavras do britânico Colin Durrant, autor da mais relevante literatura sobre filosofia e prática da regência, o que considera a melhor definição do propósito de quem ensina e faz música. “Como educador, quero estar onde as pessoas estão. Como músico, quero criar o melhor. Sendo ambos, músico e educador, quero liberar as pessoas para criar o melhor”, cita o professor, músico e regente gaúcho, de 43 anos, que leciona música para crianças e jovens da educação infantil ao ensino médio no Pastor Dohms e no Colégio Batista, de Porto Alegre.

Estudante de piano clássico e violoncelo, André conta que fez o seu primeiro solo aos seis anos de idade. “Venho de uma família cristã, que incentivava o aprendizado da música em casa e na comunidade. Meu pai, que era engenheiro eletrônico por formação, tocava clarinete e cantava. Minha mãe, professora, cantava melodias que marcaram a minha identidade”, revela. Os avós, tios e primos também fizeram parte da formação musical. “Cada reunião de família era um musical. A música para mim é orgânica, faço o que amo, o que me move para viver. Trabalhando ou realizando alguma atividade fora da docência, na música manifesto a minha essência em todo o momento. Atualmente, meu instrumento são as pessoas que formam os corais nos quais trabalho”, relata.

Regente de canto coral desde os 15 anos, aos 21 começou a lecionar piano e técnica vocal. Formado em 2003 em regência coral pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), foi para a Inglaterra, onde viveu por seis anos com sua família. Trabalhou como regente em escolas e preparador vocal para o governo e para a força aérea britânica. Regeu a orquestra da Marinha e foi convidado para as comemorações dos 60 anos de reinado da rainha Elizabeth, regendo o coral gospel da universidade de Chichester. Em 2012, concluiu o mestrado em Coral Studies pela mesma universidade, diploma revalidado pela Federal da Bahia. Em novembro de 2016, retornou ao Reino Unido para fazer doutorado em música.

VEÍCULO – O professor e músico explica que não vê diferenças entre lecionar música ou outras disciplinas, apesar dos níveis de dedicação e exigência envolvidos. “A atividade em si não exige do professor uma dedicação maior. Quando descobrimos a nossa função dentro da sociedade, a exigência se desfaz através da opção. Podemos ser exigentes, determinando um limite que nos permite realizar nossas responsabilidades sem preocupações. A dedicação manifesta a qualidade, a consideração e o apreço. Minha opção é pela capacidade de promover o melhor, fazendo com inteligência, conhecimento e sensibilidade”, define.

André cita três projetos musicais que considera relevantes: a Orquestra Jovem do Rio Grande do Sul, o Sol Maior, do Theatro São Pedro, e o Prelúdio, da administração do Instituto Federal do Rio Grande do Sul.

Para ele, o acesso de jovens e crianças aos instrumentos musicais, às partituras, à composição e à dinâmica do mundo da música compreendem um veículo para a transformação social e podem impactar de forma positiva ou negativa a vida das pessoas. “Não conseguimos dimensionar, mas como dizia o falecido maestro Pedro Boésio, da Orquestra da Unisinos, a música transforma e transporta as pessoas. Acredito nessa transformação e nesse transporte, no qual a música provoca emoções, sensações, modificações refletidas através das diversas personalidades do caráter humano”, conclui.

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