A poesia inédita, em francês, do gaúcho Eduardo Guimaraens
Foto: Reprodução
Há exatos 90 anos morria o poeta Eduardo Guimaraens. Nascido em Porto Alegre, em 1892, Guimaraens é considerado um dos maiores representantes da Poesia Simbolista no Brasil na linhagem de Cruz e Souza e Alphonsus Guimaraens. Para registrar esta efeméride, a Editora Libretos lançou Poemas (88 páginas). Trata-se de um livro que o autor concluiu em 1923 e que permaneceu inédito até agora.
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Quem descobriu os manuscritos originais e a capa concebida pelo autor foi uma de suas netas, Maria Etelvina Guimaraens. “Bisbilhotei na casa de minha vó e encontrei umas pastas de couro, onde estavam os originais de Poemas”, relata Maria Etelvina na apresentação do livro. Escritos em francês, 95 anos depois vêm à luz numa edição bilíngue, com traduções de Lívia Petry Jahn e Alcy Cheuiche.
“Seus versos são feitos da distância entre o desejo e a melancolia, entre a solidão e a presença da amada num devaneio, entre o sofrimento e alegria de viver”, define a tradutora Lívia Petry Jahn. O poeta Eduardo traduziu parte da obra de Dante Alighieri, o Canto V do Inferno, de A Divina Comédia, e também uma antologia de versos de Rabindranath Tagore e 83 poemas de Charles Baudelaire, do livro As Flores do Mal.
EM PORTUGAL – Em 1915, Eduardo Guimaraens e Ronald de Carvalho foram os dois brasileiros que tiveram poemas publicados no segundo número da revista Orpheu, em Portugal, organizada por um grupo que contava, entre outros, com Fernando Pessoa e Mário de Sá Carneiro. No espaço Santander Cultural (Rua Sete de Setembro, 1028), em Porto Alegre, há uma exposição em homenagem ao poeta português Fernando Pessoa pela passagem dos 130 anos de seu nascimento. E ali tem um lugar especial dedicado à vida e obra de Eduardo Guimaraens. Quando esteve em Lisboa, Maria Etelvina foi visitar a Casa de Fernando Pessoa. Lá ela descobriu que seu avô tem sua memória reverenciada. A exposição Fernando Pessoa, a minha arte é ser eu permanece aberta até 30 de dezembro.
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Filho de jornalista, que era um apaixonado pelas artes literárias, Eduardo desde cedo foi incentivado a publicar sua produção poética. O primeiro livro foi lançado quando tinha 13 anos. Sua obra mais relevante foi A Divina Quimera, publicado em 1916, que teve uma reedição pela Editora Globo, 1944, com o acréscimo de poemas e um prefácio escrito pelo amigo e também escritor, Monsueto Bernardi. Em 2002, a editora Libretos – de Rafael Guimaraens, neto do poeta – lançou Dispersos, reunião de poemas também inéditos.
Eduardo trabalhou em quase todos os jornais de sua época em Porto Alegre. Viveu um tempo no Rio de Janeiro, onde também atuou em jornais e colaborou com a revista Fon-Fon. A palavra escrita acompanhou o poeta simbolista por toda a vida. No Livro dos poemas: uma antologia de poetas brasileiros e portugueses (LP&M, 2013), Sérgio Faraco lembra que Guimaraens também escreveu um poema sobre o Prelúdio Nr. 4, uma das composições mais celebradas de Chopin: “Doce prelúdio! Que ermo e doloroso desengano/ fala, através do seu vago perfume de passado?/ Sobre Chopin a noite abre o amplo manto constelado:/ um delírio de amor anda por tudo, insone, insano!”.
Eduardo Guimaraens também foi auxiliar técnico e depois diretor da Biblioteca Pública do Estado do Rio Grande do Sul. Acometido de uma grave doença, o autor de Dispersos, voltou ao Rio de Janeiro em busca de um tratamento. Eduardo Guimaraens morreu aos 36 anos, no dia 13 de dezembro de 1928.