Orquestra de Choro de Porto Alegre
Foto: Tom Silveira: Oficina de Choro/ Divulgação
Foto: Tom Silveira: Oficina de Choro/ Divulgação
As origens do choro vêm do lundu – uma mescla entre a música de origem africana e europeia, surgida no século 19, no Rio de Janeiro. Da Europa vieram instrumentos como a flauta, bandolim, clarinete e piano. Da África chegaram junto com os escravizados os instrumentos de percussão. Com esse instrumental, o gênero choro foi evoluindo e passou a dividir com o samba a identidade da cultura nacional – com seu forte apelo libertário.
Choro, chorus, música de fazer chorar ou, como especula Câmara Cascudo, derivação de “xolo”, espécie de baile que reunia escravos nas fazendas produtoras de café. Considerado a primeira manifestação musical tipicamente urbana do país, o chorinho surgiu a partir de quadrilhas, polcas, tangos, maxixes, xotes e marchas pelas mãos do flautista e compositor Joaquim Antônio da Silva Calado, dos pianistas Ernesto Nazaré e Chiquinha Gonzaga, do maestro Anacleto de Medeiros.
Disseminado pelo território por músicos, compositores e grupos musicais dedicados ao gênero, e amplificado pela era do rádio, o chorinho arrebatou corações e mentes por décadas e segue embalando gerações. Coube a Pixinguinha consolidar o choro como gênero musical, do qual foi o maior compositor de todos os tempos e a cujos arranjos emprestou seu virtuosismo de flautista e saxofonista. Assim como o flautista Plauto Cruz (1929-2017), referência da música popular dos pampas, que reverenciou e enriqueceu esse gênero musical com seu talento de compositor e instrumentista.
LABORATÓRIO – Assim o chorinho também passa de geração em geração de músicos. Uma roda de choro é sempre sinônimo de bom público e motivo de celebração desse legado e de formação de novos talentos musicais. Em Porto Alegre, as aulas e atividades do Oficina de Choro ganharam sede nova para comemorar os 15 anos do projeto e já começaram as articulações para a criação da Orquestra de Choro de Porto Alegre (OCPA).
Criada em 2004 com a proposta de lecionar teoria e prática musical específicas desse gênero, a Oficina de Choro ocupou as dependências do Santander Cultural, no Centro Histórico da capital, durante 14 anos. Além das aulas, pesquisas de partituras e áudios que contam a história do choro, e encontros memoráveis entre professores como Luiz Machado e seus alunos, a Oficina trouxe músicos como Hamilton de Holanda, Luciana Rabello e Yamandu Costa, entre outros, para realizar masterclasses e participar como ouvintes nas audições de sábado – que se tornaram uma tradição em Porto Alegre.
Foto: Tom Silveira: Oficina de Choro/ Divulgação
Em 2018, a Oficina recebeu 400 alunos, o maior número de aprendizes nesses 14 anos de atividades e, neste ano, já são 300 inscritos. Carlos Branco, curador do Oficina desde o início, calcula que ao longo dos 14 anos em que esteve no Santander Cultural foram cerca 700 shows de chorinho. Ele seguirá como curador no Instituto Ling, que passou a patrocinar e sediar o projeto – ampliando a capacidade para 200 alunos. O projeto é similar ao Escola Portátil, do Rio de Janeiro, e ao Clube do Choro, de Brasília, destaca Branco.
O coordenador da Oficina de Choro, Mathias Pinto, adianta que entre as mudanças previstas para a casa nova estão aulas de composição, e mais instrumentos serão incluídos. Em março, será lançado o disco do Sexteto Gaúcho. Uma parceria com o Multipalco do Theatro São Pedro também amplia o espaço de atuação dos músicos da Oficina, que devem ocupar a lacuna deixada por outro projeto bem-sucedido, O Choro é Livre, que promovia apresentações do gênero no foyer do teatro. As apresentações estão previstas para começar em julho.
ORQUESTRA DE CHORO – Porém, o grande projeto que Mathias tem em mente é a criação da Orquestra de Choro de Porto Alegre (OCPA). “Vamos começar o projeto já neste primeiro semestre”, empolga-se, destacando o ineditismo da proposta. A orquestra será formada pelos alunos que a partir de agora terão mais horários de aulas, nas quintas e sábados, e mais locais para as apresentações, que incluem o Multipalco do Theatro São Pedro. É a primeira orquestra de choro na história do estado. Vamos reunir músicos de ponta, gente da Ufrgs, da Ospa, músicos profissionais e alunos da Oficina. Será um formato inovador, uma iniciativa diferente”, explica Mathias. Segundo ele, o grande desafio da Oficina de Choro para 2019 é “ampliar o espaço da música instrumental na cena cultural, formando músicos e grupos, e implementando a ideia inédita da OCPA”.
Para saber mais:
Instituto Ling