Humor perde o cartunista Tacho
Foto: Tacho Charges/ Reprodução
O chargista, cartunista, diagramador e artista plástico Gilmar Luiz Tatsch, Tacho, morreu nesta terça-feira, 9, aos 61 anos, em decorrência de um câncer hepático. Com mais de quatro décadas de carreira na imprensa gaúcha, Tacho publicava charges nos jornais do Grupo Editorial Sinos e no jornal Correio do Povo. No final de 2016, lançou o livro Almanaque do Tacho, em comemoração aos 40 anos de humor gráfico.
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Em 2020, ele recebeu o primeiro lugar na categoria Charge do Prêmio ARI/Banrisul de Jornalismo, com Militares na Saúde, publicada no jornal ABC. Era um dos profissionais de imprensa mais premiados do estado.
Imagem: Reprodução
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A essência do cartum
Para o desenhista Edgar Vasques, o trabalho do Tacho exercita a condição do cartum e da charge: “o desenho conciso, sem enfeite ou distração dispersiva, apoiando o achado surpreendente, preciso na graça e na crítica”.
O cartunista Allan Sieber disse que o admirava pela forma como resolvia as questões gráficas. “Muitas vezes ele salvava um desenho pueril com uma ideia arrebatadora”, completa o chargista Augusto Bier.
Para o jornalista e humorista Fraga, colunista do Extra Classe, Tacho formava com Santiago e Bier a “trindade” do humor com referências gauchescas. “Sua linha clara e seus bonecos de um estilo muito próprio estavam a serviço de um humor sutil e elegante, porém, duro e enérgico com os desmandos da política e da sociedade. Eram deliciosos os seus gauchinhos gordinhos e bonachões em diálogos espontâneos nos mostrando a visão interiorana dos fatos”, completa Santiago.
Leia a seguir:
“Embora o Tacho não estivesse sempre visível para mim, cada vez que via uma nova charge dele vinha a constatação óbvia: impossível não admirar o Tacho. Traço e graça originais, o Tacho era um chargista não-truculento: pegava fatos rudes, duros, e até dolorosos, e nos devolvia uma interpretação suave, até delicada, era uma caneta branda mas, à sua maneira, contundente. Outra coisa admirável é que o Tacho nunca deixou de incluir referências gauchescas nos desenhos. Assim formava, com o Santiago e o Bier, a engraçada trindade do filão regional. E pela simplicidade do traço e das abordagens graciosas, se aproximava do Canini e do Rafael Corrêa na eficiência divertida. Quer dizer, seu baita talento nunca esteve sozinho. E devia ter milhares de fãs pelos jornais onde publicava e só eu não acompanhava tão de perto. Como admirador à distância, fiquei devendo admiração e convívio ao Tacho. Palmas póstumas a ele.”
Fraga, jornalista e humorista
“Tacho era um querido, com humor à flor da pele. Ficar perto dele era riso sempre. Além de ter uma genialidade singular, muitas vezes salvava um desenho pueril com uma ideia arrebatadora. Quando ele entrava num concurso de humor, era parada dura: sempre levava um prêmio. Não se pode esquecer que o Tacho também era um trocadilhista respeitável. O jornal NH, de Novo Hamburgo, tinha os dois: cartunista e frasista, ambos implacáveis. Aqui no Correio do Povo, era só charge editorial mesmo.”
Augusto Bier, jornalista, chargista
“Aquilo que chamamos verve, presença de espírito, (o que os ingleses chamam de “wit”), era a característica do trabalho do Tacho. Havia nas suas charges sempre uma ideia surpreendente, um jogo de palavras irônico, veiculados num desenho simples, mas eficiente do ponto de vista da comunicação da ideia. Sua linha clara e seus bonecos de um estilo muito próprio estavam a serviço de um humor sutil e elegante, porém, duro e enérgico com os desmandos da política e da sociedade. Eram deliciosos os seus gauchinhos gordinhos e bonachões em diálogos espontâneos nos mostrando a visão interiorana dos fatos. Lembro sempre da cena divertida de um gauchinho que reclamava que não havia vanerão no Rock’n Rio (hahahaha!)! Além das suas charges havia também seu belo trabalho com projetos gráficos para jornais, sua obra como humorista de texto e alguns micropoemas. E sobretudo o Tacho era uma cara muito legal, sensato, afável, humilde e discreto – um baita cara! Quando o seu jornal Correio do Povo aderiu ao bolsonarismo cancelamos nossa assinatura e senti muita falta pela manhã da charge diária do Tacho!”
Neltair Rebés Abreu, Santiago
“O trabalho do Tacho ilustra perfeitamente (sem trocadilho) a condição do cartum e da charge: o desenho pode ser simples, suficiente para veicular a ideia humorística, a verve capaz de “achar” a relação inusitada dos fatos que faz a piada. Tacho era um mestre nessa construção: o desenho conciso, sem enfeite ou distração dispersiva, apoiando o achado surpreendente, preciso na graça e na crítica. O que é raro. Perda pesada, e tragicamente precoce.”
Edgar Vasques
“Traço leve e despretensioso e piadas elegantes com posicionamento político definido. Vai fazer muita falta, pois era uma das referências de vários jovens chargistas. Ainda mais nos dias de hoje em que alguns assuntos só podem ser abordados/permitidos na imprensa através da charge. Todos nós perdemos um pouco com a sua partida prematura. Entra para a história do humor gráfico de imprensa com a cabeça erguida. Minhas condolências a todos que tiveram o prazer de conhece-lo pessoalmente em especial à sua família”.
Eduardo Oliveira, ilustrador
“Como não ficar triste quando a vida nos impõe a perda de alguém cuja maior missão era nos fazer sorrir? Hoje perdemos Tacho, um dos cartunistas mais genais do Brasil. Com seu traço simples e humor crítico contundente, o seu trabalho era uma pílula de irreverência que nos acostumamos a ver diariamente nas páginas dos jornais. Vai em paz, Tacho. Tua obra nos fará falta.”
Secretaria de Cultura de Novo Hamburgo