100 anos de Stockinger
Foto: Luiz Eduardo R. Achutti/Divulgação
Foto: Luiz Eduardo R. Achutti/Divulgação
E Xico Stockinger deixou um legado: suas obras encontram-se dispersas nas cidades e nos museus do país que o adotou. Nas palavras do professor e poeta Armindo Trevisan, “poucos escultores possuem um perfil tão marcante como de Xico Stockinger”.
Xico retribuiu a acolhida no Brasil com talento, determinação e coerência. Foi um dos fundadores do Atelier Livre de Porto Alegre, que hoje leva seu nome, dirigiu o Museu de Arte do Rio Grande do Sul (Margs) e foi o primeiro presidente da Associação Chico Lisboa. Saiu dessas entidades depois do Golpe Militar de 1964: “Eu não era propriamente do lado deles, fiquei às minhas custas”, disse em uma entrevista. Além disso, fez parte da história da imprensa de Porto Alegre, nos jornais A Hora e Folha da Tarde.
Em busca do brevê
A família de Xico Stockinger se instalou em uma região no interior de São Paulo, na divisa com Mato Grosso, onde se chegava apenas de trem. Foi então que nasceu uma paixão do menino Xico: sonhava em se tornar maquinista.
No início dos anos 1940, outros interesses despertaram a atenção do jovem Stockinger, a aviação. À época, Xico frequentou o Aero Clube do Brasil, no Rio de Janeiro. Durante o curso, ele precisou mudar de ideia quanto ao brevê, pois o Brasil declarou guerra aos países do Eixo, do qual a Áustria fazia parte. Ele ainda não possuía a cidadania brasileira.
Foto: Luiz Eduardo R. Achutti/Divulgação
A maior escultura
Xico foi um lutador com sua arte pela dignidade humana, antes de tudo. O último guerreiro da série de esculturas produzidas pelo artista sobre o tema, ele fez com mais de 80 anos. Trata-se de um guerreiro de ferro e madeira medindo 364 centímetros de altura. “Um guerreiro tem que ser grande”, dizia. A obra consta do acervo do Margs e foi registrada passo a passo pelo fotógrafo e professor Luiz Eduardo Robinson Achutti, que mais tarde publicou no livro A Matéria Encantada (fotos). Stockinger morreu em Porto Alegre, no dia 12 de abril de 2009, na cidade onde viveu por 55 anos.
Entre trens, aviões e arte
Entre trens e aviões, Xico Stockinger realmente queria era ser artista, um escultor. Depois de algum tempo, seguiu estudando com um de seus mestres, Bruno Giorgi, que ministrava um curso de escultura no Rio de Janeiro. Após três anos, Giorgi foi para São Paulo. No Rio, Xico dividiu um ateliê com o artista, e mais tarde ator, Cláudio Correa e Castro. Esse ateliê ficava no segundo andar de uma casa onde, na parte debaixo, estavam os ateliês de Di Cavalcanti e Aldo Malagoli. “Aos 26 anos, resolvo ser escultor, numa época em que ninguém vendia. Fazia-se por amor à arte”, Stockinger recordaria tempos depois.
Em 1948, ele participou de sua primeira exposição no 53° Salão Nacional de Belas Artes, no qual expôs duas pequenas esculturas. Também nestes primeiros tempos de sua carreira, conheceu Yeda Teixeira de Oliveira, uma gaúcha de Rio Pardo que estudava Museologia na então capital federal, Rio de Janeiro. E entre os anos de 1950 e 1951, nasceram seus dois filhos, Jussara Maria e Francisco Antônio.
Foi nesse tempo que Stockinger precisou recorrer a outras formas de expressão, começou a revelar o talento de chargista e diagramador. A proximidade com as artes gráficas foi um modo de sustento para ele. O Cangaceiro foi um desses veículos, depois veio o Diário Carioca. Um dia, na redação do Diário, encontrou-se com um artista gaúcho que trabalhava no novo jornal de Porto Alegre, Vitório Gheno. Xico sondou sobre a possibilidade de emprego e veio trabalhar no A Hora, que reformulou o jornalismo gaúcho.
O professor de escultura do Atelier Livre de Porto Alegre Xico Stockinger José Francisco Alves escreve: “A mais importante contribuição de Stockinger para escultura brasileira do século XX foi a técnica escultórica que criou, em 1964, totalmente única: que assim o caracteriza na história da arte: a construção de seres – antromórficos ou zoomórficos – com troncos de madeira e peças de ferro soldado. (…) Stockinger plasmou uma figuração específica de cunho predominantemente político, resultado de suas preocupações como artista que pretendia com seu trabalho passar uma imagem de protesto”.
Foi uma iniciativa de Alves dar o nome de Xico para o Atelier Livre, assim como a oficialização de 7 de agosto, data do nascimento do artista, como o Dia do Escultor Gaúcho. José Francisco Alves é o autor de Stockinger – Vida e Obra (MultiArte, 2012).